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Black Friday vira Best Friday sob efeito de debate antirracista

Para especialistas, mudança no nome da promoção do varejo é estratégia de mercado, mas precisaria ser acompanhada de ações concretas

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Por Ludimila Honorato
Atualização:

A festa do varejo se aproxima e, com ela, as dúvidas sobre o uso do termo Black Friday. Afinal, esse nome é racista?

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No ano passado, o Grupo Boticário comunicou que deixaria de usar a expressão para combater o racismo e passou a chamar a semana de promoções de Beauty Week, e outras companhias têm seguido a tendência. Avon, Olist e Pagar.me usam Best Friday (melhor sexta-feira), enquanto pequenos e médios negócios do setor de cosméticos naturais optam por nomenclaturas como Green Friday (sexta-feira verde), que remete à sustentabilidade.

Já o Facebook lançou neste mês a Sexta-Feira Preta, série de lives semanais programadas para novembro para estimular o empreendedorismo negro, com transmissão na página do Facebook para Empresas. A iniciativa, parte do movimento global #BuyBlack, ocorre dentro da programação da 20ª edição do Festival Feira Preta.

No Brasil, diferente dos EUA, termo é percebido com tom racista Foto: Nilton Fukuda/Estadão

A Black Friday surgiu nos Estados Unidos, onde a palavra “black” não é necessariamente negativa. A frase “to be in black”, por exemplo, indica saldo positivo, como o nosso “estar no azul”. A importação do evento talvez não tenha considerado o contexto do Brasil, onde expressões como “a coisa está preta” carregam um valor pejorativo.

Segundo especialistas, o movimento é mais uma estratégia para atrair um novo perfil de consumidor. “Vejo essa mudança para atingir o maior público e isso depende da simpatia que as pessoas que estão no movimento vão ter da campanha”, afirma Luiz Tibiriçá, presidente da agência de serviços digitais Krone Design. 

PRIORIDADE

Evitar a expressão Black Friday só fará sentido se vier acompanhado de iniciativas concretas. Para a historiadora Suzane Jardim, que pesquisa temas étnico-raciais, o antirracismo associado apenas à exclusão de palavras e frases reduz a causa a uma fórmula de conduta e de autocontrole e não contempla questões profundas, como o racismo estrutural da sociedade.

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“Não adianta não usar Black Friday e não ter lideranças negras ou produtos para o público negro”, diz a pesquisadora.

Suzane lembra que há usos das palavras “preto” e “negro” que são políticos e mostram a potência da comunidade, como o movimento Black Money, criado por Nina Silva, e a Feira Preta, fundada por Adriana Barbosa.

Presidente do PretaHub, Adriana também prefere olhar para as prioridades. “Não há um consenso sobre o termo Black Friday. São discussões sem embasamento teórico, sem estudo e, às vezes, as empresas usam a questão racial e relativizam sem se aprofundar no que significa ou se apropriam e trazem polêmica junto. Aqui, a gente busca outras formas de falar sobre a questão racial e traz a potência do empreendedorismo negro.” 

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