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Boi Gordo tem dívidas acima dos ativos

O patrimônio líquido da Boi Gordo estava negativo em R$ 222,804 milhões no dia 31 de maio. Isso significa que a empresa deve mais do que tem em ativos.

Por Agencia Estado
Atualização:

Os dados do balanço patrimonial da Fazendas Reunidas Boi Gordo S.A revelam que a empresa apresentava um patrimônio líquido negativo de R$ 222,804 milhões em 31 de maio deste ano. Quando o patrimônio líquido de uma empresa está negativo significa que suas dívidas são maiores do que seus recursos, ou seja, que o seu passivo é superior ao seu ativo. A própria empresa reconhece que, até a data de apresentação do pedido de concordata preventiva, apresentado no dia 15 de outubro na Comarca de Comodoro, no Mato Grosso (veja mais informações no link abaixo), seu passivo era de R$ 780 milhões e o seu ativo, de R$ 500 milhões. Uma diferença de R$ 280 milhões. Por meio de um esclarecimento divulgado pela sua Assessoria de Imprensa, a Boi Gordo afirma que vai honrar todos os seus compromissos, mas não detalha como pretende reverter os prejuízos do passado. A empresa apenas informa que o plano de pagamento aos credores, que incluem os investidores, é de dois anos. A empresa planeja pagar 40% do que deve no final do primeiro ano e os demais 60% no final do segundo. Empresa reclama da demora na aprovação de novos títulos A empresa alega que a demora da Comissão de Valores Mobiliário (CVM) na aprovação da emissão de novos dos títulos foi um dos motivos para a sua atual dificuldade financeira, que motivou o pedido de concordata preventiva. Mas, de acordo com o advogado Nelson Miyahara, isso não é uma justificativa lógica, para quem conhece a operação de engorda de animais. "Se nada atípico aconteceu, ou seja, se o gado que deveria ter sido comprado está seguro no pasto engordando, a Boi Gordo não teria razões para pedir concordata. Inicialmente, tudo indica que o problema da empresa é de má administração", afirma o advogado. A questão é operacional. O investidor adianta o dinheiro para a Boi Gordo comprar gado magro e engordar. Antes do vencimento do contrato - quando o investidor resgata seu dinheiro -, a empresa precisa vender o boi. Não importa o preço de venda: se a operação foi bem realizada, o boi engordou, foi vendido e o dinheiro do investidor está disponível no caixa. A empresa não pode depender de novas emissões de títulos - ou seja, do dinheiro de outros investidores - para poder pagar seus antigos compromissos. Nem seca explica perdas É fato que o Brasil vem passando por uma forte seca há três anos, o que prejudicou o mercado de engorda de animais. De acordo com o consultor Alcides Torres, da Scot Consultoria, especializada em mercado agrícola, a reprodução bovina costuma ser menor em períodos de seca, o que poderia ter dificultado a reposição do rebanho. "Não conheço as fazendas da Boi Gordo e nem a forma de criação do seu rebanho, mas, com certeza, esta fase negativa provocada pela seca não seria suficiente para provocar um prejuízo superior a R$ 200 milhões", afirma o consultor. Compra de imóveis pode ter prejudicado empresa Segundo comunicado da empresa, a Boi Gordo possui 111 fazendas próprias e 29 arrendadas, o que totaliza 300 mil hectares. A empresa informa que possui 225 mil cabeças de gado e 5 mil cabeças de matrizes e reprodutores. Em pasto considerado bom, segundo Torres, cada boi necessita de 1 hectare para criação. Em pasto ruim, está área deve ser maior, de 2,42 hectares. Esta proporção leva em conta a criação do gado livre no pasto, de acordo com o consultor. Sobre esta relação, ele afirma que os números da Boi Gordo não são discrepantes, mas que o problema é a imobilização dos recursos na compra de imóveis. Segundo ele, o arrendamento de terras pode ser uma opção menos onerosa e mais eficiente, já que o custo do arrendamento é apenas de 10% a 15% do valor da arroba. O problema da elevada imobilização em imóveis é que o preço do imóvel não "engorda" como o boi. Veja mais informações sobre a imobilização dos recursos da Boi Gordo e os números do seu balanço no link abaixo.

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