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Bolsas despencam no exterior mas Bovespa resiste

Os escândalos de fraude contábil nas grandes empresas norte-americanas segue em escalada. Hoje surgiram denúncias contra a Bristol-Myers Squibb e o presidente George W. Bush. As bolsas despencaram na Ásia, Europa e EUA, mas aqui os mercados resistem.

Por Agencia Estado
Atualização:

As bolsas internacionais voltam a dar sinais de fragilidade e limitam o espaço de reação do mercado brasileiro. Pressionadas pelas fraudes contábeis nas grandes empresas e por indicadores econômicos ruins, as bolsas voltaram a registrar queda expressiva nesta manhã em Nova York. Há pouco, Dow Jones e Nasdaq recuavam, respectivamente, em torno de 1,75% e 0,3%. Na Europa, Londres despencou 4,3% e chegou ao menor nível em 5 anos, acompanhando NY e reagindo a maus resultados de empresas locais. Na Ásia e em outros mercados europeus, o resultado foi semelhante. Os mercados brasileiros ensaiaram alguma resistência. A Bovespa operou em baixa quando NY estava nas mínimas, mas, há pouco conseguia uma alta heróica de 0,98%, chegando a 10.658 pontos. O volume de negócios, de R$ 220 milhões, projetava pouco mais de R$ 400 milhões em todo o pregão. Enquanto isso, o dólar caía 1,09%, com o mercado à vista negociando a moeda a R$ 2,8200 para venda. No mercado de juros, os contratos de DI futuro com vencimento em janeiro de 2003 negociados na Bolsa de Mercadorias & Futuros pagam taxas de 23,100% ao ano, frente a 23,500% ao ano ontem. Novas notícias alimentaram hoje a preocupação com o mercado externo. Depois do anúncio ontem de que seu vice, Dick Cheney, seria processado, agora o próprio presidente americano, George Bush, aparece em situação delicada. Segundo os jornais dos EUA, Bush recebeu dois empréstimos a juros moderados durante a década de 80 da companhia de petróleo do Texas, Harken Energy Corp., onde era diretor. Vale lembrar que, nesta terça, no mal-sucedido discurso contra as fraudes empresariais, o presidente afirmou que gostaria de colocar um fim a esse tipo de empréstimo. Além disso, surgiu a informação de que as autoridades norte-americanas estão investigando se a companhia farmacêutica Bristol-Myers Squibb inflou suas receitas em US$ 1 bilhão no ano passado, em mais um caso que mina a confiança do investidor em ações num País em que o mercado acionário é fundamental para a economia. Por sua vez, a já problemática WorldCom Inc. anunciou que não pagará o dividendo de US$ 0,60 por ação das ações ordinárias do grupo MCI que estava programado para ser pago no dia 15 de julho de 2002. A lista de escândalos inclui até agora a Enron, WorldCom, Qwest, Xerox, Global Crossing Merck, a francesa Vivendi e a irlandesa Elan. Se não bastassem as empresas, a economia americana também mostrou números ruins hoje. O número de norte-americanos que deram entrada a pedidos de auxílio-desemprego na semana passada subiu para o maior nível em seis semanas, embora grande parte das solicitações tenha sido atribuída ao fechamento temporário das indústrias automobilísticas. Operadores observam que o desempenho de Wall Street continuará sendo monitorado à tarde. Se as ações ameaçarem nova queda vertiginosa, como a de ontem à tarde, os mercados podem acompanhar, ainda que a certa distância. É que o cenário interno apresenta alguns sinais considerados mais positivos, como as expectativas alimentadas no mercado de que o governo poderá conseguir fechar um acordo com o FMI que garanta a transição para a gestão do próximo presidente. A expectativa de acordo tem sido alimentada pela viagem do presidente do Banco Central (BC), Armínio Fraga, aos EUA. Fraga tem mantido contatos com as maiores autoridades americanas e com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e obteve ontem uma declaração de apoio do secretário do Tesouro Paul O´Neill. O que mais parece ter chamado a atenção do mercado, porém, foi o telefonema feito por Fraga ao economista Aloízio Mercadante, do PT, convidando-o para uma conversa semana que vem. Este convite estimulou rumores no mercado de que estariam avançando os entendimentos para um "acordo-ponte" com o FMI, que envolveria também os candidatos. Operadores comentam que a melhora de humor interna também é atribuída à queda de Lula nas pesquisas, sobretudo a do Ibope. Mesmo o fato de esta queda ter favorecido Ciro, e não Serra, vem sendo relativizado pelo mercado. Parece não haver dúvida de que, ainda que não seja uma solução ideal, investidores preferem correr eventuais riscos com Ciro e seus novos companheiros da direita-liberal do que com Lula.

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