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Dólar vai a R$ 4,07, maior valor em 3 meses

Moeda dos EUA se fortaleceu nos mercados emergentes; crise argentina ajuda a pressionar

Por Denise Abarca , Wagner Gomes e Paula Dias
Atualização:

O real foi a moeda emergente que mais perdeu valor ontem ante o dólar. A moeda americana se fortaleceu de forma generalizada na economia mundial, após o presidente Donald Trump e membros de seu governo irem a público no final de semana minimizar os riscos de recessão na maior economia do mundo e ressaltarem que as negociações comerciais com os chineses prosseguem. A Argentina também pressionou os mercados, em meio à queda do ministro da Fazenda e à sinalização de reestruturação de dívida. O dólar à vista fechou em alta de 1,58%, a R$ 4,0662, o maior valor desde 20 de maio, quando bateu em R$ 4,10. No mês, a valorização da moeda americana soma 6,45%. 

Com sinais de migração de recursos para ativos mais conservadores, o Índice Bovespa não conseguiu acompanhar o bom desempenho das bolsas de Nova York e fechou em baixa de 0,34%, aos 99.468,67 pontos. A pressão compradora que fez o dólar avançar foi um dos principais sintomas da fuga de recursos externos no pregão de ontem.

Bolsas de Nova York começaram a semana em alta. Foto: Drew Angerer/AFP

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O real caiu hoje (ontem) acompanhando a cesta de moedas emergentes, embora em ritmo mais acelerado aqui”, afirma o responsável pela área de câmbio da Terra Investimentos, Vanei Nagem. O temor de recessão mundial segue pressionando as moedas de emergentes, com os investidores fugindo de ativos de risco. A dúvida, ressalta ele, é se o início da venda de dólares das reservas pelo Banco Central, anunciada para amanhã, vai ajudar a reverter este quadro. Além das reservas, o BC vai ofertar swaps reversos (compra de dólares no mercado futuro) e swaps tradicionais (venda de dólares no mercado futuro). 

Fatores

“Há muitas coisas que afetam os mercados emergentes acontecendo ao mesmo tempo. A Argentina é um desses fatores, pois o país está lotado de problemas, mas não tem liquidez, o que acaba por afetar o Brasil”, disse Alvaro Bandeira, economista da Modalmais.

Mesmo com os mercados argentinos fechados, por causa de um feriado local, os ADRs da Argentina registraram fortes perdas na Nasdaq. No final de semana, o ministro da Fazenda, Nicolás Dujovne, pediu demissão do cargo.

Já o candidato kichnerista Alberto Fernández, que lidera as intenções de voto no país, disse que o acordo firmado pelo atual governo para pagamento de dívidas junto ao FMI, é impossível de ser cumprido. Ao final da tarde, o ADR da Telecom Argentina caía mais de 7%.

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Para o analista Victor Beyruti, da Guide Investimentos, os sinais de que a economia dos Estados Unidos segue robusta e que as relações com a China podem melhorar vêm reforçando o papel de “porto seguro” do dólar perante ativos de maior risco. 

Saída de capital externo na Bolsa é maior que em 2008

O saldo de investimentos estrangeiros na Bolsa brasileira em 2019 já é menor que o acumulado do ano até agosto de 2008, quando as bolsas enfrentavam uma crise econômica mundial. 

Até o dia 15 deste mês (dado mais recente), os estrangeiros já haviam retirado R$ 19,1 bilhões da Bolsa. Em 2008, os saldos negativos estavam em R$ 16,5 bilhões no fim de agosto e R$ 18,3 bilhões no fim de setembro, quando o mercado já repercutia a quebra do banco Lehman Brothers.

O câmbio desvalorizado e a perda dos 100 mil pontos do Índice Bovespa refletem, em parte, essa fuga dos estrangeiros, motivada pelo medo de desaceleração global, além da guerra comercial. /COLABOROU TALITA NASCIMENTO

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