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Bird mostra como a Ásia bateu a América Latina

Asiáticos foram mais eficientes até na corrupção, que foi mais organizada

Por Agencia Estado
Atualização:

Há 40 anos o Leste da Ásia tem sido o campeão mundial do crescimento econômico. A região continua na frente e até 2010 mais de 95% de seus habitantes viverão em países de renda média, segundo o Banco Mundial (Bird). Entre 1990 e 2005, quase 500 milhões de pessoas saíram da pobreza, deixando de viver com menos de US$ 2 por dia. "Mas o desafio do desenvolvimento no nível de renda média é consideravelmente mais complexo, e os países precisam adaptar sua estratégia", disse nesta segunda-feira o economista-chefe do Bird para a região, Homi Kharas. A má notícia, portanto, é que eles têm de se preparar para uma fase superior do desenvolvimento e esse é o mote principal do relatório Um Renascimento Leste-asiático (An east asian renaissance). Para a América Latina o desafio é muito diferente: consolidar a disciplina adotada nos últimos anos para que o atual surto de crescimento não termine abruptamente em mais uma crise, Foi esse o recado principal do economista chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o Hemisfério Ocidental, Anoop Singh. Nos últimos 50 anos, muitos países saíram de níveis de renda associados a "padrões abjetos de pobreza" para o status de renda média, mas não passaram disso, segundo o relatório coordenado por Homi Kharas e Indermit Gill. "A parte do mundo mais decepcionante foi a América Latina, onde muitos países alcançaram níveis de renda média e então, essencialmente, pararam de crescer", de acordo com o estudo. Pela classificação do Bird, países com renda por habitante inferior a US$ 825 são de renda baixa. Na faixa entre US$ 826 e US$ 3.255 ficam os de renda média baixa. No intervalo de US$ 3.256 e US$ 10.655, os de renda média alta. Até o ano 2000, havia oito latino-americanos classificados em alguma faixa da categoria média: Brasil, México, Argentina, Colômbia, Peru, Uruguai, Venezuela e Chile. Oito do Leste da Ásia estavam nesse grupo (China, Indonésia, Tailândia, Malásia e Filipinas) e cinco na classe de renda alta (Japão, Cingapura, Hong Kong, Taiwan e Coréia do Sul). Tendência Se a atual tendência for mantida, mais de 95% dos habitantes do Leste da Ásia viverão em países de renda média até 2010. Em 2020, menos de 25 milhões estarão abaixo da linha da pobreza, num total de mais de 2 bilhões de pessoas. O contraste com a América Latina aparece com força nos números de longo prazo. Entre 1966 e 2004 o Produto Interno Bruto (PIB) por habitante do Leste da Ásia e do Pacífico aumentou 5,77% ao ano. Na América Latina e no Caribe, apenas 1,46%. Em 34 anos desse período, o crescimento do PIB per capita superou 2% anuais nos países da Ásia. Nos latino-americanos, isso ocorreu em apenas 14 anos. Há quatro décadas, a economia latino-americana era a mais forte, fora do mundo desenvolvido. Hoje, perde de longe para a asiática. De 1990 até o presente, o PIB conjunto dos emergentes do Leste da Ásia passou de US$ 1,2 trilhão para US$ 4 trilhões. Com Japão, Austrália e Nova Zelândia, o total sobe para US$ 9,5 trilhões, cerca de um quarto do produto mundial. Todo o PIB latino-americano deve ficar próximo de US$ 2 trilhões, pelas medidas convencionais. Com a elevação da renda, as pessoas tendem a diversificar sua demanda, procurando maior variedade de bens, Isso pode levar a uma diversificação da oferta interna. Mas o crescimento tende a ser mais veloz e mais seguro quando há especialização e escala, observam os autores do estudo. Segundo eles, o Leste da Ásia aproxima-se dessa encruzilhada. Outro problema observado muitas vezes é que as economias em desenvolvimento, quando atingem certo nível de modernização, ficam espremidas entre as do Primeiro Mundo, que dominam a tecnologia mais avançada, e as menos desenvolvidas, que dispõem de mão-de-obra mais barata. As do Leste da Ásia estão conseguindo contornar esses problemas, porque investiram tanto em tecnologia quanto na educação. Comércio intra-regional A abertura e a regionalização foram fatores decisivas para o crescimento da região, segundo o relatório. A abertura dos mercados e a busca da eficiência estimularam o comércio intra-regional, A experiência do Leste da Ásia e do Pacífico é descrita como regionalização e não como regionalismo, Redes de produção criaram uma forte dependência entre os países. As multinacionais japonesas dirigem mais de 80% de suas exportações de filiais na Ásia para outros países da região. Além disso, 95% de suas importações provêm de indústrias instaladas na Ásia. A abertura de mercado entre os países da área tem sido, segundo o estudo, um importante fator de atração de investimento estrangeiro. O comércio intra-regional de partes e componentes dá uma idéia da interdependência criada na região. Entre 1990 e 2003, a parcela do comércio intra-regional desses produtos no total das exportações japonesas passou de 22,9% para 32,6%. No caso da Indonésia, de 0,8% para 9,1%. No da Malásia, de 19,5% para 39,5%. Também nesse aspecto há um contraste com a América Latina. Entre 1990 e 2003, o comércio intra-regional cresceu de 42% para 54% do total no Leste da Ásia, de 37% para 45% no Nafta (América do Norte caiu de 65% para 60% na União Européia e subiu de 10% para modestos 15% no Mercosul. Embora o Mercosul seja uma união aduaneira, a idéia das cadeias produtivas pouco avançou a integração industrial entre os sócios do bloco permanece muito baixa. Corrupção O relatório aponta, no entanto, uma importante semelhança entre os emergentes do Leste da Ásia e os latino-americanos: "Com exclusão de Cingapura e de Hong Kong, a corrupção no Leste emergente da Ásia é alta, comparável com a da América Latina, e talvez tenha crescido recentemente". Mas, se esse é o caso, como explicar a coexistência do crescimento econômico e dos altos níveis de corrupção. O relatório cita uma hipótese formulada por cientistas políticos. Como a corrupção é centralizada e organizada, é possível tirar dinheiro das empresas com suficiente cuidado para que não quebrem nem vão embora para outro país. Com a democratização, no entanto, a corrupção tornou-se menos organizada e menos visível como alvo para a indignação pública. No longo prazo, democracia e liberdade de imprensa podem te, segundo o estudo, um impacto significativo no combate às bandalheiras. Mas democracia e novas instituições levam a tempo para se firmar e, no intervalo, os países podem ter de conviver com governos descentralizados e ainda corruptos, mas sem a eficiência econômica da corrupção no velho estilo.

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