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Economista

Opinião|Na guerra entre Rússia e Ucrânia, Bolsonaro deixou claro que lado escolheu

O presidente brasileiro chamou Vladimir Putin de 'amigo' e disse ter 'valores comuns' com o líder russo durante a viagem feita neste momento inoportuno

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Atualização:

Quando a pandemia começou, Bolsonaro e seus ministros subestimaram seu impacto na vida dos brasileiros. Temos hoje mais mortos e mais desempregados do que o esperado por membros do governo. Sucessivamente, incitaram aglomerações, recomendaram remédios comprovadamente ineficazes, tentaram boicotar a vacinação, fizeram pouco-caso dos brasileiros que sofriam com a covid-19 e de seus familiares e deixaram um vácuo em programas sociais que poderiam amortecer os impactos da crise econômica gerada pela pandemia.

É costume de Bolsonaro estar do lado errado da história. Em 1994, ele votou contra o Plano Real – um plano que salvou o País da inflação descontrolada. Em 1995 e 1996, ele também votou contra PECs importantes que acabavam com o monopólio estatal sobre o petróleo e telecomunicações.

Bolsonaro posa ao lado do líder russo, Vladimir Putin; presidente brasileiro deixou claro, mais uma vez, que lado escolheu. Foto: Oficial Kremlin/PR - 16/2/2022

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Desta vez, não foi diferente. Bolsonaro visitou a Rússia enquanto Putin escalava seu discurso antiliberal. Ele disse que, “coincidência ou não”, as tropas russas haviam recuado depois de sua visita a Moscou. Ontem, o ministro do Turismo, Gilson Machado, afirmou que Bolsonaro levou uma mensagem de paz ao presidente russo, “mas depende do Putin se vai ouvir ou não”. Também ontem o presidente saiu em mais uma de suas motociatas. Episódios que são uma mistura de fake news, pós-verdades e realismo fantástico repulsivo. 

O Brasil recentemente recebeu fluxos estrangeiros. Parece ter havido a percepção de que o diferencial de juro tornou o País mais atraente. É difícil acreditar que esta quase animação possa ser sustentada em um ambiente de guerra na Europa

Guerras despertam o horror. Com a Ucrânia, não deve ser diferente. Sempre é possível racionalizar uma guerra de escolha apresentando-se motivos econômicos e políticos para seu acontecimento. No entanto, um conflito militar se materializa também por conta da personalidade do líder que a iniciou. 

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O presidente russo, Vladimir Putin, revela em seus discursos uma mentalidade imperialista. Um corolário disto é o autoritarismo. Ele desrespeita Estados-Nação, normaliza anexações de territórios, atua contra direitos humanos e boicota ideais liberais. O presidente brasileiro deixou claro, mais uma vez, que lado escolheu. Chamou Putin de “amigo” e disse ter “valores comuns” com o líder russo durante a viagem feita neste momento inoportuno. O Brasil é um ativo de risco pela economia política e pela personalidade do seu líder. 

*PROFESSORA DO INSPER, PH.D. EM ECONOMIA PELA UNIVERSIDADE DE NOVA YORK EM STONY BROOK

Opinião por Laura Karpuska
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