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Belo Monte herda demitidos de Jirau

Governo aposta que dispensados em Rondônia devem migrar para o Pará para trabalhar nas obras de terraplenagem da hidrelétrica

Foto do author Leonencio Nossa
Por Leonencio Nossa e BRASÍLIA
Atualização:

Após o anúncio da construtora Camargo Corrêa de demitir quatro mil operários das obras da usina de Jirau, em Rondônia, o governo tem duas apostas para aliviar o impacto dos cortes: a dispersão dos operários oriundos do Maranhão e a abertura de vagas nos serviços de terraplenagem e construção de canteiros do projeto da usina de Belo Monte, no Rio Xingu, segundo assessores do Planalto.A demissão dos operários, anunciada na semana passada pela construtora Camargo Corrêa, fere um acordo feito com os próprios trabalhadores após a revolta por tratamento mais digno, que paralisou, em março, as obras de Jirau e pôs na berlinda o tradicional discurso trabalhista do governo, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o setor sindical brasileiro.Na terceira semana de março, após a destruição de alojamentos em Rondônia, cerca de seis mil operários foram transportados para suas cidades de origem - a grande maioria vive no Maranhão e parcela significativa no Ceará, no Pará e no Piauí - com a promessa de que não perderiam o emprego.Eles ouviram ainda a promessa de que continuariam recebendo salário enquanto permanecessem em suas casas. Até o momento, o Planalto não apresentou exigências claras à Camargo Corrêa para qualquer tipo de compensação.A estratégia do governo é garantir a retomada das obras de Jirau, uma das prioridades do PAC, de forma gradual, com alojamentos menores para evitar novas revoltas trabalhistas. A Camargo Corrêa, que pretendia entregar a usina em 2012, um ano antes do previsto no cronograma, deverá retomar o prazo original.Ainda em março, o governo negociou um "pacto trabalhista" com a empresa e representantes de centrais sindicais. O acordo teve caráter verbal e garantiria, segundo o Planalto, que os tratamentos desumanos nos alojamentos não fossem repetidos em Jirau.Barrageiros. O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique, contesta que haverá corte de operários em Jirau. Ele diz que a construtora vai demitir empregados que já deixaram claro que não aceitam voltar a Rondônia e querem o desligamento, com pagamento de seus direitos. "Nós não concordamos com demissão de quem não quer deixar o trabalho", afirmou."Estamos dando assessoria jurídica para quem pretende ser demitido. Muitos manifestaram o interesse de não trabalhar mais em Jirau." Artur Henrique afirma que a CUT está fazendo um levantamento nos Estados onde vivem os operários para saber quantos querem a demissão.Ele observa que muitos foram enganados pelos "gatos", intermediários que atuam de forma irregular na contratação de mão de obra para as construtoras. Ele avalia como "natural" que os operários de Jirau, especialmente os tradicionais "barrageiros", com experiência na construção de usinas, procurem novas frentes de trabalho."Não é que a estrutura de Belo Monte vai arcar (com a contratação de operários). Isso já ocorreria antes do que aconteceu em Jirau", diz. "É natural no setor", ressalta. "A empresa (Camargo Corrêa) sabia que não tinha condições de empregar 16 mil pessoas nos alojamentos de Rondônia e agora terá de rever o planejamento."Prevenção. Ao mesmo tempo que aposta nas obras iniciais de Belo Monte, no Rio Xingu, para compensar os cortes em Rondônia, o governo negocia com a prefeitura de Altamira (Pará) e empresas construtoras formas de evitar transtornos nos canteiros que serão criados na região para erguer a hidrelétrica, que já enfrenta vários embates ambientais.Na próxima semana, o Planalto deverá realizar uma reunião para discutir medidas de "prevenção" a problemas com a chegada a Altamira dos operários do interior maranhense.PARA LEMBRARMás condições de trabalho abriram debateEm março, o canteiro de obras da Hidrelétrica de Jirau, no Rio Madeira, foi totalmente destruído supostamente por um grupo de trabalhadores da construtora Camargo Corrêa. Dias depois, a Hidrelétrica de Santo Antônio, também em construção no Madeira, paralisou preventivamente as operações. As duas usinas fazem parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a tensão que tomou conta dessas obras levantou importante questão sobre as condições de trabalho a que são submetidos os milhares de trabalhadores contratados pelos consórcios responsáveis pelas obrasO Planalto acusou as construtoras de tratar de forma ultrapassada e autoritária os operários. Apenas na usina hidrelétrica de Jirau trabalham mais de 22 mil homens.

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