Um símbolo peculiar e caótico do mercado de commodities em Manhattan está encerrando seus trabalhos depois de quase 140 anos. O pregão viva-voz agrícola de Nova York --que já apareceu em filmes como "Trocando as Bolas", com Eddie Murphy e Dan Akroyd interpretando traders de suco de laranja, e "Meu Filho das Selvas" com Tim Allen e Martin Short como corretores de café-- está sendo superado pelo computador. No dia 3 de março, a negociação de contratos futuros de açúcar, cacau, café, suco de laranja concentrado e congelado e algodão se tornará inteiramente eletrônica, já que a Intercontinental Exchange fechará para sempre o viva-voz de agricultura, onde gerações de corretores gritaram suas ordens de compra e venda. "O momento era oportuno", disse Judy Ganes, da J. Ganes Consulting, especializada nesses produtos softs. O pregão viva-voz está "morto e enterrado e já está frio", disse ela. Produtos agrícolas são negociados em Nova York mais ou menos da mesma maneira desde 1870, quando a Bolsa de Algodão de Nova York foi fundada em Manhattan. A Bolsa de Café foi fundada em 1882, o açúcar adicionado em 1914 e a Bolsa de Cacau abriu em 1925. Os contratos do suco de laranja foram a última grande adição, em 1966. Em 1998, tudo juntou-se sob o nome de Bolsa de Comércio de Nova York, que em janeiro de 2007 foi adquirida pela ICE. No pregão viva-voz as ordens são gritadas e transmitidas por todos atráves de uma série complicada de sinais manuais. Desde que a ICE, totalmente eletrônica, comprou a NYBOT, ela permitiu que o viva-voz continuasse ao lado de seu sistema computadorizado. Mas o volume de negócios diminuiu, já que a maioria dos investidores passou a preferir a plataforma eletrônica, mais barata e eficiente, levando a ICE a decidir no final do ano passado a acabar com o viva-voz. O total de futuros e opções negociados em janeiro atingiu um recorde de 8,045 milhões de contratos, 124 por cento acima do mesmo mês do ano passado. O volume médio diário em janeiro foi de 382.602 lotes. O comércio eletrônico respondeu por 90 por cento tanto do total quanto do volume médio diário. Os negócios de energia e metais na Bolsa de Mercadorias de Chicago são feitos tanto no viva-voz quanto eletronicamente. Mas a tendência de tudo ser eletrônico parece esmagadora. Em novembro de 2000, os mercados de commodities softs em Londres passaram a usar apenas o computador. Os futuros da Bolsa de Mercadorias de Chicago são conduzidos eletronicamente e a Bolsa de Comércio de Chicago passou a adotar os dois tipos de negociações para os futuros de grãos em agosto de 2006. A Bolsa de Mercadorias de Chicago deu início a discussões para ligar-se à de Chicago, e há fortes especulações de que isso levaria ao fechamento do viva-voz na Nymex em alguns anos. OPÇÕES EM VIVA-VOZ A situação é diferente para as opções, nas quais o volume está aumentando com força por causa dos ralis no café e açúcar, atingindo máximas recordes. Sterling Smith, analista do Futures One em Chicago, afirmou que em relação às negociações de spreads e ordens complexas, "o comércio eletrônico não facilita muito para as opções". "Há todos os tipos de (ordens) complexas em milhões de combinações", explicou ele. "A máquina apenas recebe propostas e ofertas. É preciso a flexibilidade da mente humana para fazer isso". A ICE está tentando desenvolver um software que possa tomar o lugar do esquema de opções, mas muitos profissionais do mercado acreditam que eles ainda estão longe de conseguir isso, se conseguirem. REUTERS CM DL