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'BCs vêm agindo contra os efeitos da mudança climática', diz executivo do BIS

Para Luiz Awazu Pereira da Silva, bancos centrais avançam na medição de riscos do aquecimento global para o sistema financeiro e já adotam ações em prol do meio ambiente

Por Ricardo Leopoldo
Atualização:

O conjunto dos bancos centrais no mundo está adotando medidas para enfrentar os problemas causados por mudanças climáticas, entre elas a revisão dos modelos de risco e dos testes de estresse diante de catástrofes naturais, diz ao Estadão/Broadcast, em entrevista exclusiva, Luiz Awazu Pereira da Silva, diretor-geral adjunto do Bank for International Settlements (BIS, na sigla em inglês). Abaixo, os principais trechos da entrevista:

Silva exalta 'crescimento inclusivo e sustentável' Foto: Agência Pixel - 2/5/2011

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Como o senhor avalia a velocidade dos principais bancos centrais na adoção de medidas para combater mudanças climáticas?

Os bancos centrais em geral têm se preocupado crescentemente nos últimos cinco ou seis anos com o aquecimento global e mudanças climáticas e como afetam seus respectivos mandatos. Há uma série de intervenções proeminentes. Desde discursos do ex-governador do BC do Reino Unido Mark Carney e diversas publicações. Há também iniciativas para avaliar impactos de mudanças climáticas sobre inflação e a estabilidade financeira. Nós, no BIS, tentamos organizar um pouco o conhecimento em um pequeno livro editado no ano passado com a alcunha de “Cisne Verde”, mostrando o tipo de risco sistêmico diferente que as mudanças climáticas aportariam para a comunidade financeira internacional e como a estabilidade financeira faz parte de mandatos de bancos centrais. Os bancos centrais se agruparam no Network for Greening the Financial System (NGFS, na sigla em inglês), um fórum de discussões e de proposições que trata como a comunidade de bancos centrais e supervisores bancários deveriam reagir diante das consequências das mudanças climáticas.

Mas os BCs não estão lentos? O recente relatório IPCC da ONU apontou que a situação do aquecimento global é alarmante.

Precisamos ver o progresso sobre a consciência destes riscos como um elemento muito positivo, pois faz parte das mensagens que os bancos centrais têm comunicado às suas respectivas sociedades. Instrumentos de análises de risco, metodologias, novos modelos, tudo está sendo fornecido pelo NGFS. Há também uma série de conferências com o setor privado, como a que o BIS organizou em junho. Os progressos estão acontecendo. Ocorrerá em novembro a COP26 em Glasgow. O relatório IPCC mostra que é uma situação de urgência. Ninguém está minimizando a necessidade de ter medidas imediatas.

O senhor espera que os principais BCs adotem testes de estresse em bancos comerciais sobre riscos nos ativos financeiros causados por mudanças climáticas?

O conjunto da comunidade está adotando várias medidas, entre elas a melhora dos modelos de risco e o aprimoramento dos testes de estresse diante de eventos físicos como catástrofes naturais. Um esforço relevante como indicação para a comunidade financeira é a necessidade de mais transparência dos balanços.

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Quais regulações os BCs podem implementar em 6 meses para restringir riscos causados por mudanças climáticas?

Os bancos centrais estão exercendo o seu papel, mas é muito mais uma tomada de consciência para planejamento e coordenação e pensar em uma política de transição. Há dois exemplos. Um deles é que as economias se tornarão cada vez mais digitais. A digitalização pode ser um elemento extraordinário para a redução da emissão de gases. Outro fator são as políticas de investimento em novas tecnologias, em energias alternativas, que trarão crescimento econômico mais inclusivo e sustentável.

O FMI defende que o preço da tonelada de carbono seja de US$ 75. Como adotar uma referência internacional sem os EUA terem implementado uma cotação?

Mais importante é ver que esta discussão está avançando do que focalizar algumas insuficiências que podem acontecer, pois este debate é complexo. Vamos ter na COP26 uma grande ratificação dos objetivos das COPs precedentes, e será um momento notável para a comunidade internacional verificar os problemas colocados pelo relatório IPCC que são evidências alarmantes e demandam iniciativas práticas. 

Como as regulações sobre “crypto assets” podem fazer com que estes ativos gastem menos energia em sua "mineração"?

Os ativos crypto promovidos como alternativas a moedas de países não são moedas nem alternativas, são apenas ativos altamente especulativos. Deveríamos utilizar mais a energia investida na criação destes ativos para fins sociais mais úteis do que para a procura deste tipo de lucratividade, inclusive pelo elevadíssimo custo ambiental que representam.

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