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Bernanke, o soprador de bolhas?

Não há motivo para acreditar que enfrentamos algum problema amplo de bolha; o presidente do Fed deve ignorar o 'bolhismo' e seguir em frente com o seu trabalho

Por Paul Krugman (The New York Times)
Atualização:

Bolhas podem ser ruins para a sua saúde financeira - e ruins para a saúde da economia também. A bolha das Pontocom no fim dos anos 1990 deixou atrás de si muitos prédios vazios e muitos mais sonhos arruinados. Quando a bolha imobiliária da década seguinte estourou, o resultado foi a maior crise econômica desde os anos 1930 - uma crise da qual ainda não saímos.Assim, quando pessoas falam de bolhas, é preciso ouvir com atenção - e não desconsiderá-las desdenhosamente, que foi como muitos autoproclamados especialistas reagiram às advertências sobre a habitação. E há muita conversa sobre bolha hoje em dia. Boa parte é sobre uma alegada bolha de bônus que supostamente está mantendo os preços dos bônus irrealisticamente altos e das taxas de juros - que se movem na direção oposta dos preços dos bônus - irrealisticamente baixas. Mas o índice Dow Jones em ascensão tem suscitado temores de uma bolha acionária também.E então, teremos uma grande bolha de bônus e/ou de ações? Sobre os bônus, eu digo definitivamente que não. De ações, provavelmente não, embora não tenha certeza.O que é uma bolha, aliás? Surpreendentemente, não há uma definição padrão. Mas eu a definiria como uma situação em que os preços dos ativos parecem se basear em visões implausíveis ou inconsistentes sobre o futuro.Haverá algo comparável ao que está ocorrendo hoje no mercado de bônus? Bem, a taxa de juros dos bônus de longo prazo depende principalmente do caminho esperado das taxas de curto prazo, que são controladas pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Ninguém vai querer comprar bônus de 10 anos por menos de 2%, a taxa atual, se acreditar que o Fed estará elevando as taxas de curto prazo a 4% ou 5% no futuro não muito distante.Mas por que, exatamente, a pessoa deveria acreditar nisso? O Fed normalmente corta taxas quando o desemprego está alto e a inflação está baixa - que é a situação atual. Na verdade, ele não pode cortar mais as taxas porque elas já estão perto de zero e não podem descer mais. Mas é difícil perceber por que o Fed deveria elevar taxas até o desemprego cair bastante e/ou a inflação subir, e não há indício de que algo do gênero vá ocorrer nos próximos anos.Por que, então, a conversa sobre uma bolha de bônus? Isso reflete, em parte, a observação correta de que as taxas de juros estão muito baixas pelos padrões históricos. As regras usuais sobre o que constitui um nível razoável de taxas de juros não se aplicam.Há também, é preciso que se diga, um elemento de desejo irracional. Por alguma razão, muitas pessoas do setor financeiro desenvolveram ódio profundo por Ben Bernanke, o presidente do Fed, e tudo que ele faz. Elas querem o fim de suas políticas de dinheiro fácil. Nas circunstâncias, porém, o desamor pelos barbados professores de Princeton não é uma boa base para uma estratégia de investimento. E não convém esquecer o exemplo do Japão, onde as apostas contra bônus do governo - justificadas mais ou menos pelos mesmos argumentos feitos para justificar alegações de uma bolha americana de bônus - terminaram mal com tanta frequência que veio a ser conhecido como "widowmaker" (algo como "de alto risco"). A esta altura, a dívida do Japão está bem acima do dobro de seu Produto Interno Bruto, seu déficit orçamentário continua grande e a taxa de juro para os bônus de 10 anos é 0,6%. OK, e as ações? Os principais índices do mercado acionário estão mais altos que no fim dos anos 1990, o que soa sinistro. Muito menos sinistro, porém, quando se sabe que os lucros corporativos estão mais que duas vezes e meia acima do que estavam quando a bolha dos anos 1990 estourou. Além disso, com os rendimentos dos bônus tão baixos, seria de se esperar que os investidores se deslocariam para ações, elevando ainda mais seus preços.A verdade, porém, é que não há motivo para acreditar que enfrentamos algum problema amplo de bolha, exceto que se preocupar com bolhas hipotéticas toma precedência sobre a tarefa de recolocar os americanos no trabalho. Bernanke deve deixar de lado os barões balbuciantes do "bolhismo" e seguir em frente com o seu trabalho. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

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