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Bolsas dos EUA já atingiram fundo do poço, dizem analistas

Por Agencia Estado
Atualização:

Apesar do nervosismo mundial com a possibilidade de um ataque militar contra o Iraque e com a recuperação hesitante da atividade econômica norte-americana, vários analistas de Wall Street, ouvidos pela Agencia Estado, traçam um cenário de inusitado otimismo: as bolsas de valores dos Estados Unidos já atingiram o fundo do poço e devem registrar ganhos até o final do ano. Nos cálculos de três renomados analistas - o estrategista-senior de investimentos para EUA do banco Lehman Brothers, Charles Reinhardt; o economista-chefe de mercados para EUA do banco Bear Stearns, John Riding; e o economista-chefe da Standard & Poor´s, David Wyss-, o mercado de ações norte-americano atingiu o piso no último dia 23 de julho deste ano, quando o índice S&P 500 (das 500 maiores empresas) fechou a 797,70 pontos. Nenhum deles vê como alta probabilidade um ataque militar contra o Iraque até o final do ano, embora a escalada da tensão deverá tornar o mercado mais volátil. Em relação à economia, o consenso é de que não há o perigo de ocorrer uma dupla recessão (recessão com fraco crescimento e depois nova recessão), mas a recuperação econômica em curso será a mais lenta das recessões registradas desde a Segunda Guerra Mundial. Mais confiança Os analistas observaram uma melhora na confiança dos investidores em relação à contabilidade e à governança corporativa das empresas norte-americanas. Levando esse fatores em consideração, eles prevêem um bom desempenho para o mercado de ações norte-americano no quarto trimestre deste ano. Nas estimativas de Charles Reinhardt, do Lehman Brothers, o índice S&P 500 deverá fechar este ano em 1.075 pontos, o que corresponde a uma alta potencial de 22% sobre o fechamento da sexta-feira passada (893,92 pontos). Já David Wyss, da Standard & Poor´s, o índice S&P 500 deverá terminar o ano por volta dos 1.000 pontos, o que implica numa subida de 11,8% também sobre o fechamento da semana passada. Para John Riding, do Bear Stearns, o índice S&P 500 a projeção para os próximos doze meses é de um S&P 500 por volta de 1.050 pontos, o equivalente a uma alta de 17,5% no prazo de um ano. Na opinião de Reinhardt, desde o dia 23 de julho, quando o mercado acionário atingiu o piso, o que vem pesando positivamente sobre o mercado é a queda no risco de prêmio das ações. "O mercado já está descontando em boa parte os temores em relação a eventos negativos e ceticismo. Desde julho, o mercado já está mais confortável com a situação contábil e de governança corporativa das empresas norte-americanas, depois dos grandes escândalos contábeis", disse. "Será uma recuperação rápida em relação à forte correção sofrida pelo mercado acionário". Causas da alta Depois disso, segundo ele, a alta do mercado tende a ser mais vagarosa (ele projeta um S&P 500 de 1.125 pontos para o final de 2003). Segundo ele, as causas dessa alta serão: 1) melhora na governança corporativa e contabilidade das empresas; 2) fim da pior recessão nos lucros das empresas desde 1958; e 3) ausência de um novo ataque terrorista nos Estados Unidos até o final deste ano. "Há ainda, obviamente, todo o nervosismo com a possibilidade de um ataque militar ao Iraque pelos Estados Unidos", disse. Historicamente, segundo ele, o mercado acionário fica bastante nervoso antes das ações militares acontecerem e quando, de fato, ocorre um ataque, as bolsas recuperam-se depois de um mês. "O mercado vai estar bastante nervoso e volátil durante a fase atual que eu classificaria como ultimato", afirmou. Por outro lado, disse Reinhardt, se os Estados Unidos decidirem não declarar guerra ao Iraque ou se uma solução diplomática for atingida, então as bolsas subiriam fortemente. O estrategista do Lehman Brothers disse que a recuperação econômica ainda está em curso, porém a um ritmo lento. "Os lucros das empresas estão em recuperação suave. Aliás observamos a pior recessão nos lucros das empresas desde 1958. Essa recessão dos lucros corporativos acabou no primeiro trimestre deste ano. A recuperação dos lucros está se ampliando através dos diversos setores da economia, devendo atingir uma taxa de crescimento de 20% anual no quarto trimestre, o que ainda é uma recuperação mais lenta dos lucros corporativos após uma recessão desde a Segunda Guerra Mundial", disse Reinhardt. Pessimismo exagerado Para o economista-chefe do Bear Stearns, John Riding, o mercado acionário norte-americano já atingiu o fundo do poço no final de julho, mais precisamente dia 23 daquele mês, e que o pessimismo foi exagerado em relação às perspectivas econômicas e para a bolsa dos Estados Unidos. "Não é provável que a economia norte-americana passe por um double dip (dupla recessão)," disse Riding. Ele acredita que o mercado já descontou substancialmente fatores negativos nos preços das ações, que estariam agora abaixo do valor real. Em relação aos temores de um ataque militar contra o Iraque, Riding acredita que tal evento, se ocorrer, será mais provável no início de 2003 do que no restante deste ano. "Alguns fatores dificultam prever uma ação militar neste ano. Por exemplo, as eleições para o Congresso norte-americano acontecem em novembro próximo. Além disso, há também a questão do clima. É melhor (para uma ação militar) no Inverno (do Hemisfério Norte, que vai de dezembro a março), quando os soldados poderiam estar melhor protegidos contra o uso de armas químicas e biológicas", disse. Apesar de os analistas em geral considerarem o fundo do poço em termos de preços o ponto de recuperação da bolsa, Riding não acredita que o caminho daqui para frente será fácil e sem turbulências. "Ainda há incertezas, inclusive em relação à um eventual ataque militar contra o Iraque", afirmou. Mesmo assim, ele acredita que a direção do mercado é de alta, embora não tão forte. Aversão ao risco continua Por causa das incertezas ainda existentes, Riding não acredita que o sentimento de aversão ao risco observado atualmente vá desaparecer, mesmo com uma recuperação das bolsas norte-americanas. "O fim da aversão ao risco não depende apenas do que acontece nos Estados Unidos. O Japão, por exemplo, permitindo uma valorização maior do iene, o que afeta a recuperação econômica japonesa, e o Banco Central Europeu ainda mantém uma postura de aperto monetário contribuem para esse sentimento de aversão ao risco", afirmou. Apesar da escalada da tensão entre Estados Unidos e Iraque, o economista-chefe da Standard & Poor´s, David Wyss, acredita que uma ação militar poderá ser evitada, o que será um fator positivo para o mercado acionário norte-americano. Também será outra fonte de suporte para o mercado o fato de a economia está nos trilhos de uma recuperação. Wyss estima um crescimento do PIB de 3,3% em 2002, sendo que nos terceiro e quarto trimestres a taxa ficará por volta de 3,5%. "Não é um crescimento excepcional, aliás é o menor crescimento no primeiro ano após a recessão na história, mas ainda é uma expansão da atividade econômica", afirmou Wyss. Enronite Ele estima que o mercado acionário atingiu o nível mais baixo em 23 de julho, mas a recuperação dos preços das ações será lenta. "O mercado ainda sofre de ´Enronite´ e dos outros escândalos contábeis", disse. "Se houver uma guerra contra o Iraque, então teremos um cenário negativo, mas a minha opinião é que isso não deverá ocorrer", afirmou. Mesmo sem um cenário de guerra, Wyss acredita que a recuperação das bolsas não será tão forte. "Vamos ter um quarto trimestre decente, mas nada de ganhos de 20% ou acima disso", afirmou.

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