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Bolsonaro sobre diretoria da Petrobras: se ficar mais 6 meses, podem ter política de continuísmo

Irritado com alta dos combustíveis em ano eleitoral, Bolsonaro demitiu dois presidentes da estatal este ano

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Por Eduardo Gayer
Atualização:

BRASÍLIA - Após trocar o comando da Petrobras, o presidente Jair Bolsonaro deu indicações nesta quinta-feira de que realizará mudanças também na diretoria da estatal, como já antecipado pelo Estadão/Broadcast. “Se ficar mais seis meses, eles podem ter uma política de continuísmo do que vinha acontecendo”, declarou Bolsonaro a jornalistas na saída de uma igreja em Brasília.

Irritado com a alta do preço dos combustíveis em ano eleitoral, o presidente demitiu Bento Albuquerque do Ministério de Minas e Energia e José Mauro Coelho da presidência da Petrobras. Para a pasta, nomeou Adolfo Sachsida, que integrava o Ministério da Economia; para a estatal, indicou Caio Paes de Andrade, outro braço-direito de Paulo Guedes.

Petrobras terá seu quarto presidente na gestão Jair Bolsonaro Foto: Paulo Whitaker/Reuters - 01/07/2017

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A mudança na cúpula da estatal abre caminho para mudanças na diretoria. Como mostrou reportagem do Estadão/Broadcast, o governo deve indicar Iêda Cagni para presidir o conselho de administração da Petrobras e alterar a composição das outras cinco vagas a que tem direito na composição do conselho.

Bolsonaro reiterou críticas à Petrobras nesta quinta-feira e disse que o Brasil paga R$ 6 bilhões em fundo de pensão para “velhinhos norte-americanos”, em referência à distribuição de dividendos da empresa, que tem ações negociadas em bolsa aqui e no exterior. “Quem vendeu os papéis para minoritários? O governo Lula”, declarou o presidente, dando novo tom eleitoral para o impasse dos combustíveis.

“Os minoritários têm poder enorme dentro da Petrobras, não querem saber e a gasolina está a R$8 e o diesel a R$ 7. Eles querem ganhar dinheiro, virou Petrobras Futebol Clube, até o fim social previsto na constituição não é cumprido. É a petrolífera que mais lucra no mundo”, disparou Bolsonaro, que chamou o lucro da Petrobras de “estupro”.

A União é o maior acionista da empresa. Isso significa que recebe a maior parte dos dividendos da estatal, que vão direto para o caixa do governo. Como mostrou o Estadão, entre janeiro de 2019 (início do governo Bolsonaro) e março deste ano, a Petrobras já injetou nos cofres federais R$ 447 bilhões, levando-se em conta, além dos dividendos, os impostos e os royalties pagos.

"Carta branca para Sachsida"

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O presidente Jair Bolsonaro afirmou que tem o direito de propor mudanças no Conselho e na diretoria da Petrobras por ser o acionista majoritário e destacou que o novo ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, tem carta branca. 

"Ninguém é dono da Petrobras, eu sou acionista majoritário e tenho direito via Ministério de Minas e Energia de propor a mudança não só do conselho, bem como da diretoria”, afirmou o presidente a jornalistas. "O meu feito é dar porteira fechada, Sachsida, você tem carta branca”, acrescentou. 

O chefe do Executivo ainda voltou a dizer que é favorável a privatizar a Petrobras, mas com “critérios”, e negou que o governo trabalhe com a possibilidade de criar um subsídio aos combustíveis, como já havia sinalizado o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira. 

“Nós trabalhamos para não haver desabastecimento de combustíveis. Queremos alternativa que não haja desabastecimento, quenão mexa no dólar e nos contratos”, destacou o presidente, segundo quem Bento Albuquerque “pediu para sair” do governo. 

Albuquerque, no entanto, foi demitido do Ministério de Minas e Energia - e substituído por Adolfo Sachsida - em meio à revolta de Bolsonaro com os sucessivos reajustes dos combustíveis pela Petrobras em ano eleitoral.

Interferência

O presidente Jair Bolsonaro negou nesta quinta-feira que seu governo intervenha ou vá interferir na Petrobras. “Não vou interferir na Petrobras, porque o PT já fez no passado. A interferência levou a um endividamento monstro”, declarou a jornalistas, mesmo após trocar o comando da estatal apenas 40 dias após uma troca anterior. 

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Bolsonaro já demitiu três presidentes da Petrobras por irritações com reajustes dos combustíveis, que obedecem a chamada política de Preço de Paridade de Importação (PPI). 

De acordo com o presidente, ele não sabia o que é PPI, mesmo criticando a política com frequência. “Mandei levantar o que é PPI de verdade, eu não tinha informações”, afirmou na saída de uma igreja em Brasília. “Eu queria saber se as nossas refinarias estão trabalhando com capacidade máxima, eu não tinha informações”

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