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Bernardo espera PIB mais fraco no 2º trimestre

O ministro do Planejamento afirmou que a taxa de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) no período de abril a junho deverá ficar abaixo do desempenho do 1º tri

Por Agencia Estado
Atualização:

Preparando o terreno para a má notícia sobre a desaceleração da atividade econômica no segundo trimestre deste ano, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, afirmou nesta terça-feira que a taxa de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) no período de abril a junho deverá ficar abaixo do desempenho do primeiro trimestre. Nos meses de janeiro a março, a economia cresceu 1,4% em relação ao último trimestre do ano passado e 3,4% em relação a igual período de 2005. Os dados sobre o desempenho da economia no segundo trimestre serão divulgados na quinta-feira pelo IBGE. Apesar da esperada desaceleração, Paulo Bernardo aposta que nos terceiro e quatro trimestres a economia se recupere e cresça de forma mais acelerada, fazendo com que o crescimento no ano fique entre 4% e 4,5%, a projeção oficial do governo. "Normalmente no terceiro e quarto trimestres a economia se acelera", argumentou o ministro. O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, disse, ao deixar o ministério da Fazenda, que a Federação considera que "com muito esforço" a economia cresce 3,5% este ano. Segundo ele, nos últimos 60 dias não houve geração de emprego na indústria. Bernardo não explicou os motivos que justificam o desempenho mais modesto no segundo trimestre. A expectativa do ministro, no entanto, corresponde à avaliação de analistas do mercado financeiro. O mercado financeiro considera que no período de abril a junho a economia pode ter crescido entre 0,6 por cento e 1 por cento, na comparação com o trimestre anterior. Na realidade, o menor ritmo na atividade econômica já é fato para o governo. Semana passada, por exemplo, até mesmo os diretores do Banco Central, em reunião trimestral com analistas do mercado, admitiram que o PIB do período abril a junho deveria ser mais fraco. A economista do Banco ABN Amro, Zeina Latif, projeta uma expansão de 0,8% no PIB do segundo trimestre. Ela trabalha com a hipótese de uma queda no nível dos investimentos de 1,3% em relação aos três meses anteriores, segundo os cálculos do banco. "Os indicadores antecedentes do investimentos, como compras na construção civil e consumo aparente de máquinas e equipamentos apontam para uma queda na Formação Bruta de Capital Fixo (o investimento)", explicou. A economista considera que esse comportamento mais fraco dos investimentos pode ser reflexo da forte turbulência nos mercados financeiros que teve seu auge justamente em maio e junho. "Diante das incertezas, pode ter ocorrido um movimento de parada nas decisões de investimentos, uma postura de esperar para ver", afirmou Zeina, avaliando que o movimento é transitório, pois os fundamentos do Brasil estão propícios ao investimento. Dessa forma, ela espera uma reação da economia no segundo semestre e, por enquanto, mantém sua projeção de crescimento de 4% para o ano, embora considere a hipótese de revisá-lo para baixo. No relatório diário produzido para o departamento econômico do Unibanco, a economista Giovanna Rocca projeta uma expansão de 0,6% do PIB no segundo trimestre. "A palavra que melhor descreve a performance do crescimento econômico no segundo trimestre é moderado", diz Giovanna no documento, considerando que o desempenho "desanimador" da indústria como um dos fatores que contribuem para o resultado fraco da economia no trimestre passado. A economista também espera uma contribuição negativa do setor externo e dos investimentos no resultado do PIB do segundo trimestre. Para o ano, o Unibanco projeta uma expansão de 3,5% para a economia brasileira, mas admite revisá-lo para baixo. Ipea O desempenho abaixo do esperado para a economia no segundo trimestre fará o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) reduzir sua projeção de crescimento para o ano, de 3,8%. Na prática, a avaliação é que o resultado, que será divulgado amanhã, funcionará como uma "alerta" sobre a questão do crescimento. No mercado, há dúvidas se os sinais de que a indústria rodou mais forte em julho reverterão a perspectiva de um crescimento menor no ano. "Acho que os dados positivos geralmente são analisados muito positivamente, de maneira otimista, porque todo mundo quer que o Brasil cresça. E às vezes as pessoas minimizam os resultados menos favoráveis. Mas talvez sejam importantes. Ainda que saiam abaixo do esperado, talvez sejam importantes como alerta e como pergunta. Será que o Brasil já criou as condições para crescer mais?", afirma o economista do Ipea Estêvão Kopschitz. Antes dos resultados da indústria de junho, que mostraram desaceleração do setor, o instituto estimava um crescimento de 1,2% do PIB no segundo trimestre, comparado ao primeiro. De forma geral, outras instituições também apostavam num patamar mais alto. Kopschitz avalia que o resultado deverá sair abaixo de 1%. Pesquisa da AE-Broadcast com 16 instituições mostra que a expectativa de resultado varia de 0,50% a 1%. O economista da MB Associados Sérgio Valle informa que a consultoria também deverá reduzir sua projeção de crescimento para o ano (3,5%). A MB estima avanço de 0,7% no segundo trimestre, ante o primeiro, e de 2,3% comparado ao mesmo período em 2005. Pesquisa do Banco Central (BC) com instituições de mercado mostram que nas últimas semanas as projeções de PIB anual foram reduzidas de 3,6% para 3,5% para 2006 e de 3,7% para 3,5% em 2007. A consultoria Tendências também reviu para baixo sua projeção para o PIB do segundo trimestre, depois do mau desempenho da indústria em junho. Acreditava num avanço de 1,4% ante o trimestre anterior e agora aposta em 1,1%. O economista Guilherme Maia, porém, é otimista com o desempenho nos próximos trimestres e manteve a projeção de 3,7% para o fechamento do PIB em 2006. O IBGE divulga amanhã o resultado do segundo trimestre, que é encaminhado com 24 horas de antecedência ao ministério do Planejamento. Para Maia, ao contrário de anos anteriores, a demanda interna é que vai puxar a economia em 2006. Mesma opinião tem o diretor de departamento de pesquisa do Bradesco, Otávio de Barros, que projeta um crescimento de 2% no segundo trimestre, ante o período no ano anterior. "Mesmo com o resultado um pouco aquém das expectativas, a sensação térmica na sociedade não é tão ruim, já que a economia está sendo puxada pela demanda interna", avalia Barros.

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