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Bolsonaro admite interferência na política de preço da Petrobrás

Ele disse que se surpreendeu com o reajuste anunciado para o diesel, de 5,7%, e que se preocupa com os caminhoneiros; ações da companhia têm perdas na Bolsa de São Paulo

Foto do author Julia Lindner
Por Renato Onofre e Julia Lindner
Atualização:

MACAPÁ E SÃO PAULO - O presidente Jair Bolsonaro admitiu, nesta sexta-feira, 12, que determinou a suspensão do reajuste de 5,7% no preço do diesel (o litro passaria de R$ 2,1432 para R$ 2,2662), anunciado na quinta-feira pela Petrobrás. O novo valor começaria a ser cobrado nesta sexta, mas vai ficar suspenso até que os técnicos da estatal justifiquem ao presidente a necessidade do aumento.

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“Eu liguei para o presidente sim. Me surpreendi com o reajuste de 5.7%. Não vou ser intervencionista. Não vou praticar a política que fizemos no passado, mas quero os números da Petrobrás”, afirmou o presidente.

As ações da Petrobrás, que já haviam começado o dia em queda na Bolsa de São Paulo e em Nova York, aceleraram a tendência negativa após as declarações de Bolsonaro. Às 13h15, as ações ON caíam 7,19%, mas chegaram a perder 7,50%. Já os papéis PN recuavam 6,86%. Pouco antes das declarações de Bolsonaro, as ações perdiam cerca de 5%.

O presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia de celebração dos 100 dias de governo, no Palácio do Planalto. Foto: Dida Sampaio/Estadão

Se fosse efetuada, a alta divulgada na quinta-feira seria a maior desde que os presidentes da República, Jair Bolsonaro, e da petroleira, Roberto Castello Branco, assumiram os cargos. Até então, a maior alta tinha sido de 3,5%, registrada no dia 23 de fevereiro. Com exceção desses dois casos, os preços variaram em intervalos de 1% a 2,5%. Para Bolsonaro, o valor não corresponde com a inflação projetada para o período.

“Na terça-feira, convoquei todos da Petrobrás para me esclarecer o porquê dos 5.7 quando a inflação projetada para este ano está abaixo de 5. Só isso e mais nada. Se me convencerem, tudo bem. Se não me convencerem, vamos dar a resposta adequada a vocês”, afirmou.

Em março, a Petrobrás se comprometeu a congelar o preço do óleo diesel nas refinarias por pelo menos 15 dias. Por causa da política de preços dos combustíveis da Petrobrás, os caminhoneiros pararam o País, em maio do ano passado. Neste início de ano, com o petróleo em alta, o diesel voltou a ser uma ameaça e mais uma vez a classe avalia cruzar os braços.

O problema começou ainda na gestão do ex-presidente da companhia Pedro Parente que, para recompor o caixa, determinou a revisão diária da tabela nas refinarias, em linha com o mercado internacional. Sem saber o preço que pagaria pelo combustível no fim de uma viagem, os caminhoneiros entraram em greve e Parente perdeu o cargo.

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Além disso, para encerrar os protestos, o governo ainda subsidiou o combustível por um semestre. Apenas em 2019, o diesel voltou a ser reajustado periodicamente, semanalmente. Nesta terça, sob ameaça de nova greve, a Petrobrás anunciou que vai manter os preços inalterados por, pelo menos, mais uma semana.

“"Não sou economista, já falei. Eu estou preocupado com o transporte de carga, com os caminhoneiros. São pessoas que realmente movimenta as riquezas. Queremos um preço justo para o óleo diesel”, disse Bolsonaro.

Pela manhã, o vice, Hamilton Mourão, afirmou, em entrevista à CBN, que a determinação de Bolsonaro para a Petrobrás recuar do reajuste no diesel foi um caso "isolado". Também disse crer em bom senso e que não se repetirá a política de preços adotada do governo Dilma Rousseff (PT), que segurou os preços dos combustíveis para manter a inflação dentro da meta. 

Pressão dos caminhoneiros

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O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência monitora atentamente as movimentações de caminhoneiros em direção a uma nova greve desde o mês passado. O governo quer evitar o início de uma greve com receio de que tome as mesmas proporções da que ocorreu no ano passado, quando a paralisação durou 11 dias. O estopim, na época, foi justamente as altas do preço do diesel.

A avaliação de um integrante do governo é de que os caminhoneiros "conheceram a sua força" na última greve e que agora possuem maior poder de negociação.

Na manhã desta sexta, um dos principais líderes dos caminhoneiros, Wallace Landim, o Chorão, creditou ao presidente Bolsonaro e a ministros palacianos o recuo da Petrobrás sobre o aumento do diesel, na noite desta quinta-feira. "Isso prova que mais uma vez o presidente está do nosso lado, ao lado da categoria. É um comprometimento que ele teve com a categoria e que a gente teve apoiando a sua candidatura."

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Ele afirmou que os ministros da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e da Secretaria-Geral, Floriano Peixoto, foram os responsáveis por levar o "problema" do aumento de preços para Bolsonaro na quinta. "Eu preciso agradecer num primeiro momento o ministro Onyx (Lorenzoni, da Casa Civil) e o ministro Floriano Peixoto (da Secretaria-Geral), que levaram o problema (do aumento de preços) para o nosso presidente", contou ao Broadcast Político.

"A gente fica muito feliz, porque vê que ele (Bolsonaro) está olhando por nós. Só que a gente também sabe que não é uma situação muito fácil, vem chumbo grosso por aí, pode ter certeza, porque querendo ou não interfere na política de preços (da Petrobrás)", declarou.

Greve dos caminhoneiros, em maio, foi um dos motivos apontados para revisão do PIB Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO
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Mal-estar

O conselho de administração da Petrobrás recebeu mal a notícia de que a empresa voltou atrás na decisão de reajustar o preço do diesel, segundo fonte. 

Aos conselheiros, Castello Branco tentou passar mensagem de segurança, de que não está fugindo à linha de gestão que prometeu adotar - de independência e prioridade ao retorno dos investimentos.

Em resposta aos questionamentos de membros do colegiado, disse que se explicará pessoalmente na próxima reunião do conselho, marcada para o dia 24 deste mês.

Esta é a segunda vez em poucos dias que membros do colegiado demonstram insatisfação com decisões tomadas pela diretoria. A primeira foi com o tamanho do crédito acertado com a União pela cessão onerosa. O valor de cerca de US$ 9 bilhões foi considerado baixo por alguns deles.

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