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Bolsa cai pela quarta vez seguida e fica abaixo dos 70 mil pontos

Mercado de ações terminou o dia com queda de 1,33%, aos 69.814,73 pontos; dólar fechou a R$ 3,7408, alta de 0,25%, mesmo com injeção de US$ 1 bilhão do BC

Foto do author Altamiro Silva Junior
Por Paula Dias e Altamiro Silva Junior (Broadcast)
Atualização:

A Bolsa teve nesta segunda-feira, 18, sua quarta queda consecutiva, com a qual perdeu o piso psicológico dos 70 mil e voltou à sua menor pontuação em quase dez meses. O indicador terminou o dia com queda de 1,33%, aos 69.814,73 pontos, o mais baixo desde 20 de agosto do ano passado, quando acabou o pregão com 68.634 pontos.

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No mercado cambial, o dólar teve novo dia de alta, influenciado pelo nervosismo no cenário externo com a escalada da tensão comercial entre Washington e Pequim e incertezas domésticas. A moeda norte-americana terminou o dia em R$ 3,7408, alta de 0,25%, mesmo com o Banco Central injetando mais US$ 1 bilhão no mercado por meio de novos contratos de swap.

Investidores estão cautelosos em relação a um embate comercial entre EUA e China Foto: Estadão/Gabriela Biló

Bolsa. A desvalorização foi mais uma vez embalada pela aversão ao risco no mercado externo e a falta de perspectivas no cenário doméstico, em meio à constante saída de recursos externos da Bolsa. Os negócios somaram R$ 14,1 bilhões, incluindo os R$ 5,5 bilhões movimentados no exercício de opções sobre ações.

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A proximidade da reunião de política monetária do Banco Central e a possibilidade - ainda que baixa - de libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também foram fatores de cautela no mercado de ações.

Pela manhã, durante o período de exercício de opções sobre ações, o Ibovespa chegou à mínima de 69.360 pontos, em queda de 1,98%. Lá fora, os investidores mantiveram o tom de aversão ao risco, com a renovação das tensões comerciais entre Estados Unidos e China. As bolsas de Nova York operaram instáveis.

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Entre as principais bolsas emergentes, o dia também foi de perdas, com destaque para o índice Merval, da Argentina, que caía mais de 8% no final da tarde, influenciado pelas ações do setor financeiro. O Banco Central da Argentina anunciou que o compulsório bancário terá um alta escalonada de 5 pontos porcentuais para os depósitos à vista e a prazo, "com certas exceções". 

Em quatro quedas consecutivas, o Ibovespa teve desvalorização de 4,04%, levando o acumulado de junho para perda de 9,04%. Esse resultado está bastante relacionado à saída de recursos externos da Bolsa. Somente na última quinta-feira, 14, saíram R$ 649,7 milhões do segmento Bovespa da B3, levando a saída acumulada de junho para R$ 4,7 bilhões.

"O Ibovespa estava se sustentando acima dos 70 mil pontos e perdeu esse patamar importante. Creio que ele pode buscar os 68 mil pontos, uma vez que não há muito o que esperar nos próximos dias", disse Lucas Claro, analista da Ativa Investimentos. Claro afirma, no entanto, que as atenções se concentram bastante na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que na quarta-feira decide sobre a taxa Selic.

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Ele cita o IPCA-15, que será divulgado um dia depois da reunião do Copom. "O IPCA deve trazer algum impacto da greve dos caminhoneiros, mas a economia está tão fraca que esse impacto pode ser pequeno, pontual", afirmou.

O economista da Nova Futura, Pedro Paulo Silveira, disse em relatório que se o Ibovespa perder os 69 mil pontos, poderá cair até os 66 mil. "Essa visão de curto prazo parece estar em sintonia com as bolsas globais, que continuam a mostrar um fluxo de saída dos ativos de risco. Com a ofensiva protecionista americana sendo confirmada, a aversão ao risco está submetendo os mercados a uma pressão negativa substancial", disse.

Na análise por ações, destaque para a queda em bloco das ações do setor financeiro, responsável por mais de 25% da carteira do Ibovespa. Já os papéis da Petrobrás terminaram o dia nas mínimas, em quedas de 3,31% (ON) e 3,14% (PN).

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Na próxima quinta-feira, a maior ação trabalhista da história da Petrobras será julgada pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST). Em caso de derrota, a empresa terá de desembolsar mais de R$ 15 bilhões e a folha de pagamento aumentará em até R$ 2 bilhões por ano. Trata-se de um processo de recálculo de um acordo coletivo de 2007 que concedeu adicionais aos salários. A estatal classifica como "possível" perder a ação.

Câmbio. O BC prometeu colocar US$ 10 bilhões no câmbio ao longo desta semana. Ainda aasim, o dólar operou em alta desde a parte da manhã e chegou a desacelerar os ganhos após o anúncio de primeiro (e único) leilão de swap novo do dia, de US$ 1 bilhão.

O dia, porém, foi de volume menor de negócios. No mercado à vista, foram US$ 652 milhões, também abaixo da média da semana passada (US$ 1,3 bilhão). 

Para o diretor da mesa de clientes do banco Standard Chartered, Rafael Biral, a expectativa pela reunião do Copom contribui para reduzir o ritmo de negócios.

Apesar da avaliação de que a Selic será mantida na reunião, o interesse é ver como virá o comunicado final da reunião. Um dos principais fatores que contribuíram para atrair capital externo no Brasil nos últimos anos foi o juro alto, que agora está em mínimas históricas, reduzindo o diferencial das taxas entre a economia brasileira e outros mercados e a atratividade das aplicações aqui. 

Biral ressalta que é o cenário externo o fator que mais tem influenciado o câmbio aqui, com o dólar se fortalecendo no exterior por conta da normalização da política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) e o temor de guerra comercial. Para ele, por enquanto não há escassez de dólares no mercado e, portanto, o BC deve seguir com a estratégia de usar apenas os swaps cambiais. 

Para os estrategistas de câmbio do banco norte-americano Brown Brothers Harriman (BBH), a enorme quantidade de swap que o BC está despejando no mercado provavelmente terá consequências negativas. "Se o real continuar se enfraquecendo, as perdas com o câmbio que o BC acumular vão começar a afetar os números do Orçamento", ressaltam em relatório a clientes. 

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Nas eleições presidenciais, o diretor da Wagner Investimentos, José Faria Junior, ressalta que o mercado foi pego de surpresa com a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin de enviar novo pedido de liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ser julgado pela Segunda Turma do STF.

"Voltam as dúvidas sobre a possibilidade de candidatura do ex-presidente e com este fantasma rondando o mercado, o clima de insegurança cresce", disse ele em relatório. A consultoria norte-americana de risco política Eurasia, porém, acha que a Corte vai rejeitar o pedido. A casa mantém a previsão de que o petista vai ficar de fora das eleições deste ano.

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