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Bernanke e Draghi trocam acusações

Por JAMIL CHADE e BASILEIA
Atualização:

A guerra cambial desembarcou nos países ricos e escancarou a incapacidade dos xerifes das finanças internacionais em gerenciar a crise. Estados Unidos, Europa e Japão acusam-se mutuamente de injetar liquidez em seus mercados e, assim, manipular suas moedas. Ontem, os maiores bancos centrais do mundo se reuniram na Basileia, em encontro fechado. Cada participante foi orientado a não vazar nenhum detalhe do debate.Ao Estado, porém, um representante de um mercado emergente revelou que a troca de acusações, ainda que diplomáticas, escancarou a inexistência de uma estratégia comum para lidar com a crise. "Hoje, está claro que é cada um por si e que as esperanças de uma coordenação são cada vez mais apenas promessas políticas", disse a autoridade monetária. "Hoje, existe uma crise da gestão da crise. Isso é ainda pior que só uma recessão. Não há um caminho para superá-la de forma coordenada." O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, também esteve nos debates na sede do Banco de Compensações Internacionais (BIS). Mas não falou com a imprensa, sob o argumento de que a ordem de mordaça era da cúpula do BIS. Ben Bernanke e Mario Draghi, que comandam respectivamente o Federal Reserve e o Banco Central Europeu, foram os protagonistas do desentendimento. Em 2010, o governo americano havia liberado mais de US$ 1 trilhão, e foi acusado de promover desvalorização competitiva, auxiliando nos esforços de ampliar as exportações e reduzir o déficit. O Fed, na época, recusou a acusação e insistiu que apenas estava garantindo que os empréstimos de seus bancos à economia real relançassem a economia do país, dizendo que isso seria positivo para todos. Agora, é Bernanke quem critica o BCE por ter, em apenas dois meses, injetado 1 trilhão, afetando o mercado de câmbio. A acusação foi rejeitada por Draghi, que defendeu a ação apontando que a perspectiva de recessão na Europa em 2012 exigiria novo incentivo. Draghi recebeu críticas também do Banco do Japão, temendo ver sua moeda afetada tanto pela ação dos europeus quanto dos EUA. "Ficou claro que o que existe é uma corrida de cada um para resguardar suas economias e interesses", disse a fonte.

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