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Bolsa de Xangai cai 10% em 3 dias

Ações chinesas, que segundo analistas estariam acima do valor, já perderam 19,8% desde 4 de agosto

Por Cláudia Trevisan
Atualização:

A Bolsa de Xangai voltou a despencar ontem, influenciada pelo temor dos investidores de que o governo adote medidas de restrição ao crédito e pela percepção de que o robusto pacote de estímulo à economia anunciado no ano passado começa a perder fôlego. Muitos analistas acreditam ainda que o mercado local está sobrevalorizado e precisa passar por uma correção. Mesmo com a queda de mais de 10% dos últimos três dias, o papéis estão em nível 53% mais alto que o do começo do ano. As ações chinesas, que estavam entre as de melhor desempenho em todo o mundo, tiveram retração de 4,3% ontem e acumulam desvalorização de 19,8% desde 4 de agosto. O humor dos investidores foi influenciado pela brutal desaceleração na concessão de empréstimos em julho, que somaram 356 bilhões de yuans (US$ 52,4 bilhões), bem abaixo do 1,5 trilhão de yuans (US$ 220,6 bilhões) do mês anterior. Outro fator que contribuiu para a queda das ações foi a retração de 35,7% no volume de investimento estrangeiro direto recebido pela China em julho, para US$ 5,4 bilhões. Foi o 10º mês consecutivo de queda. Mas, apesar do temor dos investidores, são poucos os analistas que acreditam em uma mudança drástica da política monetária, já que a inflação está baixa e o desemprego, alto. A desaceleração dos empréstimos era esperada, depois da explosão no 1º semestre, quando o volume de financiamentos alcançou US$ 1 trilhão, bem acima dos US$ 732 bilhões previstos pelo governo para 2009. Além disso, os bancos chineses tradicionalmente concentram suas operações na primeira metade do ano. Mesmo com a desaceleração dos próximos meses, o volume de crédito continuará a subir e fechará o ano em torno de US$ 1,5 trilhão. A valorização da Bolsa de Xangai foi estimulada pelo aumento de liquidez e existe a suspeita que investidores utilizaram empréstimos bancários para especular com ações, o que explicaria em parte a forte alta do mercado em um momento de crise mundial. A economista-chefe do banco UBS para a China, Wang Tao, não acredita que haverá um aperto significativo da política monetária, mas ressalta que a estratégia do governo está deixando de ser extremamente expansiva para entrar em fase de acomodação. Para ela, a transição não vai comprometer o ritmo de crescimento da economia, que deverá fechar o ano com expansão de 8,2%. A economia também começa a sentir o enfraquecimento da injeção de recursos que se seguiu ao anúncio do pacote de estímulo de US$ 584 bilhões em novembro de 2008. De acordo com Stephen Green, economista-chefe do Standard Chartered para a China, os gastos orçamentários desaceleraram nos últimos dois meses, o que reduziu a contribuição direta do setor público para o crescimento da economia. Em sua avaliação, o impacto do estímulo na alta nominal do Produto Interno Bruto (PIB) passou de 5 pontos porcentuais no início do ano para perto de zero agora. "Para aqueles que temem o superaquecimento da economia, o fato de que o Ministério das Finanças tirou o pé do acelerador é uma boa notícia. Para os que estão preocupados com a possibilidade de uma economia frágil se enfraquecer ainda mais, isso é menos positivo", escreveu Green em relatório. Green tem uma posição intermediária entre esses dois extremos. Ele acredita que a economia perderá fôlego em relação ao ritmo do segundo trimestre, quando cresceu 7,9% na comparação com igual período de 2008, mas sem comprometer a trajetória de recuperação. Para alguns analistas, a correção nas ações não só é inevitável, como desejável. Quando comparado a outros mercados da região, o chinês está com valorização muito alta, e muitos temiam a formação de uma "bolha" acionária. De acordo o banco Credit Suisse, a relação entre preço das ações e lucro das empresas está em 29 vezes na Bolsa de Xangai, ante uma média de 17 vezes na região, excluído o Japão. NÚMEROS 53 % mais altas do que no fim do ano é o quanto estão as ações chinesas 35,7 % foi quanto caiu o volume de investimento estrangeiro direto recebido pela China em julho 8,2 % é a previsão para o crescimento da economia chinesa este ano

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