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BC tem histórico de manter uma economia balanceada, diz Meirelles

O presidente do BC, porém, não confirma se haverá maior vigor na política monetária para manter o crescimento em ritmo sustentável

Por Luciana Xavier e da Agência Estado
Atualização:

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse na quinta-feira, 20, à Agência Estado que o BC tem os instrumentos para manter uma economia balanceada ao ser questionado se é sustentável o Brasil crescer perto de 10%. De acordo com o novo Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), a economia cresceu 9,85% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período de 2009. "Certamente o Banco Central tem os instrumentos, está comprometido, tem o histórico de manter uma economia balanceada e vai fazê-lo", afirmou durante jantar de gala promovido no hotel Waldorf Astoria, em Nova York, no qual Meirelles recebeu o prêmio Personalidade do Ano 2010 da Câmara de Comércio Brasil-EUA.

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Meirelles não respondeu, no entanto, se isso significaria mais vigor na política monetária, cujo ciclo de aperto foi iniciado na última reunião. "Vamos aguardar", respondeu Meirelles antes de prosseguir com a sessão de fotos com vários convidados que se aproximavam para cumprimentá-lo.

No último encontro, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu elevar a Selic em 0,75 ponto porcentual, de 8,75% para 9,50% ao ano, após quase 10 meses sem mexer na taxa básica e 19 meses sem subir o juro. O próximo encontro do Copom será nos dias 8 e 9 de junho.

Vários economistas têm criticado o ritmo acelerado da economia, um sinal claro de superaquecimento, segundo eles. A última edição da revista The Economist traz reportagem com o título "Brasil voa alto demais para se manter seguro". "Ainda que esteja crescendo em velocidade chinesa, o Brasil não é a China", diz a revista, ressaltando, no entanto, que esse ritmo de crescimento está no timing perfeito para as eleições presidenciais. A revista diz ainda que o fato de o BC ter aumentado os juros na última reunião é sinal de que "as autoridades começam a se preocupar" com a inflação e avalia que "tudo indica que nos últimos seis meses a economia cresceu a uma taxa anualizada acima de 10%". 

"Próximo desafio é eliminar gargalos"

Meirelles também afirmou que o próximo desafio do País é aumentar a produtividade eliminando os gargalos da economia para que o País possa crescer de modo sustentável. "Por essa razão, é importante manter o Programa de Aceleração do Crescimento, com foco em infraestrutura, como energia e transporte, bem como no capital humano, com indispensável melhoria na educação."

O presidente do BC voltou a citar como o Brasil conseguiu passar no teste da mais recente crise global, o que mostrou o novo poder econômico do País, ao contrário do que ocorria em outras crises. Segundo ele, o crescimento do País está hoje baseado em emprego e renda, expansão do crédito e aumento da produção. "Todos esses avanços são resultado dos esforços feitos para atacar as principais vulnerabilidades da nossa economia". Meirelles falou da "continuidade" das políticas econômicas, embora sem falar diretamente do próximo governo. "Hoje no Brasil há apoio popular e político à estabilidade econômica e, em particular, à inflação baixa e estável", discursou.

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Meirelles disse que, nos últimos anos, em viagens internacionais, sempre ouvia a frase de que o Brasil era "o país do futuro". "Estou muito feliz em estar diante de vocês hoje e dizer que, de um país do futuro, o Brasil se tornou um país futurista, mostrando a saída da pobreza para um modelo de crescimento sustentável com justiça social e liberdade política", afirmou a uma plateia lotada de personalidades. Entre elas, a pré-candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, o presidente do Senado, José Sarney, o presidente da Câmara, Michel Temer, e o presidente da Petrobrás, Sérgio Gabrielli, que recebeu a premiação no ano passado, além do ex-ministro da Fazenda e atualmente deputado federal Antonio Palocci (PT-SP) e da ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy.

O presidente do BC disse que o País adotou uma rigorosa reforma fiscal e monetária que trouxe benefícios ao País e, "como resultado, os prêmios de risco foram reduzidos, levando a taxas de juros reais mais baixas". Na base do sucesso econômico, segundo ele, estão uma política fiscal de superávit primário consistente com câmbio flutuante e maior acúmulo de reservas que resultaram em juros reais mais baixos e possibilitaram a redução da relação da dívida/PIB do País.

Aos 65 anos, Meirelles fez carreira no BankBoston, do qual se tornou presidente mundial. Em 2002, foi eleito deputado pelo PSDB de Goiás, deixando o cargo em 2003 para assumir o Banco Central. Meirelles disse que o prêmio é o reconhecimento pelo trabalho do Banco Central e do forte desempenho da economia brasileira. Em seu discurso, citou Dilma Rousseff: "Tenho de agradecer a meus colegas no governo, particularmente à ex-ministra Dilma Rousseff por seu apoio pessoal e funcional durante os últimos anos. Sua liderança no gabinete foi um fator-chave para o desempenho do País".

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Agradeceu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva "não apenas pela tão discutida autonomia do Banco Central, que deu condições plenas para que o BC pudesse cumprir sua missão, como pelo apoio inabalável nos momentos de dificuldade", além do seu voto pessoal de confiança. "O presidente Lula é o responsável final pelo sucesso brasileiro", completou.

Lula enviou uma carta que foi lida pelo embaixador brasileiro Mauro Vieira, elogiando a atuação de Meirelles no comando do BC. "Durante sua gestão no Banco Central, o País vem estruturando um dos maiores patrimônios construídos pela sociedade brasileira nos últimos anos: a estabilidade econômica, condição necessária para o crescimento sustentado, a criação de empregos e a justiça social", disse Lula na mensagem.

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