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Economia e políticas públicas

Opinião|Boas novas no RTI

Muitos economistas projetam inflação mais baixa do que a prevista no modelo do Banco Central

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Atualização:

No Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de setembro, divulgado ontem, o Banco Central (BC) alongou o horizonte das suas projeções sobre o IPCA, o índice oficial do sistema de metas, até 2020.

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A projeção mais significativa é aquela que se faz considerando que a Selic, a taxa básica de juros, e o câmbio seguirão a trajetória atualmente prevista pelos analistas de mercado. O Banco Central toma essas expectativas sobre a Selic e o câmbio, e com elas o seu modelo econométrico projeta qual será o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ao fim de cada ano até o horizonte da previsão.

O que saiu no RTI de setembro é que a inflação ficará em 3,2% este ano, e em 4,3%, 4,25% e 4,1% em, respectivamente, 2018, 2019 e 2020. A meta é de 4,5% este ano e no próximo; de 4,25% em 2019; e de 4% em 2020. Assim, de acordo com essas projeções, o IPCA fica abaixo da meta neste e nos próximos dois anos, e ligeiramente acima em 2020.

Hoje, a Selic está em 8,25%. Resta saber, portanto, qual é a trajetória prevista pelos analistas, que faz – supondo que eles também acertem a trajetória do câmbio – com que o BC crave a inflação pertinho da meta central de 2018 a 2020. Ela é bastante simples. Considerando o último dia de cada ano, 7% em 2017 e 2018, 8% em 2019 e 2020.

Na verdade, porém, muitos economistas projetam inflação mais baixa à frente, comparada aos números que saíram do modelo do BC. Em 2017, por exemplo, diversos analistas acham que o IPCA pode ficar até abaixo de 3%, caso em que o Copom terá “errado” de uma perspectiva formal.

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Explica-se: em torno da meta de inflação há um intervalo de 1,5 ponto porcentual (pp) para cima e para baixo, considerado uma margem de tolerância. Se o IPCA ficar acima ou abaixo dessa margem, o BC tem de formalmente justificar por que deixou a inflação se desviar tanto da meta, em carta aberta ao Ministério da Fazenda.

É claro que ninguém vai se importar muito com esse eventual “erro para baixo”, já que o problema brasileiro com inflação é errar para cima.

Além disso, o BC tem boas desculpas. A dimensão do choque deflacionário dos alimentos, que pouco tem a ver com a política monetária, foi uma surpresa monumental. E o cenário externo está tão favorável que as melhores mentes econômicas do mundo se esforçam para entender como os países avançados podem estar se recuperando firmemente sem que haja o mais leve sinal de inflação – e de alta de juros internacionais, o que tenderia a depreciar o real e aumentar a inflação brasileira.

De qualquer forma, a inflação ainda mais baixa que a do modelo do Banco Central, enxergada pelos analistas, significa que há alguma chance de que a Selic caia ainda mais, quem sabe para algo em torno de 6,5%, e possa permanecer em níveis bastante baixos por mais tempo do que hoje se prevê.

Mas não para sempre. O juro real (juro nominal descontado da inflação) já está abaixo do nível neutro, que não estimula nem desestimula a economia. Em outras palavras, a Selic já está num nível baixo o suficiente para insuflar a demanda, como o BC quer neste momento. O juro não pode ficar abaixo do nível neutro para sempre, porque em algum momento a economia superaqueceria. Assim, depois que o empurrão necessário tiver sido aplicado, a Selic deve voltar a subir na direção da neutralidade.

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Porém, como a economia tem muita capacidade ociosa, isto é, muitos desempregados e muitas fábricas e empresas produzindo menos do que podem, o ponto de superaquecimento está bem longe e o juro pode ficar abaixo do neutro por mais tempo.

A última boa notícia é que há uma onda de revisões para cima das projeções do Produto Interno Bruto (PIB) de 2017 e 2018, embora para níveis nada espetaculares. No RTI de dezembro, o BC reviu sua previsão para este ano de 0,5% para 0,7%, e projetou em 2,2% o crescimento para 2018. Pode haver novas surpresas positivas em termos de projeção de crescimento daqui para frente.

*COLUNISTA DO BROADCAST E CONSULTOR DO IBRE/FGV

Opinião por Fernando Dantas
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