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BCs: não é hora de economizar

Por Alberto Tamer
Atualização:

Os presidentes dos bancos centrais reunidos nos Estados Unidos reafirmaram que a recessão global está perto do fim e, mais uma vez, alertaram contra o otimismo prematuro. "O Fed (banco central americano) não está preparado para jogar confete ao primeiro sinal de crescimento", afirmou Bernanke. "É cedo para tirar os trilhões de dólares injetados na economia e o apoio dos bancos centrais. Falta muito para que a economia se autossustente", acrescentou. Seus colegas confirmam essa tese. E é exatamente isso que Meirelles vem dizendo no Brasil, apesar de um certo clima que vai além do alívio e beira a euforia. Há muitos riscos a enfrentar, mesmo que a economia volte a crescer. E QUANDO O GOVERNO SAIR? Mas por que insistem tanto nessa cautela, mesmo admitindo que o pior passou e que, como disse Bernanke, "o colapso possível do sistema financeiro global foi evitado?" A principal preocupação no momento não é mais com a recessão, mas o que poderá acontecer quando os governos, principalmente Estados Unidos e China, tiverem de retirar ou pelo menos reduzir o estímulo aos investimentos, ao consumo e, nos casos americano e europeu, ao socorro aos bancos? Estima-se que foi bem mais de US$ 10 trilhões, se somarmos o aporte de recursos aos grandes bancos, a salvação da indústria automobilística, a boia lançada aos mutuários com hipotecas atrasadas. Ainda agora, foram US$ 3 bilhões em algumas semanas, com o governo americano dando até US$ 5 mil para quem vendesse o carro velho e comprasse um novo menos poluidor. Isso é apenas uma gota do que já injetou no mercado interno. Essa intervenção dos governos que salvou a economia deixará uma herança pesada que pode ser enfrentada mais adiante, sim, mas não aumentada indefinidamente, dão a entender os presidentes dos BCs . Há ainda espaço para mais ajuda, como vimos na penúltima coluna, mas há um limite também. MAIS GOVERNO AINDA É por essa razão que ninguém propôs na reunião dos BCs que sejam retirados os subsídios ao crescimento, que se volte a aumentar os juros, que se pare de injetar recursos no reaquecimento econômico. Mas todos se preocupam com a conta de governos que agiram certo contendo a recessão, mas saem profundamente endividados. Os caminhos clássicos têm sido apresentados pelos economistas que acompanham a crise. Cito alguns: encontrar a hora certa de recuar sem afetar a retomada, a forma mais adequada de financiar a dívida, como a sociedade poderá ajudar a pagá-la e evitar que esse custo seja uma inflação elevada. CAMINHOS PENOSOS O já lendário bilionário Warren Buffet, em artigo publicado no Estado, quinta-feira, utiliza a situação dos Estados Unidos para mostrar como os governos podem obter esses recursos. A crise americana foi mais grave e o socorro oficial maior. Mas, considerando as proporções, os outros também vão sair endividados; alguns, até mais que o os Estados Unidos, em relação ao PIB. Buffet aponta três caminhos que merecem citação. 1. Pedir emprestado no exterior, em outros países ou no próprio mercado financeiro internacional. É o que está sendo feito pelos Estados Unidos, por meio de títulos do Tesouro. Financia a dívida, adia o vencimento, mas não a diminui. Ao contrário, pode aumentar. 2. Pedir emprestado internamente, vendendo títulos do governo. É o que o governo brasileiro tem feito, ainda que de forma calculada, com um endividamento suportável. No caso dos EUA, implica emitir dólares. A base monetária do país - dólares fora dos cofres do Tesouro - vem crescendo de forma significativa desde junho, sinalizando pesadas emissões. Não é o melhor indicador, mas serve para mostrar que, em quase desespero, o governo decidiu adotar a forma menos saudável de financiar sua luta contra a recessão. Buffet não o condena, mas pede cautela a partir de agora. 3. A terceira hipótese é o aumento de impostos, que enfraquecem a demanda, provocam evasão e, em última análise, desestimulam a economia. Lembrem-se que no caso do Brasil a redução de impostos foi um dos fatores de maior sucesso da política anticíclica. ESPERA AÍ, SR. COLUNISTA! O leitor meio irritado deve estar perguntando: não está esquecendo que aumentando o crescimento aumenta também a receita do governo?! Sim, essa é forma mais saudável de resolver o problema. Mas não se esqueça de que, nas circunstâncias atuais, a recuperação econômica vai depender ainda da intervenção maciça dos governos, e isso só foi possível porque se endividaram e continuam se endividando! Quem afirma isso não é a coluna, mas os respeitáveis presidentes dos bancos centrais! Então, não tem saída? Sim, dizem eles, continuar estimulando a economia. O que os preocupa - e a todos neste momento - é que não calculem certo o momento de recuar. E esse momento é quando o sistema financeiro se estabilizar, a demanda voltar a crescer e o mercado global se recuperar. *E-mail: at@attglobal.net

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