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Bird ataca subsídio a etanol dos EUA

Por Patrícia Campos Mello e WASHINGTON
Atualização:

Uma séria advertência contra a produção de biocombustíveis nos Estados Unidos e na Europa e seus efeitos sobre os preços dos alimentos no mundo marcou o encerramento da reunião de primavera do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI), ontem. "Nossos estudos mostram que, claramente, alguns dos biocombustíveis são parte do quebra-cabeça (da alta dos preços de alimentos)", disse o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick. "Alguns países querem ter programas de subsídios para biocombustíveis, porque decidem que são importantes para sua segurança energética - eu espero que esses países prestem muita atenção quando nós tivermos situações de emergência no Banco Mundial de alimentos, como está ocorrendo agora." Zoellick fez questão de ressaltar as diferenças entre o etanol brasileiro e os biocombustíveis de milho e canola, por exemplo. "A maioria dos estudos mostra que o biocombustível de cana do Brasil tem eficiências adicionais em termos de emissões de gases poluentes", disse ele. E o etanol celulósico pode ser uma maneira de reduzir custos energéticos sem diminuir a oferta de alimentos, acrescentou. Ele centrou as críticas nos programas de subsídios a biocombustíveis nos EUA e Europa. "Há uma certa incongruência em manter programas de subsídio ao mesmo tempo em que se tem tarifas, como é o caso americano", disse Zoellick, referindo-se aos subsídios ao etanol de milho nos EUA, ao mesmo tempo em que o país mantém tarifas para o etanol de cana importado. Para o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, o maior problema hoje "é o déficit na produção de alimentos". Ele admitiu que a preocupação do FMI com a inflação dos alimentos pode causar surpresa. "Algumas pessoas podem achar que o FMI não tem nada a ver com a alta de preços dos alimentos", disse. "Mas estamos trabalhando há anos com países de baixa renda para melhorar o ambiente e a inflação de alimentos pode destruir tudo o que construímos." Strauss-Kahn afirmou que o Fundo está modificando seus instrumentos financeiros, como a linha de crédito para choques exógenos, para que possa ser eficiente na ajuda a países afetados pela crise dos alimentos. Zoellick estimou que a alta de 100% nos preços dos alimentos nos últimos três anos pode empurrar para a pobreza 100 milhões de pessoas em países emergentes. Ontem de manhã, o Banco Mundial promoveu uma discussão sobre como incentivar países emergentes a reduzir a emissão de gases poluentes. Mantega reagiu às sugestões de Zoellick sobre uma maior participação dos países emergentes nesses esforços. "Não se deve esperar que países em desenvolvimento contribuam com o combate ao aquecimento global às custas de seu desenvolvimento", disse Mantega em seu discurso.

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