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Embraer cai 5% após declaração de Bolsonaro sobre fusão com Boeing

Apesar de afirmar que a operação ‘seria muito boa’, o presidente da República levantou dúvida sobre a última proposta do acordo, citando preocupação com a proteção do patrimônio nacional

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Foto do author Luciana Dyniewicz
Por Felipe Frazão , Julia Lindner e Luciana Dyniewicz
Atualização:

BRASÍLIA - As ações da Embraer lideraram na sexta-feira, 4, as quedas da B3, a Bolsa paulista, com retração de 5,1%, após o presidente Jair Bolsonaro declarar preocupações sobre o acordo fechado pela companhia com a americana Boeing.

Depois da cerimônia de posse do novo comandante da Aeronáutica, na Base Aérea de Brasília, Bolsonaro afirmou, em breve entrevista a jornalistas, que, segundo a última versão do contrato, informações tecnológicas podem ser repassadas à empresa de aviação americana. O presidente não detalhou que tipo de dados poderiam ser acessados, mas falou em proteção do patrimônio nacional.

Bolsonaro falou em proteção do patrimônio nacional Foto: Roosevelt Cassio/Reuters

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“Seria muito boa essa fusão, mas não podemos... Como está na última proposta, daqui a cinco anos, tudo pode ser repassado para o outro lado. A preocupação nossa é essa. É um patrimônio nosso, sabemos da necessidade dessa fusão, até para que ela (Embraer) consiga competitividade e não venha a se perder com o tempo”, afirmou.

A Embraer aceitou vender 80% de sua divisão de aviação comercial, a principal da empresa, para a Boeing. Um dispositivo do acordo permite que a fabricante de aeronaves brasileira possa mais adiante vender os 20% restantes à companhia americana. O governo de Michel Temer via essa cláusula com restrições, pois a participação na área comercial – a mais lucrativa – é importante para a manutenção do braço de defesa, que apresenta resultados mais modestos.

O acordo, que já elevou o valor da divisão comercial da Embraer de US$ 4,75 bilhões para US$ 5,26 bilhões, envolve ainda uma parceria da Embraer com a Boeing para comercialização do cargueiro brasileiro KC-390, mas exclui os negócios da empresa brasileira nas áreas de aviação executiva e de defesa.

“Os comentários do Bolsonaro pesam um pouco. Qualquer ruído ou preocupação com a última proposta de fusão mexem na ação, embora não atrapalhem (o acordo)”, disse o analista da Guide Investimentos Rafael Passos. “Não vejo nenhum motivo para ele barrar a operação, mas é um ruído que mexe no (preço do) papel.”

No fim do ano passado, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3) derrubou uma segunda liminar que suspendia a negociação.

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Mudança

Essa foi a primeira vez em que Bolsonaro hesitou em relação ao acordo. Em novembro, o então presidente eleito afirmou ser favorável à venda da companhia brasileira. O vice-presidente, general Hamilton Mourão, também no fim do ano passado, havia comentado que o aval à transação poderia sair rapidamente. A afirmação foi feita ao Estado após o documento com detalhes do acordo ser entregue pelas empresas ao Palácio do Planalto, em 17 de dezembro. “O negócio pode ser decidido de comum acordo (entre o então presidente Michel Temer e Bolsonaro, que ainda não havia assumido o cargo). Se os dois conversarem e concordarem. Aí, já podem fechar isso”, disse Mourão à época.

Segundo fontes próximas à negociação, a Embraer esperava que o aval fosse dado ainda por Temer. Do lado da Boeing, a aposta era que só sairia no governo Bolsonaro. Executivos da companhia brasileira, porém, têm mantido contato com a equipe do novo presidente desde as eleições. Até agora, a empresa não foi informada de nenhum entrave na avaliação do governo, apurou o Estado. Procuradas, Embraer e Boeing não comentaram o assunto.

Dono de uma ação especial na Embraer, a chamada “golden share”, o governo federal tem até 16 de janeiro para chancelar o acordo. Depois, a venda ainda precisa ser aprovada por acionistas e órgãos antitrustes. Há uma preocupação com possíveis complicações no tribunal da China. No Brasil, nos EUA e na Europa, a tendência é que o aval saia rapidamente.

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