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Bolsa cai 2,73% e dólar chega a R$ 5,11 com temores de recessão nos EUA

Expectativa sobre decisões dos bancos centrais brasileiro e americano pressionou o mercado nesta segunda-feira

Por Silvana Rocha , Victoria Netto , Maria Regina Silva e Leticia Simionato
Atualização:

A percepção de que os bancos centrais, principalmente o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), terão de ser mais duros em suas decisões de política monetária nesta semana, a fim de conter a inflação, derrubou as bolsas pelo mundo, incluindo no Brasil, nesta segunda-feira, 13. 

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O Ibovespa, principal índice da B3, passou quase todo o pregão em baixa, e fechou em queda de 2,73%, aos 102.598 pontos. Com isso, a Bolsa brasileira teve a sétima queda seguida e zerou os ganhos em 2022. Agora, o índice acumula queda de 1,27% no ano. As ações da Eletrobras, que estrearam nesta segunda na Bolsa como uma empresa privatizada, seguiram o mesmo ritmo e caíram 2,20%.

No pior momento, a Bolsa caiu 3,59%, marcando 101.699,55 pontos, nível visto pela última vez no começo do ano, o que representa perda de quase 3.800 pontos ante a abertura (105.476,39 pontos). No dia 11 de janeiro, a mínima fora de 101.918.40. No entanto, o recuo fora menos intenso, de apenas 0,03%. 

O temor é de que o indicador esteja se aproximando da tão temida marca psicológica dos 100 mil pontos. "Se perder os 100 mil pontos, pode piorar bastante, pelo menos no técnico", avalia Bruno Takeo, analista da Ouro Preto Investimentos.

O dólar subiu 2,07% e chegou a R$5,09 na manhã desta segunda-feira, 13 Foto: Gary Cameron/Reuters

O dólar seguiu em escalada global e no Brasil, e fechou em alta de 2,54%, aos R$ 5,1151,  o maior nível de fechamento em mais de um mês. Durante o dia, a moeda americana atingiu máxima a R$ 5,1374 (+2,98%) no mercado à vista – valor mais alto intradia desde 13 de maio (a R$ 5,15) e maior variação diária desde 22 de abril (+4%).

No mercado internacional, as bolsas também tiveram uma forte queda. O índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, caiu 2,79%, enquanto a Nasdaq recuou 4,68%. O índice S&P 500, que reúne as maiores empresas de capital aberto, fechou em baixa de 3,88%. 

A percepção no mercado financeiro é de que o Fed deve elevar os os juros em 0,75 ponto -- acima do esperado inicialmente -- para conter a inflação. Um dos que elevaram a estimativa de alta dos juros é o banco de investimento Barclays que cita o resultado da inflação "elevada de modo chocante" de maio nos Estados Unidos. Antes previsão do banco era de uma alta de 0,50 ponto na taxa de juros de referência, hoje na faixa entre 0,75% e 1% ao ano. 

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Ações em queda

A queda foi generalizada na Bolsa brasileira, com destaque para ações mais sensíveis a aumento de juros, como as empresas aéreas, varejistas, além das companhias ligadas a commodities (matérias-primas). "A inflação nos Estados Unidos, muito acima do esperado para maio, continuou a causar reflexos hoje desde a abertura do mercado por aqui. O aperto monetário por lá ainda não está surtindo o efeito esperado, e os juros precisarão subir mais, o que afetará a orientação da política monetária de outras grandes economias, como a europeia", diz Charo Alves, especialista da Valor Investimentos. 

Além do temor com aperto monetário mais agressivo pelo Fed na quarta-feira, quando também o Copom definirá a Selic, há preocupações com a covid-19 na China, à medida que seguem entre idas e vindas os lockdowns por lá, colocando em dúvida a demanda. 

O minério de ferro fechou com recuo de 3,77% no porto chinês de Qingdao, enquanto o petróleo cai mais de 2% em Londres e nos EUA, pesando sobre as blue chips Vale e Petrobras, principalmente.

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"Vemos uma aversão a risco. O número de casos de covid está subindo na China. Há grande chance de novos fechamentos e adoção de medidas mais duras em Pequim e Xangai. Isso assusta os mercados", afirma o analista da Ouro Preto Investimentos.

Ainda, acrescenta Takeo, tem expectativa pelas reuniões de política monetária do Banco da Inglaterra, do japonês, do americano e do brasileiro.

"Nessas horas, o melhor é não olhar a tela [das cotações]", recomenda Marcos Olmos, diretor de venture capital e sócio da VOX Capital. A piora dos mercados reflete uma certa decepção em relação à inflação americana em maio. "Esperava que atingiria o pico, mas houve surpresa", diz, ao referir-se ao índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos.

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Divulgado na sexta-feira, o CPI avançou 1% em maio ante abril, superando a taxa de 0,3% no mês anterior e a previsão de analistas, de 0,7%. Na comparação anual, foi a 8,6% em 12 meses, no maior nível desde dezembro de 1981. Na sexta, as bolsas já haviam sofrido perdas consideráveis, acentuadas hoje.

Conforme os analistas do Itaú BBA, o movimento da última semana sugere uma retomada da tendência de baixa, tanto aqui no Brasil quanto nos mercados internacionais, que miram suas mínimas de 2022 – região que, se for perdida, abrirá caminho para mais baixas.

O Ibovespa, cita a nota, "acelerou o movimento de queda, entrou em tendência de baixa e mira a importante região de suporte entre 103.300 e 100.000 pontos. Se perder essa região, o índice ganhará novo impulso em direção aos 93.000 pontos."

O avanço da inflação americana eleva os riscos de uma recessão na maior economia do mundo e em outros países como o Brasil. "É um risco crescente após o CPI forte, com núcleos de inflação não dando alívio em maio, ao passo que o mercado de trabalho dos EUA também segue forte. Tudo isso pressiona mais a inflação, gerando efeitos secundários, mais inércia, gerando uma bola de neve. Assim, fica difícil ancorar as expectativas sem causar recessão", avalia Takeo.

O mercado espera aumento de no mínimo meio ponto porcentual nos Fed funds na reunião da quarta-feira, um dia antes do feriado no Brasil. Além disso, aguarda sinal de aceleração no ritmo para o encontro em julho. 

"Aumentou a pressão para o Fed na quarta-feira após o CPI americano. Uma alta de meio ponto porcentual é esperada, temos de ficar atentos ao comunicado do Fed para ver se Powell continuará 'dovish'", avalia o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus, ao referir-se ao presidente do Fed, Jerome Powell.

"Se não mudar a postura [para uma mais agressiva], vai estressar o mercado mais, elevando temores de recessão", acrescenta Laatus.

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Para o Copom, a estimativa é de elevação da Selic de 12,75% para 13,25%. No entanto, em meio à aversão a risco externa o Banco Central (BC) pode ser cauteloso, sem indicar quando encerrará o ciclo de aumento dos juros. 

Ao mesmo tempo, seguem pressões por reajustes nos preços dos combustíveis. Mesmo antes do provável aumento pela Petrobras, previsto para esta semana, todos os combustíveis tiveram ligeiro aumento de preços na semana passada contra a anterior, como mostra a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). 

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