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Benefícios na balança

Como patrão, é preciso assumir despesas como previdência e saúde

Por Marilena Rocha
Atualização:

Os encargos trabalhistas são apontados pelos especialistas como um dos principais obstáculos a quem pensa em abrir mão de um emprego com carteira assinada para iniciar um negócio. Afinal, quem vive por conta própria tem, entre outras despesas, de arcar sozinho com os custos da previdência e também do plano de saúde. Com os serviços de saúde pública reconhecidamente precários no País, muitos profissionais, especialmente os que têm famílias numerosas, adiam seu grito de independência em função de planos de saúde que atendem às expectativas da família. ''Eu já vi isso acontecer várias vezes. A pessoa faz as contas e descobre que teria de ganhar pelo menos 50% a mais para não ficar e não deixar os parentes sem plano de saúde e aí vai permanecendo no emprego'', confirma o consultor de finanças pessoais Marcos Crivelaro, lembrando ainda da questão da carência dos planos. Ou seja, o empreendedor que for bancar um plano por conta própria terá ainda de observar novos prazos para fazer uso dos serviços de um novo grupo de saúde. Sueli Alves França, de 38 anos, funcionária da Camargo Correa, destaca que a primeira pergunta que os futuros funcionários fazem na entrevista admissional é se a empresa oferece convênio médico. ''A saúde é realmente o que mais preocupa as pessoas. Eu mesma não fico sem um plano de saúde e aconselho as pessoas a buscarem um, nem que seja bem baratinho. Depender da rede pública é correr sérios riscos'', argumenta. Daí o consultor financeiro sugerir que a pessoa que está pensando em se desligar de uma empresa para abrir negócio próprio aproveitar bem o plano, fazendo um check-up antes da demissão. ''Ela vai ver como está sua saúde e depois, por precaução, já pode pesquisar um convênio bem em conta para se garantir enquanto seu negócio próprio não decolar'', orienta. Outro benefício, o ticket refeição, com a criatividade do brasileiro tem servido para muitas funções. ''Tenho um aluno que paga a faculdade com o ticket'', revela o consultor Crivelaro. A relação de benefícios segue ainda com o pagamento de horas extras, de participação nos lucros, PIS e FGTS. Mas o empreendedor vai trabalhar as 24 horas do dia e todos os dias da semana sem remuneração adicional até que sua empresa ganhe vôo próprio. Preocupação não menos relevante é com a previdência. Quem quer ser patrão tem de arcar sozinho com o pagamento mensal do INSS e de uma previdência privada. Afinal, é mais do que sabido que a previdência pública achata os benefícios, reduzindo o padrão de vida de quem se aposenta, mesmo com mais de 30 anos de serviços e contribuição pelo teto. Anderson Teixeira Alves, de 30 anos, deixou a empresa onde trabalhava e abriu um estacionamento há seis meses. ''A questão da saúde resolvi com a adesão a um convênio bem acessível. E fiz um acordo para continuar pagando sozinho o plano de previdência corporativo, pois sei que não dá para depender da aposentadoria oficial'', diz. O bancário Gabriel Pinori, de 24 anos, com pós-graduação em Administração, aprendeu na escola que as pessoas gastam 80% do que ganham nos últimos cinco anos de vida. ''Então, não dá para brincar. Previdência privada é fundamental.'' Antes mesmo de ser admitido num banco, ele contratara um plano de previdência privada. ''Ainda moro com meus pais e por isso tenho assegurado uma boa economia e faço aplicações de pouco risco.'' Como a população brasileira está vivendo cada vez mais (a expectativa de vida da mulher já passa dos 76 e a do homem dos 72 anos), governos, Congresso e sociedade têm discutido formas de impedir o colapso da previdência pública. Um dos produtos que está em estudos na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) prevê um mix de mutualismo e capitalização para garantir as aposentadorias do amanhã. Mas o certo é que enquanto mudanças palpáveis não acontecem, o melhor é recolher mensalmente o INSS, por conta própria, e pesquisar o plano privado de previdência que melhor atenda a suas expectativas, para não depender de ninguém quando não puder mais ''tocar'' nenhum negócio.

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