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BID avalia impacto com Europa ou Alca para comércio do Mercosul

Por Agencia Estado
Atualização:

O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) avalia que o maior impacto sobre o aumento das exportações do Mercosul seria gerado pelo acordo de livre comércio com a União Européia do que no âmbito da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). O Informe de Progresso Econômico e Social (Ipes 2002), um dos relatórios mais recentes e completos sobre processos de integração que ocorreram na América Latina na última década, conclui que as vendas externas do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, como um todo, cresceriam 12%, num primeiro momento, superando o aumento que poderia ser gerado com a Alca, de 8%. "Claro que esses ganhos passam pela eliminação de barreiras impostas contra produtos da região, tanto na União Européia como nos Estados Unidos", respondeu Robert Devlin, vice-diretor do Departamento de Integração e Programas Regionais do BID, ao ser indagado pela Agência Estado sobre qual das duas negociações traria mais vantagens ao Mercosul. Embora os modelos de negociação nessas duas frentes sejam diferentes, o economista acredita que o ganho maior seria mesmo propiciado pela União Européia, já que as maiores barreiras contra produtos do bloco do Cone Sul são impostas por esse mercado. "Se a Europa decidir eliminar essas barreiras, o crescimento será maior naquele mercado do que na Alca", explicou Devlin, em entrevista concedida depois do seminário "Além das Fronteiras: o novo Regionalismo nas Américas", realizado nesta terça-feira na Faculdade de Economia e Administração (FEA), da Universidade de São Paulo (USP). Alca e União Euopéia não são excludentes De qualquer modo, acrescentou o economista do BID, tanto a União Européia quanto a Alca são suficientemente importantes e não podem ser interpretados como opções excludentes. Vale lembrar que a Alca é um dos projetos mais ambiciosos da América Latina e o Caribe, junto com os Estados Unidos e o Canadá, e, se concluída em dezembro de 2004, contará com uma população de mais de 800 milhões de pessoas e um Produto Interno Bruto (PIB) de aproximadamente US$ 11 trilhões. Com isso, a Alca se transformaria na maior área de livre comércio do planeta. "Os dois acordos, quando concluídos, terão efeitos positivos para as exportações do Mercosul, razão pela qual é necessário que os quatro países continuem negociando nessas duas frentes", alertou o economista do BID. Ele lembrou, por exemplo, que a Europa é um dos maiores importadores de produtos primários e agrícolas do bloco, enquanto que os países que farão parte da Alca absorvem mais produtos manufaturados. "Os efeitos serão distintos, mas, não por isso, um ou outro precisa ser discriminado." Análise setorial A análise setorial feita pelo BID mostra que, em todos os cenários possíveis, os produtos manufaturados leves são o setor de crescimento mais rápido, embora o impacto relativo seja maior num eventual acordo de livre comércio com a União Européia. "Como era de se esperar, os manufaturados leves registram grande influência dos produtos relacionados à agropecuária (carnes e alimentos processados), que estão entre os setores com proteção mais elevada tanto na União Européia como nos Estados Unidos", conclui o Ipes 2002 Sem oposição a acordos regionais Indagado se a Alca, depois de concretizada, eliminaria acordos regionais ou sub-regionais, a resposta de Devlin foi taxativamente um "não", reforçada ainda pelo e diretor do Departamento de Pesquisas do BID, Ernesto Stein,. "Os acordos regionais, como é o caso do Mercosul, têm e terão significativas vantagens sobre a Alca, já que, além de serem uniões aduaneiras, mesmo que imperfeitas, englobam questões diferentes a mais abrangentes", disse Stein. Ele se referiu, por exemplo, à integração de setores vitais, como os de infra-estrutura e agrícola, além de englobar questões sanitárias e fitossanitárias, entre outros. "A integração regional permite resolver hoje questões que a não poderão ser resolvidas na Alca, porque ela não vai passar de um acordo de livre comércio", argumento Stein. Além disso, emendou Devlin, "a grande virtude do acordo regional é que você escolhe seus sócios e determina a velocidade com que ele deve andar". Mas, alertou ele, não se enganchar (o bloco) na economia mundial seria um grande equívoco. "Na economia globalizada, é melhor andar em comboio do que sozinho." Perspectivas Sem esconder seu otimismo, Devlin disse acreditar que as negociações da Alca poderão mesmo ser concluídas em dezembro de 2004 e, em 2005, o acordo deverá ser ratificado pelos respectivos Congresso dos 34 países que farão parte do maior bloco comercial do planeta. "Essa é a meta dos governos e acredito que será cumprida. Desde que foi lançado, em 1995, o processo marchou de forma persistente e disciplinada porque todos estão respeitando o cronograma", afirmou o economista do BID. Devlim disse também que o Brasil será um dos maiores beneficiários da Alca. Mas, alertou, isso não sairá de graça. "O Brasil, embora esteja melhor posicionado na América Latina por causa de seu alto grau de industrialização, vai precisar se ajustar. Mas, para isso, terá dez, 12 ou 15 anos." Para os economistas do BID, as negociações comerciais, sejam elas em qualquer frente, estão colocando os governos diante de decisões críticas que vão afetar os países nas próximas décadas.

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