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BNDES lucra R$ 9,8 bilhões com vendas de ações

O resultado foi impulsionado pela venda de participações acionárias em grandes companhias, como a mineradora Vale e a fabricante de papel e celulose Klabin

Por Vinicius Neder
Atualização:

RIO - O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) registrou lucro líquido de R$ 9,8 bilhões no primeiro trimestre, alta de 78% ante igual período de 2020, informou a instituição de fomento nesta quinta-feira, 13. O resultado foi impulsionado pela venda de participações acionárias em grandes companhias, como a mineradora Vale e a fabricante de papel e celulose Klabin, e pelo aumento nas concessões de empréstimos.

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Foto: Sergio Moraes/Reuters

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No primeiro trimestre, o BNDES vendeu um total de R$ 12,6 bilhões em ações, incluindo a venda de todas as ações que ainda possuía da Vale, deixando de vez sua participação na mineradora. Com isso, a carteira de participações societárias encerrou o primeiro trimestre em R$ 61,5 bilhões, 21,1% abaixo do quarto trimestre de 2020. O banco ainda tem fatias relevantes na Petrobrás, na Eletrobrás, no frigorífico JBS e na elétrica Copel. Montezano reafirmou a intenção de continuar vendendo essas ações – o BNDES já confirmou que fará uma oferta dos papéis da Copel.

No crédito, os desembolsos para empréstimos já aprovados, ainda turbinados pelo aumento das contratações por causa das medidas emergenciais para mitigar a crise causada pela covid-19, somaram R$ 11,3 bilhões nos três primeiros meses do ano, alta de 35% ante igual período de 2020. Em termos reais, descontada a inflação, a alta foi de 28,3%.

Apesar do salto, os desembolsos foram historicamente baixos. No primeiro trimestre de 2020, os R$ 8,9 bilhões liberados pelo BNDES, já atualizados pela inflação, foram o menor valor desembolsado desde o primeiro trimestre de 1997. O valor desembolsado agora é ligeiramente inferior aos R$ 12,2 bilhões do primeiro trimestre de 2000 – e, sobre o primeiro trimestre de 2019, antes da pandemia, apresentam tombo de 28,6%.

Para o presidente do BNDES, Gustavo Montezano, o lucro bilionário mostra um resultado “robusto”, em continuidade ao cenário apresentado em 2020, mas “meramente financeiro”, puxado por movimentos “especulativos na Bolsa”, que não se repetirão muitas vezes e ficarão para trás à medida que a instituição de fomento avança na mudança de seu papel estratégico. Excluídos efeitos extraordinários, como a venda das ações, o resultado recorrente do BNDES foi positivo em R$ 2,4 bilhões no primeiro trimestre de 2021, estável em comparação ao mesmo período de 2020.

Em seu novo papel, o BNDES deixa para trás os empréstimos bilionários e os aportes gigantescos em grandes companhias, reafirmou Montezano. Os desembolsos do primeiro trimestre foram historicamente baixos, mas 46% do total liberado (R$ 5,2 bilhões) foram em empréstimos para empresas de menor porte (MPMEs) e 49% (R$ 5,6 bilhões) para projetos de infraestrutura. Esses serão os focos do BNDES daqui para a frente, conforme Montezano.

“Durante quase duas décadas, o BNDES foi um monopolista, distribuindo subsídios vultosos. Agora, tem que apoiar a infraestrutura ou pequenas e microempresas”, afirmou Montezano, durante a apresentação on-line dos resultados financeiros do primeiro trimestre.

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Isso pode até significar correr mais risco, em operações com impactos positivos. Conforme Montezano, mesmo com a decisão de mudar sua atuação, o BNDES ainda tem 55% de seu risco de crédito alocado em operações garantidas por instituições financeiras repassadoras ou com aval da União – ao mesmo tempo em que corria riscos no mercado de ações.

“A ideia é reduzir a exposição de risco com a União e instituições financeiras, para ampliar a exposição a risco em projetos com externalidade”, disse Montezano, completando que isso passa por assumir mais risco em financiamentos de “project finance” para infraestrutura, oferecendo garantias ou exigindo menos fianças bancárias. “É alocar risco mais diretamente na ponta, seja na infraestrutura seja para o pequeno produtor rural. Alocar risco em especulação financeira é mau uso”, disse Montezano.

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