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Bolsas caem, mas estamos bem

Por Alberto Tamer
Atualização:

A ressaca da bolsa americana, ao contrário da alcoólica, que ataca de manhã, veio após as 13 horas. O mercado esperava novas intervenções de peso dos bancos centrais, mas isso não veio. Nada dos US$ 300 bilhões da semana passada. E os índices foram caindo no correr da tarde, após uma boa alta em torno das 3 horas. A partir daí, foi uma queda só. Na verdade, repetiu-se o mesmo cenário de terça-feira, porém, com a ausência do banco central. "O foco ainda é o mercado de crédito. Há muita volatilidade exatamente agora e eu acredito que ela vai continuar, pois há muita incerteza quanto ao subprime (empréstimo imobiliário duvidoso)", afirmava Jim Herrick, da empresa Robert Baird, ao Wall Street Journal. E, refletindo o outro lado, o da liquidez, Scot Wren, da A.G. Edwards &Sons, afirmava que "o mercado quer ver o Fed continuando a injetar liquidez". No fechamento, o Índice Dow Jones tinha caído 1,28%; o S&P, 1,39%; e o Nasdaq, 1,61%. De acordo com a agência Reuters, uma das causas teria sido a notícia de dificuldade de liquidez de uma das maiores empresas de hipotecas, a Countrywide Financial Corporation, cujas ações caíram subitamente 21,3%, depois que a Merril Lynch recomendou a venda aos seus clientes. E, depois do fechamento do mercado, ontem, havia ainda rumores de que outras empresas estavam ameaçadas de perdas, sem liquidez. É provável que tenhamos um dia turbulento hoje. TUDO IGUAL - E RUIM O comportamento das ações foi muito semelhante ao do dia anterior. Equilíbrio nas primeiras horas, com apoio do Fed, derrapada e queda em seguida, até um dramático fim de tarde. Nem os indicadores positivos de inflação menor, maior atividade econômica, mais exportação, menor déficit comercial dos últimos tempos e uma demanda interna ainda sustentada, mesmo sem crescimento, ajudaram muito. "O mercado não está se baseando em fundamentos (econômicos), e continua recuando", registra Robert Pavlic, da Oaktree Asset Management. ASSUSTA? AINDA NÃO Preocupa, sim , mas não há pânico. As autoridades monetárias e européias mantiveram-se atentas, mas sem os grandes gestos heróicos da semana passada. O presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, perdeu a calma e chegou a pedir, ontem, que os investidores tivessem um pouco de "compostura", mesmo porque já haviam ganhado muito. Mas ninguém ouviu e todo mundo continuou vendendo. ENTÃO, O QUE MUDOU ONTEM? Houve notícias boas mostrando saudável fundamento econômico e não surgiu nenhuma notícia ruim de peso. Ninguém pediu concordata, havia liquidez no mercado depois da forte injeção de mais de US$ 300 bilhões dos bancos centrais e, aparentemente, a maior parte dos que estavam fugindo tinha vendido, já havia saído. No fundo, essa é uma verdade que parece estranha e maldosa, mas tem de ser reconhecida - os que tinham ganhado muito durante muito tempo tinham de assumir que era hora de perder um pouco, e, mesmo assim, ainda saindo com lucros. E aqui se colocava o desafio dos bancos centrais: deixar quebrar os gananciosos imprudentes que não ouviram os alertas de "olha a bolha!" ou sair em ajuda? O certo seria a primeira hipótese, mas o efeito dominó das perdas, afetando até grandes instituições, poderia contaminar a economia real. Não era só o dinheiro advindo dos lucros na bolsa, efeito riqueza, que deixava de entrar no mercado consumidor, mas também as retiradas injustificadas de americanos de sua poupança, mesmo em aplicações conservadoras. E era isso o que estava começando a ocorrer. Daí a ação dos bancos centrais ao socorrer os imprudentes, que acabaram sendo premiados. Eles conseguiram sacar o dinheiro que haviam arriscado. Isso é válido também para a bolsa brasileira, ela mesma, espantosamente, valorizada por tanto tempo, com investidores em ações acumulando ganhos. AQUI É DIFERENTE Mas, no Brasil, o cenário é outro. Não temos grandes fundos de poupança e de aposentados como nos EUA; igualmente, não há bolha de crédito num mercado imobiliário ainda estreito, que somente agora está indo para o mercado de ações. Ao contrário dos EUA, não temos nenhuma loucura hipotecária no mercado de imóveis. Aqui, os empréstimos são checados e rechecados para comprovar rendimento salarial. O QUE FAZER Ao Brasil , governo e setor privado, cabe pôr em prática medidas para sustentar o atual crescimento saudável da economia nacional. Como? Incentivar investimentos internos e externos de forma consistente, estimular as exportações, cortar gastos produtivos para que haja disponibilidade para o governo investir e, com isso, tornar possível uma redução da carga tributária que arranca 40% do setor privado - você e eu incluídos nisso. Em uma frase, alimentar e sustentar o crescimento atual, que pode ser até de 5%. Dá para esperar? Sim e não. Sim, porque o governo já fez muito. Não, porque não parece disposto a fazer mais. Esperamos que esse susto externo conscientize Brasília de que só crescendo poderemos enfrentar crises. Esta, dá para superar. Mas outras podem ainda estar por vir. *E-mail: at@attglobal.net

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