
10 de agosto de 2015 | 10h07
Quando um gestor de Warren Buffett investiu pela primeira vez na Precision Castparts, há três anos, o bilionário nunca tinha ouvido falar da fabricante de peças metálicas que fornece para o setor aeroespacial. Agora, ao decidir comprar toda a companhia, o megainvestidor está fazendo a maior aquisição de sua história, superior até à compra global da gigante dos alimentos Heinz, em 2013.
A Berkshire Hathaway, seu império avaliado em US$ 354 bilhões, divulgou nesta segunda-feira a compra da Precision Castparts por US$ 32 bilhões. Com a compra, o conglomerado de Buffett - que já fez aquisições que vão desde a ferrovia Burlington Northern Santa Fe até a empresa de lingerie e roupas íntimas Fruit of Loom - a avançar ainda mais no setor industrial. Incluindo a dívida, a transação está avaliada em US$ 37,2 bilhões.
Essa não só é a mais ambiciosa aquisição de Buffet, que completará 85 anos em poucas semanas, mas também destaca o que tem sido um ano estupendo para fusões nos Estados Unidos, com mais de US$ 2,7 trilhões em transações já anunciadas.
Caixa cheio. Observadores da Berkshire Hathaway há muito tempo esperavam que o conglomerado fechasse grandes negócios com regularidade. A companhia gera um enorme volume de dinheiro com suas diversas operações - seu caixa chegava a quase US$ 67 bilhões em 30 de junho. Buffett há bastante tempo se refere ao enorme volume de dinheiro que a Berkshire Hathaway tem reservado para fechar grandes negócios e sua ânsia de realizá-los.
A Precision Castparts se une a outras aquisições industriais do conglomerado na última década, incluindo a compra da fabricante de produtos químicos Lubrizol e a Marmon. “Admiro as atividades da PCC há bastante tempo”, disse Buffett num comunicado. “Por boas razões ela é a fornecedora escolhida pelo setor aeroespacial do mundo, uma das maiores fontes de exportações americanas”.
Pelos termos do acordo, a Berkshire pagará US$ 235 por ação para a Precision Castparts, o que significa um ágio de 21% sobre o preço do fechamento do papel na sexta-feira. Mesmo Buffett admitiu que o preço é alto. O bilionário reconheceu, em entrevista à CNBC, que desconhecia a Precision Castparts até que Todd Combs, um de seus gestores de investimento, começou a investir na empresa em 2012.
Após conversar com Mark Donegan, presidente do executivo e do conselho da empresa, numa reunião na sede da Berkshire em Omaha, há cinco semanas, ele ficou impressionado e começou a pensar na aquisição. Buffett fez oficialmente uma oferta a Donegan no mês passado, durante conferência anual da Allen & Company, em Sun Valley, Idaho - lugar de origem de muitas transações, como a compra da NBC Universal pela Comcast e a venda do The Washington Post para Jeff Bezos da Amazon. “Fiz uma oferta, ele a apresentou ao conselho de administração e não demorou muito para fecharmos”, resumiu Buffett à CNBC.
A transação foi concluída dois anos depois de a Berkshire se aliar à empresa de investimentos brasileira 3G Capital para comprar a Heinz por US$ 23 bilhões. Neste ano, confirmando seu apetite por novos negócios, a Berkshire se uniu novamente à 3G para formalizar, em um acordo separado, a fusão da Heinz com a Kraft, fabricante americana de alimentos.
A aquisição da Precision Castparts, cuja notícia foi veiculada no fim de semana, está sujeita à aprovação dos órgãos reguladores e dos acionistas. O negócio deverá ser concluído no primeiro trimestre de 2016. A companhia continuará a operar sob o mesmo nome e manterá sua sede em Portland, Oregon, após a efetivação da compra. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
Grandes ambições:
Setor em expansão
Valor: US$ 37,2 bilhões
Ano: 2015
A aquisição da Precision Castparts, que atua no mercado aeroespacial, se mostrou estratégica para o bilionário porque a parcela da população global que viaja de avião está em crescimento. Boeing, Airbus e outras empresas de aviação usam os produtos da companhia.
Parceria brasileira
Valor: US$ 23 bilhões
Ano: 2015
A ideia da compra da gigante dos alimentos americana foi apresentada a Warren Buffett pelos brasileiros do fundo 3G Capital, comandado pelos fundadores da Ambev, entre eles Jorge Paulo Lemann. Neste ano, a Heinz novamente ganhou corpo, ao se unir ao grupo Kraft.
Aposta no consumo
Valor: US$ 26 bilhões
Ano: 2009
A compra da ferrovia Burlington Northern Santa Fe, anunciada na esteira do estouro da crise econômica de 2008, foi uma aposta no retorno do crescimento dos gastos dos consumidores americanos, o que acabaria se refletindo na alta da movimentação de mercadorias e passageiros.
Império de seguros
Valor: US$ 21,7 bilhões
Ano: 1998
A Berkshire, que também é dona da Geico, comprou a General Re em busca de sinergias. Desconhecida do público, a General Re não atua no mercado de varejo, pois seu negócio é o resseguro - ou seja, ela cobre riscos de outras seguradoras, sobretudo em grandes apólices corporativas.
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