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BID investe US$ 1,5 milhão em programa para Dekasseguis

Por Agencia Estado
Atualização:

Os brasileiros descendentes de japoneses que vão trabalhar no Japão, conhecidos como dekasseguis, receberão apoio quando retornarem ao País e quiserem montar seu próprio negócio. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) fez uma parceria com o projeto Dekassegui Empreendedor, organizado pelo Sebrae e pela Associação Brasileira de Dekasseguis, e vai investir ao longo de quatro anos US$ 1,55 milhão na capacitação dos trabalhadores que voltam para o Brasil. Uma primeira parcela - referente a 10% do total - deve ser liberada até o dia 31. O programa terá um orçamento total de US$ 3,1 milhões, sendo 50% do Sebrae e 50% do BID. "Metade dos brasileiros que vão para o Japão tem vontade de montar um negócio no Brasil quando voltam", diz o diretor da Associação Brasileira de Dekasseguis (ABD), Kyoharu Miike. "Em média, eles trazem US$ 60 mil para investir, mas não têm idéia de que tipo de empresa começar. Esse programa vai ajudar a orientá-los." Existem hoje cerca de 370 mil brasileiros trabalhando no Japão, principalmente em empresas do setor automotivo, como a Toyota. "Eles serão orientados antes de ir, durante a estadia lá e também na volta", diz o coordenador do programa no Sebrae, Silmar Rodrigues. "Quem já está lá ou já voltou também pode participar, apenas fará os módulos mais rapidamente." A princípio, serão atendidos os dekasseguis de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul e Pará. A partir de fevereiro, um representante do Sebrae estará percorrendo os quatro estados, e em março, este profissional será deslocado para Nagóia para iniciar os contatos com instituições e representantes dos dekasseguis no Japão. Segundo Rodrigues, a meta é que sejam capacitados cerca de dez mil dekasseguis em quatro anos e que pelo menos 1.000 abram uma empresa. "É um programa complexo, porque além da parte de gestão, existe uma parte psicológica para ajudar o trabalhador a lidar com as mudanças pelas quais passa," diz. "Muita gente pensa que as pessoas vão para lá, ganham rios de dinheiro e ficam felizes", diz a fisioterapeuta Erika Martins Sakaguti. Ela e o marido Eduardo foram para o Japão após se formarem, com a intenção de estudar e trabalhar. Trabalharam numa linha de montagem de uma fábrica - como faz a maioria dos dekasseguis. "Por ser muito caro, só mais tarde conseguimos fazer um curso e aprimorar nossos conhecimentos trabalhando em uma clínica", conta. "Havíamos planejado ficar quatro anos e acabamos ficando sete." De volta ao País há 3 anos, o casal montou uma clínica em Curitiba. "De bom, trouxemos a organização, a determinação e o respeito no trato com os clientes. Mas lidar com a burocracia do Brasil foi complicado." Para ela, programas que auxiliem os dekasseguis a empreender são muito bem-vindos. "Vale a pena se informar desde lá para não sentir o choque depois. Já houve casos de gente que foi passada para trás por não saber no que investir o dinheiro que trouxeram." O casal Mozart e Leonor de Souza ficou alguns meses pesquisando antes de decidir o que fazer quando voltou ao Brasil, após 12 anos no Japão. "O plano inicial era ficar apenas dois", lembra o empresário. "Mas quando fomos, em 1990, o Brasil passava por turbulências econômicas e resolvemos ficar lá, juntando dinheiro até que a situação se acalmasse." Após trabalharem montando placas de circuito impresso numa fábrica de equipamentos eletrônicos, eles usaram o dinheiro acumulado para abrir um quiosque franqueado da empresa japonesa Sanrio, em Curitiba. "Por acaso, o representante da Sanrio que nos visitou também era dekassegui, e logo houve uma afinidade." Hoje eles já têm duas lojas da marca. Miike, da ABD, diz que quase todos os dekasseguis que abrem empresas escolhem o setor de comércio ou serviços. "São raros os que montam pequenas indústrias." Ele acredita que o BID resolveu apoiar inicialmente os dekasseguis por serem alguns dos migrantes mais organizados do mundo. "Todos os que viajam vão legalizados, com possibilidade de trabalhar e abrir contas." Rodrigues, do Sebrae, explica que o modelo utilizado no programa Dekassegui Empreendedor será desenvolvido para ser aplicado futuramente para outros grupos de migrantes. "Há muita gente que vai para os Estados Unidos ou para a Europa com os mesmos propósitos, e também precisa de orientação empreendedora," diz. "E o BID não está dando esse dinheiro porque é fã do Brasil. Em troca do apoio, vamos desenvolver ao máximo o programa para que o banco possa usá-lo em outros países."

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