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Boi Gordo possui mais imóveis do que bois

A empresa aumentou a venda de títulos aos investidores, mas seu estoque de animais foi reduzido. O balanço patrimonial da empresa revela o descasamento entre os compromissos da empresa e seus ativos, o que representa um risco para o investidor.

Por Agencia Estado
Atualização:

A imobilização dos recursos financeiros dos investidores em terras é apontado por fontes do mercado como uma das principais causas para as atuais dificuldades financeiras da empresa Fazendas Reunidas Boi Gordo S.A. A empresa, apesar de estar vendendo novos Contratos de Investimento Coletivo (CICs), não aumentou seu estoque de animais. Para se ter uma idéia, a empresa tinha em maio do ano passado R$ 257,649 milhões em contratos a vencer com clientes em parceria no curto prazo e outros R$ 215,555 milhões no longo prazo, somando R$ 473,204 milhões. Em 31 de maio deste ano, este total passou para R$ 638,934 milhões. No mesmo período, os estoques de animais caíram de R$ 150,277 milhões para R$ 115,005 milhões, apesar do aumento de CICs em poder dos investidores. Segundo o balanço da empresa, o valor total dos imóveis destinados à venda passaram de R$ 56,955 milhões em maio de 2000 para R$ 116,674 milhões em maio deste ano. Já o total do ativo permanente imobilizado, representado principalmente pelos imóveis com liquidez muito baixa, passou de R$ 192,444 milhões para R$ 237,621 milhões no mesmo período. Somando os investimentos em terras, a Boi Gordo tinha em maio do ano passado R$ 249,399 milhões, valor que subiu 42% no intervalo de um ano para R$ 354,295 milhões. A empresa não explicou porque preferiu investir o dinheiro dos parceiros em terras e não na engorda de animais efetivamente. O balanço também revelou que a empresa tinha em maio deste ano um patrimônio líquido negativo de R$ 222,804 milhões, o que significa que a empresa tem um volume de dívidas maior do que o total de recursos, incluindo imóveis e animais (veja mais informações no link abaixo). Números sinalizam alto risco O problema da alta concentração dos ativos em imóveis é que isso cria um descasamento entre o ativo da Boi Gordo - composto principalmente por imóveis - e o passivo, que é formado por títulos que prometem a rentabilidade obtida na engorda do bovino. Para o investidor, este descasamento significa risco, pois os imóveis têm menor facilidade de negociação e tendem a apresentar rendimento inferior ao do ganho com a criação de bois. A Boi Gordo vinha prometendo uma engorda mínima de 42% em 18 meses, o que era forte atrativo para a captação de recursos. Questão agora é saber preço dos imóveis Outro problema levantado pelas fontes ouvidas pela Agência Estado é o dos preços de venda dos imóveis. Não há garantias de que os valores do imóveis registrados em balanço serão obtidos na venda. Vai depender de como estiver a demanda por terras. O preço tanto pode estar maior, garantindo valorização do investimento, quanto menor. Este é mais um motivo de preocupação dos investidores, que podem perder ainda mais se os preços dos imóveis no momento da venda forem menores que os registrados em balanço.

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