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Bernanke precisa recuperar sua credibilidade, afirma banco

O economista-chefe do banco Morgan Stanley afirmou que Bernanke está tendo um desempenho problemático no início de sua gestão à frente do Fed

Por Agencia Estado
Atualização:

O economista-chefe do banco Morgan Stanley, Stephen Roach, alertou numa carta aberta endereçada ao presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, que ele precisa recuperar com urgência sua credibilidade junto aos investidores pois corre o risco de causar turbulências ainda mais sérias nos mercados mundiais caso continue enviando mensagens contraditórias em relação à tendência da taxa de juros nos Estados Unidos. Roach afirmou que Bernanke está tendo um desempenho problemático no início de sua gestão à frente do Fed. "Diante do legado acomodatício que você herdou de seu legendário antecessor (Alan Greenspan), os três aumentos de 25 pontos-base nas três reuniões do comitê de política monetária que você presidiu foram sensatos", disse Roach. "A questão é mais sutil - sua capacidade de enviar uma mensagem consistente para os mercados financeiros. Isso é um elemento crítico do perfil de seu cargo. Isso define sua credibilidade como gerenciador político como também a credibilidade da grande instituição que você lidera. No final, sem credibilidade, um banco central é nada." Roach observou que Bernanke, como um dos principais acadêmicos estudiosos do regime de meta inflacionária do mundo, conhece com sobra as vantagens de se ancorar as expectativas do mercado financeiro com uma regra simples de preços. "Com a estabilidade dos preços agora amplamente aceita como o sine qua non da atividade dos bancos centrais e com as taxas do núcleo inflacionário nos Estados Unidos e em todo o mundo não muito distantes do desejado patamar dessa estabilidade, há um considerável mérito em se alicerçar uma determinação para preservar os ganhos arduamente obtidos nos últimos 25 anos", disse o analista. "Isso poderia muito bem ser sua oportunidade de ouro. Com todo o respeito devido, Bem, você está próximo de estrangular essa oportunidade." Roach observou que uma política monetária transparente tem o mérito de minimizar volatilidades inesperadas e indesejadas nos mercados. "É doloroso para mim dizer isso, mas a sua mensagem tem sido totalmente confusa." Discursos Segundo o analista, Bernanke reverteu várias vezes a mensagem de seus discursos oficiais ao longo dos últimos dois meses. Roach observou que no dia 27 de abril, num depoimento ao Congresso norte-americano, o presidente do Fed "entreteve" à possibilidade de uma "pausa injustificada" no ciclo de alta dos juros. Já no dia 5 de junho, durante um discurso na sede do FMI em Washington, Bernanke fez um alerta sobre as preocupações com "acontecimentos não desejados" na frente inflacionária. Em seguida, no comunicado que acompanhou a reunião do comitê de política monetária do Fed em 28 e 29 de junho, houve a declaração que a "(...) moderação no crescimento da demanda agregada ajudaria limitar pressões inflacionárias ao longo do tempo". Roach declarou que num curto período de dois meses, as declarações de Bernanke migraram do terreno positivo para a cautela, voltando novamente para o viés mais relaxado. "Tais inconsistências criam sérios questionamentos sobre sua credibilidade como a principal autoridade de política monetária do mundo", afirmou o economista do Morgan Stanley. "A propósito, você e seus colegas do Fed precisam estar cientes do contexto internacional e das conseqüências de sua postura." O analista disse que o melhor que Bernanke pode fazer neste momento é "pegar emprestada uma página da era Greenspan" e fazer uma declaração simples sobre o viés da política monetária do Fed. "Por exemplo, se você considera que os riscos inflacionários estão elevados dentro de sua zona de tolerância, você e seus colegas podem endossar um viés de aperto monetário", afirmou. "Por outro lado, se os riscos inflacionários pendem para baixo, pode ser apropriado em algum ponto anunciar um viés de relaxamento." Roach avaliou que o Fed deveria adotar um tom conservador. Segundo ele, o clima nos mercados financeiros é perigoso "sete anos após uma bolha de ativos atrás da outra, movidas pela mãe de todos os ciclos de liquidez". Para ele, está na hora de fazer com que essa "perigosa situação" termine. "Não apenas você precisa se comprometer com a estabilidade dos preços no sentido estreito de sua meta de inflação ao consumidor, mas você e seus colegas banqueiros centrais na Europa, Japão e China precisam igualmente estar dispostos a se comprometerem a uma retirada ordeira do excesso de liquidez com o objetivo de colocar um mundo seriamente desestabilizado numa base mais segura." Para Roach, o presidente do Fed terá outra oportunidade de recuperar sua credibilidade durante seu depoimento ao Congresso dos Estados Unidos no próximo dia 19 de julho. "A má notícia é que essa poderá ser sua última chance por um tempo", disse. "Uma terceira reversão poderia causar um sério e danificador revés para a credibilidade do Fed."

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