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Boicote à carne brasileira sugere ação conjunta do Nafta

Segundo o coordenador de Assuntos Internacionais do IEA/USP, professor Gilberto Dupas, fato de fazer parte do Nafta, o Canadá pode, sim, pleitear apoio dos EUA e do México em questões comerciais.

Por Agencia Estado
Atualização:

O efeito econômico da ação liderada pelo Canadá contra o Brasil é apenas um aspecto do contencioso que já está sendo chamado de guerra comercial. O professor Gilberto Dupas, coordenador de Assuntos Internacionais do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, não descarta que a posição de cautela do Brasil em relação às negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) esteja favorecendo atitudes mais agressivas por parte dos países que defendem a antecipação do cronograma, como é o caso dos EUA, parceiro do Canadá no Nafta. "O presidente Bush quer antecipar as negociações e sabe que o calendário brasileiro é mais longo, que o País tem mais reservas", afirmou. Dupas concorda que, pelo fato de fazer parte do Nafta, o Canadá pode, sim, pleitear apoio dos EUA e do México em questões comerciais. "Não podemos ter certeza de nada, mas, aparentemente, essa relação parece existir, afirmou o professor. "Se o Brasil e o Canadá não estivessem envolvidos nesse contencioso, será que EUA e México suspenderiam as importações de carnes brasileiras?", indagou Dupas. Ele reiterou que não pode ter certeza de nada, mas pode ser que essa relação exista. Na avaliação do professor, não se pode descartar que a reação canadense seja uma forma de ameaçar o Brasil, um país da periferia, por sua tentativa de se tornar um país competitivo no setor de aeronaves e por ter equalizado as taxas de juros locais àquelas oferecidas aos países desenvolvidos. "A questão é que a proteção de mercados e os subsídios são pregados por países que adotam o livre comércio como bandeiras de correção, mas são utilizados por esses mesmos países. O que vale para eles, não vale para nós", afirmou Gilberto Dupas. Segundo ele, existe uma grande diferença entre a teoria e a prática, pois o que os grandes países pregam, eles não praticam, mas exigem que outros o façam. Desse ponto de vista, tem sido valorizada a atuação do Itamaraty, na avaliação de Dupas. Ele avalia que, finalmente, o Brasil tomou uma posição adequada ao levar o Canadá à OMC, com base nos subsídios oferecidos à Bombardier publicamente. "O jogo do comércio internacional se decide pela agressividade. E, pelo menos aparentemente, o Brasil está mais agressivo", afirmou.

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