Publicidade

Preço do petróleo volta a cair e ação da Petrobrás fecha no nível de 2003

Perspectiva de aumento da produção do Irã, após fim de sanções econômicas, reduziu a cotação da commodity a US$ 28,55 o barril em Londres, com reflexo direto na Petrobrás

Por Vinicius Neder e Mariana Durão
Atualização:
 Foto: Estadão

No primeiro pregão após a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) certificar, no sábado, que o Irã reduziu seu programa nuclear, abrindo espaço para o país voltar a exportar petróleo, a cotação do barril voltou a cair, arrastando, mais uma vez, as ações da Petrobrás. Os papéis voltaram aos preços de novembro de 2003. Com a queda de ontem, a Petrobrás vale em Bolsa R$ 74,5 bilhões, quase um sétimo do que valia em maio de 2008, segundo a empresa de informações financeiras Economática. Para analistas, as ações da Petrobrás estão conectadas aos preços do petróleo. Por isso, para especialistas em investimentos ouvidos pelo Estado, não é possível dizer que as cotações chegaram ao fundo do poço e, para o pequeno investidor que pretende usar a aplicação no médio prazo, pode ser até melhor vender as ações - ninguém recomenda comprar. Ontem, a cotação do petróleo tipo Brent fechou a US$ 28,55 por barril, queda de 1,35%, em Londres - as Bolsas de Nova York não funcionaram, pelo feriado de Martin Luther King. Com isso, a ação PN (preferencial, sem direito a voto) da Petrobrás tombou 7,16% (a R$ 4,80, menor preço desde 5 de novembro de 2003), enquanto a ON (ordinária, com direito a voto) recuou 6,11% (a R$ 6,30, o menor valor desde 28 de novembro de 2003). Esse movimento ajudou a derrubar a Bovespa para seu menor patamar desde 9 de março de 2009, aos 37.937,27 pontos, com queda de 1,64%.  

PUBLICIDADE

“A queda nas cotações da Petrobrás de dezembro para cá é basicamente por causa do petróleo”, disse Flávio Conde, analista da consultoria WhatsCall. A cotação do petróleo está fazendo as ações de todas as empresas petroleiras caírem. O problema, segundo Conde, é que a Petrobrás é considerada, por investidores globais, como uma das piores petroleiras do mundo, por causa do tamanho da sua dívida. Nesse quadro, eles vendem mais os papéis da estatal brasileira, em vez dos de companhias como Exxon, Shell e Chevron, pois acreditam que essas últimas estão mais preparadas para enfrentar o período de baixa nas cotações. Para a Petrobrás, o grande problema da derrocada do petróleo é que sua dívida foi feita com o pressuposto de que poderia exportar, vender petróleo e pagar o débito, na visão de Luiz Caetano, analista da corretora Planner. Com o petróleo mais barato, a estatal terá receita menor e, portanto, menos capacidade de pagamento. Venda. A WhatsCall, de Conde, tem recomendado a seus clientes vender as ações. “O importante é saber qual a perspectiva da ação nos próximos meses ou anos. Infelizmente, é péssima. Com as perspectivas ruins para a economia, o preço do petróleo desmoronando e a situação financeira crítica da companhia, a Petrobrás micou”, disse William Eid, coordenador do Centro de Estudos de Finanças da FGV-SP. Por causa da dívida excessiva, a Petrobrás resolveu vender ativos. Em 2015, vendeu uma fatia da Gaspetro, subsidiária que opera malha de gasodutos e distribuidoras estaduais de gás. A BR Distribuidora está na prateleira, sem definição. Mas a queda do preço do petróleo também atrapalha esse plano. “A empresa tem uma forte necessidade de desinvestimento, em um momento em que todos vendem ativos. Tudo aponta uma situação financeira muito difícil. A ação tende a sofrer mais e uma recuperação consistente vai demorar”, disse Adeodato Netto, da empresa de análise independente Eleven Financial. Nesse quadro, na visão de analistas, uma capitalização da Petrobrás, com aporte da União, tida como “última” saída, pode acabar sendo a “única”, embora o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, tenha negado essa possibilidade ontem. / COLABOROU KARIN SATO, COM DOW JONES NEWSWIRES

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.