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Bernardo volta a negar saída Meirelles do BC

Segundo o ministro do Planejamento, não se deve dar atenção a boatos

Por Agencia Estado
Atualização:

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse nesta quinta-feira que não se deve dar muita atenção a boatos, referindo-se aos rumores de quarta sobre a possível saída do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, da instituição. Indiretamente, relacionou tais rumores à categoria de boatos "nefastos". De acordo com Bernardo, "tem muito boato que é especulação e não tem de dar muita atenção e sim esclarecer as coisas, o que o governo tem feito." O ministro disse que, se fossem proibidos os boatos, com certeza "o País ficaria até mais chato". "Eles (os boatos) alegram a vida das pessoas, mas há boatos nefastos e tem muito boato que é especulação", comentou Paulo Bernardo. Sobre as críticas que Meirelles tem recebido dentro do próprio governo, como no caso do ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, Bernardo as considerou "absolutamente naturais, já que com informação e debate podemos esclarecer tudo isso". O ministro está em Araraquara para o lançamento do edital de licitação da obra para a construção de um contorno e de um pátio ferroviário na cidade paulista, cujos investimentos de R$ 146 milhões serão feitos pelo governo federal e estão previstos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Na quarta-feira, Bernardo concedeu um entrevista exclusiva ao Estado, em que falou sobre a situação do câmbio no País e sobre Meirelles. E afirmou que o pensamento de Lula é de que ?estamos ganhando o jogo?. Veja abaixo a íntegra: As notícias de pressões do PT para mudar a política econômica não podem afetar o ambiente e prejudicar os investimentos privados? Acho que as pessoas formam sua opinião pelo discurso, pelas relações políticas, mas também pelo que elas vêem de fato acontecer. O comportamento do governo Lula na questão da economia é conhecido. O presidente não quer abandonar os compromissos de austeridade fiscal, não quer mudança na política monetária e quer criar condições para que as taxas de juros continuem caindo. Precisa mexer no câmbio? Se tiver alguma proposta boa e exeqüível, ela tem de ser discutida. Mas a convicção no governo, hoje, é que a melhor opção é o câmbio flutuante. O câmbio suscita reclamações de vários setores, e isso é normal. Por outro lado, há setores se beneficiando. Há ramos inteiros da indústria se equipando e modernizando as instalações com importações, porque barateou muito o maquinário. Mexer no câmbio pode significar agradar a alguns e talvez prejudicar a maioria. Esse foi o entendimento da reunião na noite de terça-feira com o presidente Lula? Aquela não foi uma reunião para deliberar nada. Mas o espírito é esse. Tem de ver o que acontece com o câmbio. Quem ganha, quem perde. Se tiver algum prejudicado, precisamos de uma análise mais cuidadosa. Mas não fazer uma mexida que pode desarrumar a casa. Que tipo de mexida? As pessoas reclamam como se o governo pudesse dizer: o câmbio agora não é R$ 2,08, vai ser R$ 2,20, R$ 2,30. O problema é que tem um câmbio bom para a indústria automobilística, outro bom para a de calçado, um câmbio bom para o agronegócio. Não podemos fixar um câmbio para cada um deles. Isso tem de ser feito para buscar um equilíbrio sem intervenção direta do governo. A política cambial pode avançar em que ponto? Já se discutiu muito modernizar a legislação referente a câmbio. Falando mais explicitamente: não podemos mexer numa coisa que está funcionando para atender ao interesse de um ou outro setor. Se não for uma medida de amplo e geral interesse, não tem cabimento o governo fazer mudança. Mas a pressão recrudesceu. Hoje (ontem) há até uma boataria de que o presidente do Banco Central estaria demissionário. Boataria sempre tem. A reunião com o presidente foi para tirar qualquer dúvida que ele tenha sobre o quadro econômico, a conjuntura. Ele fez muitas perguntas, mas foi uma conversa descontraída. Ele perguntou se a política cambial está ruim? Não, não. Foi sobre essas reclamações. Ora, as pessoas falam com o presidente e evidentemente ele quer ter respostas. Não foi exatamente uma reunião formal de trabalho, até porque foi na casa dele. Há pessoas próximas ao presidente que defendem o controle de capital. É uma tese que inclusive vai ser levada para a reunião do PT neste fim de semana. As pessoas e organizações podem defender tudo o que elas acreditam, mas é preciso entender que a política econômica no Brasil é formulada a partir de critérios técnicos e tem o respaldo do presidente. A impressão que eu tenho é que estamos ganhando o jogo e tem um monte de gente reclamando e fazendo barulho. O Meirelles não subiu no telhado, não? Não. Parece que está no avião, indo para São Paulo. Mas ele vai para Portugal, e sabe como diz o ditado... Perder o lugar? Não, o Meirelles me ligou agora há pouco. Não tem nada disso, não. Por que o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, critica câmbio e juros? Por que o presidente do PT, Ricardo Berzoini, exige que os bancos oficiais têm de ficar alinhados com o PAC? Me parece razoável. Mas já não estão? Por que precisa ir o presidente do PT pedir isso? Não tem problema nenhum ele dizer isso, também. Se está tudo tão bem na economia, por que o presidente Lula não convence o próprio partido? Acho que todos reconhecem que estamos num momento ímpar. Ontem (anteontem), uma agência de rating, a Fitch, melhorou nossa classificação. E quem ia falar que teríamos US$ 92 bilhões em reservas? Hoje (ontem), o Tesouro colocou títulos no mercado em reais, com 21 anos, com taxa menor do que a Selic.

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