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BC vai manter taxas de juros, prevêem analistas

A inflação em alta em 2001 e a perspectiva de que os índices se mantenham sob pressão no próximo ano são os motivos apontados pelos analistas para a manutenção da taxa Selic em 19% ao ano. O dólar pode continuar oscilando, já que há muitas incertezas no cenário externo.

Por Agencia Estado
Atualização:

O otimismo que tomou conta do mercado nas últimas semanas não deve ser suficiente para o Comitê de Política Monetária (Copom) cortar os juros na reunião que ocorre amanhã e quarta-feira. Para os analistas, as pressões sobre a inflação e as incertezas no cenário externo tendem a levar a instituição a manter os juros em 19% ao ano, mesmo depois de o dólar ter recuado 6,33% em novembro. O economista-chefe do HSBC Investment Bank, Alexandre Bassoli, destaca o comportamento da inflação como o principal fator que deve impedir a queda da Selic, a taxa básica de juros da economia. Ele lembra que os índices de preços divulgados nas últimas semanas surpreenderam negativamente. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de outubro, por exemplo, ficou em 0,83%, acima do resultado esperado pelos analistas, que era de 0,65%. Com o resultado de outubro, a inflação acumulada no ano é 6,22%, superando o teto da meta inflacionária deste ano, definido em 6%. O repasse da desvalorização para os preços foi responsável por 0,55 ponto porcentual do IPCA de outubro. A primeira prévia do Índice Geral dos Preços do Mercado (IGPM), da Fundação Getúlio Vargas, de novembro atingiu 0,78%, também acima da expectativa dos analistas. Mas não é só a inflação deste ano que deve levar o Copom a manter a Selic inalterada. Bassoli lembra ainda que a expectativa do mercado para o IPCA de 2002 também está bem acima da meta definida para o ano que vem, de 3,5%, com margem de erro de dois pontos porcentuais, para mais ou para menos. "Desde o atentado aos Estados Unidos, em 11 de setembro, o consenso do mercado para esse número subiu de 4,5% para 5,11%", afirma. Incertezas exigem conservadorismo do BC O economista Roberto Padovani, da Tendências Consultoria Integrada, também aposta que o Copom não vai mexer nos juros, por acreditar que o principal foco do BC é o comportamento da inflação. Para ele, se o Copom reduzir a Selic agora, num ano em que a inflação pode atingir 7%, acima do teto da meta inflacionária, a credibilidade da autoridade monetária seria arranhada. O cenário externo também recomenda cautela, como afirma o economista-chefe da Crédit Lyonnais Securities Asia, Dalton Gardimam. Para ele, a Argentina ainda inspira cuidados. Gardimam acredita que ainda haverá muita turbulência no país vizinho. O economista entende que a Argentina vai acabar desvalorizando a moeda, um evento que pode pressionar o câmbio por aqui. Além disso, há muitas incertezas em relação ao ritmo da recuperação da economia norte-americana. Nesse cenário, Gardimam acredita que dificilmente o dólar cairá abaixo de R$ 2,50, devendo até mesmo voltar a se valorizar até o fim do ano, atingindo R$ 2,75. E um câmbio pressionado tem impacto sobre os preços, lembra Gardimam. Perspectivas para o dólar e atividade econômica A maior parte dos analistas ainda projeta que o dólar encerrará o ano num nível acima do registrado nos últimos dias, entre R$ 2,50 e R$ 2,55. A Tendências acredita que a moeda deve ficar entre R$ 2,60 e R$ 2,65 no fim do ano, enquanto o HSBC aposta em R$ 2,70. O Crédit Suisse First Boston (CSFB) Garantia projeta um dólar ainda mais alto: R$ 2,80. Mas o próprio CSFB Garantia não descarta que, se a moeda continuar a se apreciar para um nível próximo a R$ 2,50, o BC pode promover um corte de juros. "A questão é que o BC corre o risco de haver logo adiante um novo ciclo de depreciação cambial e ser acusado de pouco conservadorismo na gestão da política monetária", afirma o banco em seu mais recente relatório. Com a desaceleração do nível de atividade, a inflação deve ficar livre das pressões de demanda. Mas há quem diga que um corte dos juros agora pode impulsionar a economia com mais força do que o desejado e prejudicar o desempenho da balança comercial em 2002. O economista-chefe do BankBoston, José Antônio Pena, lembra que os superávits - exportações maiorwa que importações - de US$ 5 bilhões a US$ 10 bilhões que os analistas passaram a projetar para o ano que vem têm como pressupostos um câmbio depreciado e um nível de atividade razoavelmente deprimido. Bassoli entende que ainda que a desaceleração parou de se aprofundar. Para ele, a queda dos juros de longo prazo ocorrida neste mês já deve estimular um pouco a economia, uma vez que é com base nessas taxas que são tomadas decisões de consumo e investimento. E quando os juros voltam a cair? Para Pena, isso deverá ocorrer a partir do ano que vem. Segundo ele, o BC precisa ter certeza de que a inflação começou a cair. Além disso, é possível que no começo de 2002 a situação da Argentina já esteja mais clara, assim como tende a ser mais fácil saber quando vai ocorrer a recuperação da economia norte-americana. Pena diz ainda que é provável que até o começo do ano a balança comercial vai registrar superávits comerciais expressivos durante vários meses, confirmando a expectativa do mercado. Gardimam aposta no primeiro trimestre. Mas, se o dólar continuar comportado, não se pode descartar que o Copom reduza as taxas em dezembro, afirmam os analistas.

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