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Berlusconi com os dias contados

Analistas já afirmam que primeiro-ministro cairá

Por ANDREI NETTO , CORRESPONDENTE e PARIS
Atualização:

Os dias de Silvio Berlusconi à frente do conselho da Itália parecem estar contados. A convicção circula com cada vez mais força entre analistas políticos da Europa, que nesta semana passaram a abordar o assunto em tom fatalista. A questão, entendem, não é mais se Il Cavaliere cairá, mas quando. Pressionado por escândalos políticos, financeiros e sexuais que derrubaram sua popularidade, agora o primeiro-ministro enfrenta críticas severas em relação à sua gestão econômica frente à crise das dívidas soberanas.

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A certeza de que o polêmico chefe de governo está de partida, como já aconteceu na Grécia, em Portugal, na Irlanda e na Espanha, veio com o rebaixamento da nota da Itália pela agência de rating Standard & Poor's na última semana. Depois de sobreviver a uma separação tempestuosa - marcada por denúncias de abuso sexual de menores -, à deserção de seu aliado Gianfranco Fini, às críticas do presidente da República, Giorgio Napolitano, e a processos judiciais por corrupção e tráfico de influências, vieram as escutas telefônicas que revelaram sua indiferença pelo cargo que ocupa. Até então, Berlusconi se sustentava autoelogiando sua política econômica, que não gera crescimento, mas teria poupado o país e suas maiores empresas da crise desde 2008. A blindagem já havia acabado com o pífio desempenho da economia. Há 13 anos o país só empobrece. Desde 2007, a renda média já caiu 6,9%. Em 2011, deve crescer 0,7% e em 2012, 0,2% - quando seria necessário avançar 1,1% só para cobrir o custo da dívida.

Agora, o alto endividamento do país, que chega a 119% do Produto Interno Bruto (PIB), colocou a Itália na mesma linha de tiro em que já estavam a Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha. Com a decisão da S&P de elevar o grau de risco dos títulos da dívida soberana, o clima azedou de vez. Sua popularidade despencou a 24% em setembro, e até o partido de extrema direita Liga Norte cogita abandonar o governo.

A insatisfação é tamanha que a principal associação de empresários do país se afastou de Berlusconi, aumentando ainda mais o clima de decadência e fim de festa em seu governo. Há uma semana, a presidente da Confederação Geral da Indústria Italiana (Confindustria), Emma Marcegaglia, pediu a cabeça do premiê à câmara dos deputados. "Não cabe a mim decidir quem deve suceder Silvio Berlusconi ou se se deve dissolver as câmaras", afirmou em entrevista à revista francesa Nouvel Observateur, deixando claro que Il Cavaliere já deveria fazer parte do passado.

O premiê só não se demitiu ainda, segundo cientistas políticos, porque ele precisa da imunidade do cargo para se proteger da Justiça. Mas ontem o jornal Corriere della Sera publicou editorial revelando que eleições antecipadas podem ser convocadas para os próximos três meses. A informação, porém, foi desmentida pelo ministro da Cultura, Giancarlo Galan: "Eu falei com Silvio Berlusconi e ele me disse para tranquilizar os italianos: o premiê não vai se demitir."

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