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Bolsonaro diz que acertou a abertura de 625 vagas para a PF e a PRF

Presidente recuou do plano de abrir mil vagas para cada uma das categorias e diz que é o que 'deu para fazer'

Foto do author Eduardo Gayer
Por Eduardo Gayer
Atualização:

BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro recuou e anunciou nesta terça-feira, 3, o chamamento em concurso público de 625 servidores para a Polícia Federal (PF) e outros 625 para a Polícia Rodoviária Federal (PRF). “Foi o que deu para fazer com o PLN 1 (Projeto de Lei do Congresso Nacional n° 1). Agora, (para) os demais, vai ter outra oportunidade, talvez esse ano ainda, acabando as eleições”, declarou o presidente a apoiadores. 

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Ontem, Bolsonaro, na frente de apoiadores, ligou para o ministro da Justiça e pediu para ele acertar com o Ministério da Economia a convocação de mil servidores para cada corporação.

Aprovado pelo Congresso Nacional na semana passada, o PLN 1 acrescentou mais R$ 2,6 bilhões ao Orçamento da União. Cerca de R$ 1,7 bilhão foi destinado a despesas com pessoal, enquanto o Plano Safra recebeu em torno de R$ 868 milhões.

Ainda assim, já se trata de um aumento do efetivo, porque originalmente o Executivo contrataria 500 vagas para cada corporação. O aceno vem em meio a uma crise do governo com os policiais, após Bolsonaro deixar de lado uma promessa de reestruturação e se comprometer apenas com reajuste de 5% para todo o funcionalismo público, o que não atende às demandas da classe, consideradas integrantes da base eleitoral de Bolsonaro. PF e PRF têm organizado manifestações em todo o País para pressionar o presidente a entregar a revisão nas carreiras, mas ainda não obtiveram sucesso.

O presidente Jair Bolsonaro; promessa de aumento do efetivo policial Foto: Anderson Riedel/PR

Como mostrou o Estadão/Broadcast, a declaração de Bolsonaro de ontem, sobre os mil novos servidores, foi vista como “inócua” pela Polícia Rodoviária Federal para acalmar os ânimos. 

Com o prazo para anunciar aumentos de gastos com pessoal cada dia mais perto do fim, os policiais rodoviários federais começam a discutir nesta terça-feira a possibilidade de adotar operações-padrão em todo o País. A medida, que será debatida na Assembleia-geral Extraordinária da Fundação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais (FenaPRF) entre hoje e amanhã, tenta forçar o governo a anunciar a reestruturação das carreiras prometida à categoria.

Lideranças da PRF já trabalham com a hipótese de o presidente Jair Bolsonaro, de fato, frustrar a promessa de reestruturação e anunciar apenas o reajuste de 5% a todo o funcionalismo, medida antecipada pelo Estadão/Broadcast e acordada em reunião no Palácio do Planalto com a presença do ministro da Economia, Paulo Guedes. Atento ao poder de mobilização de servidores do Banco Central e da Receita, o Executivo quer evitar privilegiar determinadas categorias.

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Legislação

Qualquer aumento de gastos com pessoal precisa rodar, no máximo, na folha de pagamento de julho, antes dos 180 dias do fim do mandato presidencial, determina a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Esse relógio - que ainda precisa dar conta de tramitação de projeto de lei, aprovação, sanção presidencial e regulamentação - é observado com atenção por setores da PRF, que veem na operação-padrão uma espécie de cartada final pela reestruturação.

Outra forma de pressão estudada é trazer servidores de diversas cidades do País para os gabinetes de deputados federais e senadores em Brasília. A ideia é contar com a ajuda dos parlamentares para convencer o presidente a ordenar à equipe econômica a reestruturação das carreiras de segurança pública, uma base eleitoral do chefe do Executivo que vai buscar um novo mandato em outubro.

Na última sexta-feira, Bolsonaro afirmou em entrevista a uma rádio de Mato Grosso que sua sugestão é dar 5% para todos os servidores e, para compensar, igualaria a remuneração de policiais rodoviários federais a policiais federais. “A fala dele foi desastrosa. O efetivo recebeu muito mal”, diz um dirigente da corporação, sob a condição de anonimato. De acordo com a fonte, o clima entre a PRF e o governo nunca esteve tão tenso.

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Ontem, o chefe do Executivo ainda acenou com o dobro de vagas de contratação para servidores para a corporação em concurso público, o que foi considerado insuficiente pela categoria. "Se for para apaziguar ânimos, é inócuo", disse ao Broadcast Político o presidente da Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais (FenaPRF), Dovercino Neto.

Insatisfação

A Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais (FenaPRF), que reúne os sindicatos da categoria, realizou pesquisa com os associados para calibrar as decisões da Assembleia-Geral Extraordinária (AGE) que acontece entre hoje e quinta-feira. No levantamento, obtido com exclusividade pelo Estadão/Broadcast, 83,7% se disseram dispostos a participar de operações-padrão para pressionar o governo a anunciar a reestruturação das carreiras da corporação, promessa do presidente Jair Bolsonaro ainda não entregue.

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"Claro. Pra vir com essa mixaria depois de tantos anos de enrolação e de traições, prefiro cair lutando!", diz a resposta escolhida pela grande maioria. O termo "mixaria" se refere ao reajuste salarial de 5% para todo o funcionalismo público, adiantado pela reportagem e acordado em reunião no Palácio do Planalto na presença do ministro da Economia, Paulo Guedes. O porcentual é considerado insuficiente pela PRF, que espera a reestruturação.

Entre outras respostas, 13,7% disseram que não estão dispostos a adotar operação padrão por ser "melhor ficar com um pouquinho do que nada". Outros 2,6% rejeitam a medida por verem o governo querendo ajudar, mas limitado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) pela mídia. A pesquisa da FenaPRF coletou 2.881 respostas, 23,42% do efetivo da PRF, entre os dias 29 de abril e 2 de maio.

O levantamento ainda traz que 44,8% dos entrevistados estão dispostos a participar de uma grande marcha nacional em Brasília no dia 1º de junho.

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