Publicidade

BNDES lidera crédito ao cinema nacional

Depois de trocar o papel de patrocinador para o de financiador, banco já liberou R$ 142,2 milhões para a indústria audiovisual

Por Alexandre Rodrigues
Atualização:

Com seu logotipo cada vez mais presente nos créditos iniciais de filmes nacionais, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) assume aos poucos o papel de principal incentivador da indústria de audiovisual no País. Nos últimos cinco anos, o banco já direcionou R$ 142, 2 milhões para o setor e está por trás de mais da metade do patrimônio de fundos que investem mais de R$ 30 milhões em produções. Em 2006, o BNDES decidiu encarar o audiovisual como mais um segmento econômico e trocou o papel de patrocinador pelo de financiador e investidor. Em 2009, o BNDES desembolsou R$ 31,3 milhões para a indústria de audiovisual, superando os R$ 26,6 milhões do edital da Petrobrás, a mais conhecida apoiadora do cinema nacional. Só no primeiro semestre deste ano, o BNDES liberou R$ 23,2 milhões a projetos audiovisuais. Grande parte do apoio do banco ao setor não vem mais de recursos não reembolsáveis a título de apoio cultural. O BNDES agora empresta para produtores, distribuidores e exibidores ou se torna sócio de produções por meio de fundos. Mas ainda não satisfaz os produtores. Segundo a Agência Nacional de Cinema (Ancine), o BNDES liderou em 2009 o ranking de investidores no cinema pelo modelo estabelecido na Lei do Audiovisual (8685/93). Ela permite a comercialização de certificados audiovisuais, cotas das produções que geram participações nos lucros e permitem dedução fiscal do investimento. Bilheterias milionárias como a de Chico Xavier (R$ 30 milhões) tornaram o retorno a esses papéis mais atraentes. Para atrair investidores, o BNDES lidera 2 dos 14 fundos de investimentos voltados para esse mercado, os funcines. O maior deles, administrado pela Rio Bravo, é o RB Cinema I. Tem R$ 15 milhões do patrimônio comprometido, sendo dois terços do BNDES. Em outro, gerido pela Lacan com a participação da Distribuidora Downtown, o BNDES banca pouco mais da metade do patrimônio de R$ 14,08 milhões.Sucessos. Por meio desses fundos, o BNDES está por trás de sucessos recentes de bilheteria como Divã, Última Parada 174, Os Desafinados e Salve Geral, além de futuros lançamentos, como Roque Santeiro. Também tem viabilizado filmes com operações diretas de crédito, como o infantil Xuxa em O Mistério de Feiurinha, da Conspiração Filmes, que contou com financiamento de R$ 1,9 milhão do BNDES. O modelo foi repetido para o longa do diretor Andrucha Waddington, Lope, uma coprodução com a Espanha que estreia no Brasil no mês que vem. O BNDES financiou R$ 3,95 milhões do projeto.De acordo com a chefe da área de Economia da Cultura do BNDES, Luciane Gorgulho, o banco reduziu de R$ 10 milhões para R$ 1 milhão o limite mínimo para operações diretas em audiovisual e flexibilizou garantias usando mecanismos como a antecipação de recebíveis. "O setor é muito pulverizado. É difícil estabelecer garantias porque os ativos são baseados em intangíveis", diz Luciane. "Aproveitamos para aplicar linhas mais atrativas para pequenas empresas." O BNDES lança este mês seu terceiro funcine, gerido pela Lacan, focado na produção de animação para cinema e TV e patrimônio de cerca de R$ 6 milhões (70% do BNDES). Outros dois fundos a serem liderados pelo banco estão em fase de captação. RioMarket. Para ajudar a desenvolver esse mercado, o BNDES patrocina o RioMarket, rodada de negócios que acontece esta semana em paralelo ao Festival do Rio. Vários painéis discutirão o financiamento e modelos de negócios para o audiovisual. "O mecanismo de recebíveis permitiu encurtar significativamente o ciclo de produção, pois não precisamos mais esperar que todo o dinheiro que captou seja recebido antes de começar a produzir", conta Ricardo Rangel, diretor da Conspiração. Diretora do Festival do Rio e sócia da Total Filmes, Walkiria Barbosa diz que as mudanças no BNDES estão movimentando o setor, mas o crédito ainda é insuficiente. "Para formar uma indústria, precisamos fortalecer as empresas. O audiovisual pode amenizar a conta do País com royalties para o cinema estrangeiro exportando filmes ou produzindo aqui projetos de outros países", diz Walkiria, que assina sucessos como Se eu Fosse Você 2 (três milhões de expectadores). A produtora Paula Barreto também acha o crédito do BNDES (que teve desembolso total de R$ 137 bilhões em 2009) para o audiovisual pequeno, mas ressalta que, ao trocar a lógica do patrocínio pela do financiamento, o banco estimula a organização financeira das produtoras e direciona recursos para filmes mais viáveis comercialmente. "Como o dinheiro é pouco, os editais de patrocínio acabam beneficiando filmes pequenos. O Brasil produz 100 filmes por ano, mas só cinco ultrapassam 100 mil expectadores. No entanto, serão os filmes comerciais que transformarão nosso cinema em indústria", diz a produtora de Lula, Filho do Brasil. Para ela, o risco do investimento cairia com estúdios fortes. Rangel concorda que a ação do BNDES influencia o estímulo ao cinema de maior apelo popular. Mas não vê nisso o estrangulamento do chamado cinema de arte. "Para o cinema ser uma indústria, precisa ser economicamente autossustentável. Onde existe uma indústria cinematográfica, existe o espaço para o cinema de arte e o experimental. Onde não existe, o (pouco) cinema que é feito dependerá integralmente (e eternamente) do subsídio governamental."AS APOSTAS DO BNDESInvestimentos indiretos por meio de fundosO Maior Amor do Mundo (Cacá Diegues); O Ano em que meus pais saíram de férias (Cao Hamburguer); A Guerra dos Rocha (Jorge Fernando); Os desafinados (Walter Lima Jr.) Budapeste (Walter Carvalho); Xuxa em Sonho de Menina (Rudi Lagemann); Última Parada 174 (Bruno Barreto); Divã (José Alvarenga Jr.); Tempos de Paz (Daniel Filho) Produtoras que nos últimos12 meses receberam financiamentos Conspiração Filmes (R$ 5,8 milhões); O2 Filmes Curtos (R$ 750 mil); Morena Filmes (R$ 750 mil); Bossa Nova Filmes (R$ 450 mil); Total Entertainment (R$ 450 mil); Videofilmes (R$ 250 mil)

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.