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Bernanke continua e nada muda

Por Alberto Tamer
Atualização:

A indicação de Bernanke para mais quatro anos à frente do banco central americano acalmou a todos e está sendo considerada como mais um pilar que Obama ergue para tirar a economia americana - e mundial - da recessão. Ele traz a certeza de que a política monetária não vai mudar enquanto a recuperação econômica não se consolidar. Os juros continuarão estimulando a demanda, o sistema financeiro e as grandes empresas em crise continuarão sendo atendidas.Não há outra saída. As únicas criticas que se podem fazer ao presidente do Fed é que nem ele nem sua equipe de governadores e técnicos não souberam avaliar as dimensões da bolha imobiliária, a causa final da explosão de um sistema financeiro. Esta coluna mesmo publicou declarações dele dizendo que crise das hipotecas estava sob controle e não era tão grave. Foi um erro. A outra crítica foi não ter agido com rapidez para estancar a sangria nos grandes bancos, intervindo no sistema de forma pouco eficiente, dispersiva, e não ter posto em ação medidas para conter a recessão. Dessas críticas apenas a não compreensão da crise imobiliária é válida. Quanto à falta de vigilância sobre o sistema financeiro, não é culpa principal do Fed. Nos Estados Unidos, é atribuída ao Fed a função de fiscalizar os bancos comerciais e ao Tesouro os de investimentos, onde a crise se formou, nasceu e deflagrou. Nunca houve um entendimento entre Bernanke e Paulson durante toda a crise. O desentendimento era perceptível no mercado. Só após a posse de Obama e a nomeação de Geithner para o Tesouro foi que ambos seguiram o mesmo caminho, que está dando certo nestes seis meses. Manutenção de juros baixos para estimular a demanda, levantamento da situação de todos os bancos pelo teste de estresse, pesada emissão de dólares para aumentar a liquidez no mercado e a reafirmação clara de que a equipe econômica apoiava a ação do Fed. Isso fez com que o cenário se alterasse em apenas seis meses. Quanto ao estímulo à economia, lembre-se que Bernanke insistiu muito para que se adotasse medidas fiscais ambiciosas e fez a sua parte. Derrubou os juros a praticamente 0%, taxa negativa após deduzida a inflação de alguns meses, e ampliou generosamente o credito não só aos bancos, mas às empresas e aos consumidores. A HISTERIA DO DÉFICIT? Este é um desafio de governo. A Casa Branca admitiu que o déficit do orçamento passará de US$ 1,58 trilhão, neste ano, para US$ 9 trilhões nos próximos anos. Estima que ele aumentará US$ 1 trilhão por ano até 2019. Isto é, triplicará. Motivo: uma recessão mais grave que se previa, provocando queda de arrecadação e exigindo mais intervenção fiscal do governo. Todo mundo se assustou. É demais, é demais, é uma situação insustentável! Paul Kurgman, em artigo no New York Times ("Quão grande é US$ 9 trilhões?", afirma que não há razão para a crise de histeria que surgiu nesta semana.Ele pede que não seja interpretado erradamente. Isso é ruim, mas não é uma soma inconcebível e pode ser administrada. E apresenta alguns números ilustrativos: 1. O PIB dos EUA hoje é de US$ 14 trilhões; 2. Se a economia crescer 2,5% ao ano, o que se prevê, e a inflação ficar em 2%, o PIB na década ficará em US$ 22 trilhões. Ou seja, déficit de 40% do PIB. E conclui: Exatamente agora, o déficit está em torno de 50%, menor que muitos países europeus no fim desta década! É ruim, de novo, mas não é nada inconcebível e impossível de enfrentar. Não há razão para toda essa histeria em torno da atual política econômica do governo. E O ALERTA DE ROUBINI? Ele continua pessimista. Deve ser ouvido porque foi o primeiro e, na verdade, o único a prever esta recessão mesmo quando a economia mundial crescia em torno de 4,5% em seis anos. Em artigo no Financial Times, Roubini prevê que "a recuperação provavelmente será anêmica e há um grande risco de termos uma recessão com um duplo mergulho". Entenda-se, na forma de um W. A economia despencou agora com na primeira perna, pode dar um salto até o nível anterior - a segunda perna -, voltar a subir, na terceira perna do W, e depois cair novamente, antes de subir. Isso levaria anos.(A matéria de Patricia Campos Mello está na página B4 do caderno de Economia do Estado de ontem. Deve ser lida.) Até aqui, não há novidade. Roubini prevê o que muito também estão prevendo. Poucos acreditam que a recuperação nos próximos semestres será longa. A NOVIDADE É... Que agora há governo... O colega Celso Ming, comentando o artigo de Roubini, mostra, com grande propriedade, que a diferença entre antes e depois é que hoje há o que não havia no passado: governo. "A principal percepção pós-crise é de que agora há governo...não há mais lugar na situação em que toda a sociedade se considere desamparada, à beira de uma catástrofe." Com a intervenção dos principais governos no mercado e na economia, as pessoas compreenderam que não estão mais sozinhas quando seu emprego está em risco e a economia afundar na recessão. Se houver outra, como alerta Roubini, ninguém afundará nela por muito tempo. *Email: at@attglobal.net

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