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Bolsa não resiste e fecha em queda

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Por Redação
Atualização:

A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) não resistiu e fechou o dia em baixa de 0,39%. Apesar da maior confiança dos investidores nas atuações dos bancos centrais dos países desenvolvidos, o temor sobre a extensão da crise do mercado imobiliário norte-americano de risco (subprime) deixa os investidores em clima de cautela.   As bolsas norte-americanas também reverteram a alta no final do dia. O índice Dow Jones  - que mede o desempenho das ações mais negociadas na Bolsa de Nova York - encerrou a segunda-feira em baixa de 0,03%. A nasdaq - bolsa que negocia ações do setor de tecnologia e internet - recuou 0,10%.   Nesta segunda-feira, o Banco Central Europeu, o Federal Reserve e também o Banco do Japão voltaram a oferecer recursos aos mercados, mas em montantes menores do que nos dois dias úteis anteriores. Outro motivo de alívio foi o anúncio do Goldman Sachs, junto com outros investidores, de que investiu mais US$ 3 bilhões no fundo Global Equity Opportunities, depois de reconhecer perdas no fundo. Dados macroeconômicos dos EUA - especialmente as vendas no varejo em julho, que subiram 0,3%, acima da previsão de alta de 0,2% - também contribuíram para a melhora de humor, pois afastam um risco de economia fraca nos EUA.   Em conseqüência, as bolsas norte-americanas operam no azul. Às 15h, o índice Dow Jones - que mede o desempenho das ações mais negociadas em Nova York - subia 0,31%. A Nasdaq - bolsa que negocia ações do setor de tecnologia e internet - estava em alta de 0,21%. As bolsas européias fecharam com altas fortes e a Bovespa começou a tarde com valorização mais discreta, de 0,54% (às 14h27).   O dólar comercial é vendido a R$ 1,9430, em queda de 0,46% em relação aos últimos negócios de Sexta-feira. Juros futuros reagem positivamente à trégua no exterior e recuam. Mas ninguém se arrisca dizer o quanto vai durar essa calma.   Nervosismo continua   Indicadores que mostrem a saúde da economia dos Estados Unidos, com o índice inflacionário ao consumidor (CPI) na próxima quarta-feira, voltarão a ter relevância, calibrando as expectativas com os próximos passos do Federal Reserve.   A questão que vale bilhões ou trilhões de dólares é saber qual será a duração da volatilidade. Será apenas temporária, como a maioria dos analistas ainda aposta escorados no argumento de que os fundamentos da economia global continuam positivos? Ou estaríamos apenas diante da ponta de um iceberg de aperto no crédito e crescente aversão ao risco cujas conseqüências poderão ser muito mais nefastas e duradouras, inclusive gerando uma recessão nos Estados Unidos?   Semana passada   O chacoalhão que tomou conta do mercado financeiro na semana passada fez com que bancos centrais de diversos países atuassem forte nos mercados. O objetivo dos bancos é garantir a oferta de dinheiro. O Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos (Fed), bateu recorde de colocação de moeda na sexta-feira. Foram três atuações que totalizaram US$ 38 bilhões.   Já o Banco Central Europeu BCE colocou 61,05 bilhões de euros no mercado, menos que a cifra recorde da véspera. Outras intervenções vieram do Banco do Canadá, o banco central suíço, o Banco do Japão e o BC australiano. No total, os bancos centrais colocaram pelo menos US$ 323,3 bilhões no mercado na quinta e sexta.   A atuação da autoridade monetária dos países se dá pela troca de papéis em poder dos investidores por recursos. Ou seja, um banco que está precisando de liquidez (moeda) vende os títulos que tem em carteira para o banco central de seu país e consegue recursos para honrar os resgates de seus clientes.   Nas três intervenções, o Fed aceitou títulos de agências e hipotecas como garantia. Em todas elas, a oferta de recursos pelo banco central americano foi sempre menor que a demanda dos investidores.   Atuações de BCs   "Os bancos centrais provavelmente fizeram o suficiente para verem os mercados se consolidarem por uns dois dias, mas o sentimento continua muito frágil", disse o economista do Royal Bank of Scotland, David Simmons. "O foco nesta tarde estará nos Estados Unidos, onde queremos ver se o Fed vai injetar liquidez, e como as bolsas vão abrir."   O economista do Dresdner Kleinwort, Kevin Logan, avalia que os mercados estão passando por um processo de "desengajamento", no qual investidores e financiadores estão retirando liquidez dos mercados financeiros por causa das incertezas em torno da capacidade de pagamento de seus parceiros. "Isso pode ser superado em algumas semanas", disse. "Ou pode exigir uma ação mais agressiva do Fed para restaurar uma sensação de que os mercados estão funcionando normalmente", ponderou.   Logan, no entanto, salientou que uma coisa está clara: "a economia norte-americana está muito mais vulnerável a uma forte desaceleração econômica ou a uma recessão neste ano do que estava durante o último período de desengajamento em 1998".   Entenda a crise   O mercado imobiliário americano tem um segmento que oferece crédito a pessoas sem renda comprovada e que têm um histórico de inadimplência. É o chamado mercado subprime. No ano passado, nos EUA, com o fim da bolha dos imóveis, os preços destes ativos caíram e houve uma desaceleração da oferta de crédito e de imóveis. Além disso, os juros chegaram ao patamar máximo, elevando o valor das prestações. O resultado disso foi a inadimplência.   Estas empresas que ofereciam crédito no mercado subprime empacotavam estes financiamentos e vendiam a outros investidores. Assim, elas recebiam de volta o valor emprestado e os investidores ficariam com o valor da prestação das hipotecas mais os juros. Contudo, o calote das pessoas que tomaram crédito provocou perdas para estes investidores.   Para compensar estas perdas, eles saíram de mercados mais arriscados (ações) e migraram para ativos de risco menor (títulos do governo americano). Além disso, a aversão ao risco aumenta com as incertezas sobre a extensão desta crise - quanto em crédito imobiliário está na mão de investidores, e quem são estes investidores. O resultado aqui é a queda das ações de empresas.   Não há previsões sobre isso. A única coisa que se sabe é que a aversão ao risco deve continuar.  

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