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Bolsas não atraíram tanto em 2000

Investidores estrangeiros afastaram-se da Bovespa por incertezas com relação à economia norte-americana e turbulências do Nasdaq. Já o investimento doméstico não apresentou um quadro muito expressivo.

Por Agencia Estado
Atualização:

A expectativa de que este seria o ano da bolsa está longe de concretizar-se, contrariando o quadro otimista traçado pela maior parte dos analistas no fim de 1999. Nem mesmo o cenário formado por juros reais declinantes, retomada da atividade econômica, contas públicas sob controle e inflação acomodada foi suficiente para entusiasmar os investidores estrangeiros ou domésticos a entrarem com força no mercado acionário brasileiro. De janeiro para cá, o Índice Bovespa amarga perda de 3,09%. Com relação aos investidores estrangeiros, as incertezas em relação à economia norte-americana e a turbulência sofrida pelo Nasdaq no segundo trimestre diminuíram o interesses dos investidores por papéis de mercados emergentes. Segundo Beto Scretas, o responsável pela Schroders Brasil, o interesse diminuiu ainda mais um pouco depois da operação de venda das ações ordinárias (ON, com direito a voto) da Petrobras, pois o investidor estrangeiro foi responsável pela compra de R$ 4,6 bilhões dos R$ 7,2 bilhões de papéis leiloados. Já o diretor de Renda Variável do banco Lloyds TSB, Pedro Thomazoni, destaca que parte dos investidores estrangeiros que têm maior disposição para correr riscos preferiu apostar em ações das empresas de tecnologia, em vez de destinar seus recursos para as bolsas de países como o Brasil. Do início de janeiro a 10 de setembro, as saídas de recursos superam as entradas em R$ 883,016 milhões, segundo dados da Bovespa. Cenário no mercado doméstico A expectativa dos analistas era de que os fundos de pensão e os investidores individuais apostassem com mais força no mercado de ações por conta da queda dos juros reais, pois o rendimento das aplicações de renda fixa diminui e a economia deve crescer com mais força, aumentando a lucratividade das empresas. Mas, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Privada (Abrapp), os fundos de pensão não estão aumentando sua exposição ao mercado acionário porque boa parte do patrimônio já está aplicada em ações: em dezembro de 99, 38,5% da carteira dos fundos de pensão estava aplicada em ações e em fundos de renda variável. Em maio deste ano, o número havia caído para 35,2%, um porcentual ainda expressivo. Quanto ao investidor individual, o grande problema parece ser a falta de tradição de se aplicar em ações, diz Thomazoni. Nos últimos anos, o investidor acostumou-se ao ganho elevado e sem riscos da renda fixa, por conta dos juros reais estratosféricos. Além disso, muitos investidores que se aventuraram na bolsa em 97, quando os juros caíram bastante, acabaram perdendo dinheiro com a crise da Ásia, que derrubou a bolsa. Segundo números da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), em 11 de setembro o patrimônio dos fundos de ações era de R$ 22,357 bilhões, respondendo por apenas 8,26% do total de R$ 270,420 bilhões da indústria de fundos. A preocupação com a alta dos preços do petróleo, que pode fazer com que o Comitê de Política Monetária (Copom) adote uma posição mais conservadora, acabou contribuindo para aumentar o nervosismo entre os investidores. Na semana passada, o Ibovespa acumulou desvalorização de 4,99%. Um fator mais simples que também explica o fraco desempenho da bolsa este ano é que o Ibovespa subiu muito em 1999. O índice acumulou valorização de 151,93%. No último trimestre de 1999, os investidores estrangeiros e brasileiros acabaram antecipando o quadro positivo para este ano, marcado pela expectativa de queda dos juros reais e crescimento da economia, diz o diretor de Investimentos da Planner Corretora, Luiz Antônio Neves. Com isso, as ações brasileiras não estão tão baratas como se poderia pensar.

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