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Belo Monte agora será destino turístico

Pacote de agência de viagens vai incluir visita ao canteiro de obras e a aldeias indígenas

Por Mariana Durão e RIO
Atualização:

O que a princípio pode parecer um verdadeiro programa de índio ou agenda de engenheiros e ambientalistas se tornou roteiro de viagem turística: visitar o canteiro de obras da usina hidrelétrica de Belo Monte, na Amazônia. O pacote para o município de Altamira, no Pará, batizado de "Xingu e Belo Monte", está sendo oferecido pela operadora paulista Aoka. O pacote já tem saídas agendadas para junho e julho e custará R$ 1.980 por pessoa, sem as passagens aéreas. A proposta é fazer uma imersão no maior projeto do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e símbolo do novo desenvolvimentismo nacional. A usina, um investimento de US$ 11 bilhões, em meio à Amazônia, desperta ataques e defesas apaixonadas e, por isso, chamou a atenção dos sócios da Aoka, focada em roteiros de "viagens sustentáveis". "Belo Monte é considerada uma hidrelétrica modelo e vai influenciar a política energética do País. Muitos apontam o dedo contra ou a favor, mas sem embasamento. Ir até lá é mais importante do que ficar apenas fazendo comentários no Facebook", diz Daniel Contrucci, um dos fundadores da agência, especialista em Negócios Sociais e ex-voluntário do Greenpeace Brasil. O roteiro está longe do tradicional "praia, sombra e água fresca" desejado por 90% dos mortais. Em quatro dias na cidade de Altamira, no Pará, estão programados encontros com representantes da Fundação Nacional do Índio (Funai), estudiosos da Universidade Federal do Pará, ativistas do Instituto Sócio-Ambiental (ISA) e do movimento Xingu Vivo, que reúne organizações contrárias ao projeto. Depois de muita insistência, a Aoka conseguiu também negociar uma visita ao canteiro de obras e à primeira barragem da usina com o Consórcio Construtor de Belo Monte (CCBM), representante da futura operadora da usina hidrelétrica, a Norte Energia. Nos últimos meses o consórcio tem enfrentado ameaças de greve dos trabalhadores, que prometem parar a partir de segunda-feira. Haverá reuniões na Procuradoria Geral da República do Pará, que até fevereiro já tinha aberto 14 ações civis públicas pedindo a suspensão das obras em Belo Monte, pelo suposto descumprimento de condicionantes ambientais e outras questões. Os visitantes também serão recebidos por moradores da região, diretamente atingidos pela construção. Localizadas às margens do Rio Xingu, as aldeias indígenas de Terra Indígena Paquiçamba e Arara de Volta Grande correm o risco de perder a proximidade com o rio que terá seu curso desviado. Para Contrucci, as questões-chave da viagem serão: Será Belo Monte a melhor opção para gerar energia para o Brasil? A construção está respeitando os direitos humanos da população local? "Queremos gerar conhecimento e despertar um olhar para o que de fato está acontecendo. A ideia é que os participantes passem isso para a frente depois", diz. Programa diferente. O roteiro faz parte de um grupo de produtos batizado de "learning journey" (jornada do conhecimento) pela Aoka. Além de viagens à Amazônia, a empresa já realizou jornadas internacionais como a "Education Revolution", que levou os viajantes para vivenciar o cotidiano de três instituições conhecidas pelo uso de metodologias revolucionárias na Europa: Team Academi (Espanha), Kaospilots (Dinamarca) e Schumacher College (Inglaterra). Criada há três anos como uma agência de turismo sustentável, a Aoka começou a atuar como operadora de pacotes próprios nesse nicho um ano depois. Hoje as jornadas já respondem por 50% de suas vendas. A meta dos jovens sócios da Aoka é dobrar a receita e faturar seu primeiro milhão em 2012. Além de Contrucci, são parceiros na agência o administrador Ricardo Gravina e o publicitário e planejador estratégico Ude Lottfi. Para atingir o resultado eles apostam no recém-lançado produto "Jornadas Corporativas", que formatará programas de viagem para empresas. O banco Itaú será um dos primeiros clientes da Aoka. A agência fechou também com uma companhia de bebidas. Os empresários também estão em busca de um investidor anjo. Eles querem reforçar o caixa da agência sem perder o foco social.

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