
22 de março de 2014 | 02h05
Investimentos são cruciais para ampliar a capacidade de crescimento das atividades. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) leva em conta os investimentos em construção civil, incluindo infraestrutura, máquinas e equipamentos, que respondem por 52% do total. Apesar de ter apresentado crescimento de 6,3% comparativamente a 2012, a FBCF está estacionada em cerca de 18%, em proporção do PIB, nível insuficiente para suportar o crescimento da atividade em bases mais robustas e sustentadas nos próximos anos.
É neste contexto que se revelam importantes o desempenho do setor de bens de capitais, que produz as máquinas e os equipamentos que são a base de toda a indústria, e seu efeito multiplicador para a economia. Embora a Pesquisa Industrial Mensal de Produção Física para o setor, realizada pelo IBGE, tenha indicado um crescimento de 6,9% no ano, o faturamento da indústria brasileira de máquinas e equipamentos foi de R$ 5,555 bilhões em 2013, apresentando uma queda de 5,7% relativamente ao ano anterior, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
A discrepância entre os dados de desempenho da produção física e o faturamento do setor é decorrente basicamente da variação da posição dos estoques, além do efeito "preço", que espelha uma redução de margem.
A participação dos importados no consumo brasileiro de máquinas e equipamentos cresceu de 52%, em 2007, para 66%, em 2013. A indústria brasileira de bens de capital mecânicos vem perdendo espaço para os fabricantes de outros países, em especial os da China, cuja participação mais do que dobrou (de 8,2% para 16,6%) no mesmo período, ocupando o segundo lugar no rol dos países de origem, sendo superados apenas pelos EUA. Vale ainda destacar que, computadas as importações por peso, a China atinge o primeiro lugar, denotando clara distorção de preços praticados. É algo que tem de ser objeto de práticas de defesa comercial, pois há fortes indícios de práticas desleais de comércio. O déficit comercial setorial atingiu US$ 20,1 bilhões, com crescimento de 18% em relação ao ano anterior, e só é superado pelo resultado negativo observado nos setores de eletroeletrônicos e de químicos e fármacos.
O aumento da participação dos importados no setor de bens de capital mecânicos, no entanto, não decorre de falta de capacidade física de produção. O nível de ocupação médio do setor é da ordem de 75%, o que denota forte ociosidade nas fábricas. O problema é de competitividade.
Dadas as condições sistêmicas de produção local, especialmente tributação, carência de financiamento, condições de logística e de infraestrutura, entre outros fatores relevantes, os produtores locais não conseguem concorrer em igualdade de condições com seus competidores de outros países. Além disso, a situação adversa também afeta a capacidade de exportação do setor. Em 2013, as vendas para o exterior do setor apresentaram queda de 7%. Embora a desvalorização do real tenha apresentado uma melhora relativa da competitividade dos produtores brasileiros, o nível atual do câmbio ainda se encontra aquém do necessário para compensar os demais efeitos adversos citados anteriormente.
Estabelecer e implementar uma estratégia para o desenvolvimento da indústria brasileira é crucial para garantir a sustentabilidade do crescimento econômico e das contas externas. É preciso criar um ambiente favorável à produção e geração de valor agregado local, e isso não será atingido com medidas pontuais e com data marcada para terminar, como é o caso da maioria dos incentivos atualmente adotados.
PROFESSOR-DOUTOR DA PUC-SP,
É SÓCIO-DIRETOR DA ACLACERDA
CONSULTORES ASSOCIADOS. E-MAIL:
LACERDA.ECONOMISTA@GMAIL.COM
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