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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|BC tenta vencer batalha das expectativas

Mesmo com alta dos juros, analistas continuam projetando taxas de inflação para 2013 e 2014 muito acima do centro da meta, de 4,5%

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Atualização:

O Banco Central subirá provavelmente a taxa Selic pela terceira reunião consecutiva do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para terça-feira e quarta-feira, mas seguirá perdendo a batalha pelo controle das expectativas inflacionárias, em razão da desconfiança com a política fiscal do governo e também da descrença em relação à eficácia da política monetária, dizem economistas.

"Mesmo subindo os juros até 9,25%, por exemplo, o BC não conseguirá ancorar as expectativas inflacionárias para próximo da meta", diz Fernando Genta, economista-chefe da MCM Consultores. "Apesar de um ciclo total de aperto monetário de 2 pontos porcentuais, como o que esperamos, as expectativas de inflação deverão ficar entre 5,5% e 5,8%."

Na percepção de vários analistas, o objetivo da política monetária neste momento não é mais trazer as expectativas inflacionárias de volta ao centro da meta de 4,5%, mas impedir que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) supere o teto da meta, de 6,5%.

Para fazer a inflação convergir para o centro da meta, o BC teria de promover um aperto bem mais forte dos juros, o que poderia afetar negativamente o já baixo crescimento da economia. Por outro lado, a desvalorização do real deve pressionar mais os índices de preços.

Diante do dilema de controlar a inflação e minimizar o impacto sobre o crescimento, os analistas não creem que o BC vá acelerar o ritmo de aperto monetário. "E, em 2014, o Banco Central terá uma tarefa inglória devido ao calendário eleitoral," ressalta Genta. "Não há como dissociar mais a politização da política monetária."

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De 91 instituições pesquisadas pelo serviço AE Projeções, do Broadcast, analistas de 88 delas preveem uma alta de 0,50 ponto da taxa Selic na reunião do Copom deste mês e apenas três instituições esperam uma alta maior, de 0,75 ponto. Para o final de 2013, num levantamento com 86 instituições, as estimativas para juro vão de 8,75% a 10,25%, com a mediana em 9,25%. Para o final de 2014, a Selic estimada vai de 8% a 12%, com mediana de 9,5%.

Poder de fogo.

O comportamento das projeções para o IPCA desde que o BC deu início ao ciclo atual de alta de juros reflete a perda do poder de fogo da política monetária em meio ao mau humor de analistas e investidores em relação à dinâmica dos gastos do governo e da política econômica em geral.

Isso porque, segundo os analistas, uma política fiscal mais frouxa acaba neutralizando o efeito da alta de juros na contenção da demanda e, por tabela, nos reajustes de preços de bens e serviços.

No boletim Focus divulgado pelo BC imediatamente antes da elevação da taxa Selic em 0,25 ponto no dia 17 de abril, os analistas esperavam um IPCA de 5,68% para 2013 e de 5,7% em 2014. No dia 29 de maio, o Copom surpreendeu o mercado subindo os juros em 0,5 ponto, mais do que o esperado, e mesmo assim as projeções para o IPCA seguiram piorando. No mais recente boletim Focus, a estimativa para a inflação subiu para 5,87% em 2013 e para 5,88% em 2014.

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"Há duas forças opostas neste momento: de um lado, a alta dos juros e, do outro, a desaceleração da economia", diz Carlos Kawall, economista-chefe do banco J. Safra. Para ele, o trabalho do BC está mais difícil por conta da perda de confiança com a política econômica e, em particular, a falta de apoio por parte da política fiscal. Ele projeta expectativas inflacionárias ao redor de 6%, mesmo prevendo uma taxa Selic a 9,5% ao final do ciclo de aperto monetário.

Por outro lado, destacou Kawall, há indícios de que a atividade econômica iniciou o terceiro trimestre sofrendo com um grau de confiança mais baixo dos empresários e dos consumidores. Para agravar, o cenário externo adverso, com a retirada dos estímulos monetários pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) aumenta o estresse, com valorização maior do dólar diante de outras moedas, e gera um aperto das condições financeiras para a maioria dos países.

"Só que isso no Brasil está ocorrendo numa maior magnitude do que em outros lugares, mostrando preocupação maior com a credibilidade da política econômica e a deterioração das contas públicas", diz Kawall. "Isso explica o fato de o BC estar subindo a Selic, além de ter surpreendido o mercado na última reunião do Copom, e de os juros de longo prazo estarem subindo ainda mais, tornando-se um indicador de percepção de aumento de risco macroeconômico do Brasil", diz

"Um aumento da Selic para 10% ou 11% provavelmente teria um efeito positivo sobre as expectativas de inflação do mercado, e poderia levar a uma redução das taxas (de juros) mais longas", diz o economista-chefe para Brasil do Deutsche Bank, José Carlos Faria. Ele ainda prevê uma Selic de 9,25% ao final do ciclo de aperto monetário. "Como as taxas de juros reais brasileiras caíram abaixo do que consideramos ser a taxa real neutra - por volta de 4% -, existe o risco de que o BC tenha de elevar a Selic para algo em torno de 10%, sobretudo se a taxa de câmbio continuar depreciando."

Na opinião de Faria, o aumento das taxas de juros de longo prazo tende a encarecer o capital e reduzir o crescimento da economia. "Uma elevação ainda maior das taxas de juros dos títulos do Tesouro americano devido às expectativas de reversão do relaxamento quantitativo poderia levar a um aumento das taxas mais longas aqui. Por outro lado, algum anúncio crível de mudança para uma política fiscal doméstica mais austera poderia ter o efeito inverso, reduzindo as taxas longas."

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Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

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