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Professor da PUC-Rio e economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo escreve quinzenalmente

Opinião|Bom desempenho do mercado de trabalho é consequência da demanda por serviços destinado a famílias

Processo de retomada da atividade nos setores de comércio e serviços está apenas no começo e é fundamental para repor ao menos parte da renda de grupos que estão na base da pirâmide de renda

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Atualização:

Após um início de ano difícil, com a destruição de 540 mil postos de trabalho no trimestre janeiro-março, os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC) começaram a reagir no trimestre terminado em maio, quando foram gerados 785 mil postos de trabalho. A partir daí, a geração de postos de trabalho mostrou forte aceleração, com 2,1 milhões no trimestre terminado em junho; 3,1 milhões no terminado em julho; e 3,5 milhões de postos de trabalho no trimestre terminado em agosto. Com isso, a taxa de desemprego apresentou forte queda, de 14,7% para 13,2% da força de trabalho.

No trimestre terminado em agosto, do total de 3,5 milhões de postos de trabalho gerados, 2,4 milhões o foram nos setores de comércio e serviços Foto: Werther Santana/Estadão

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Este bom desempenho do mercado de trabalho é consequência do forte aumento da demanda por serviços, principalmente serviços destinados a famílias (bares, restaurantes, empregadas domésticas, comércio de rua, entre outros) que exigem trabalho presencial e que têm grande concentração de trabalho informal, que começaram a voltar à normalidade com a melhora da pandemia e redução das restrições à mobilidade urbana e ao distanciamento social.

No trimestre terminado em agosto, do total de 3,5 milhões de postos de trabalho gerados, 2,4 milhões o foram nos setores de comércio e serviços, sendo 2,3 milhões de trabalhadores sem carteira assinada e trabalhadores por conta própria. Como estes foram os grupos que mais sofreram com a pandemia, a volta da atividade do setor de serviços é fundamental para repor ao menos parte da renda destes grupos que estão na base da pirâmide de renda.

Este processo de retomada da atividade nos setores de comércio e serviços está apenas no começo. Caso a pandemia continue na trajetória iniciada em junho, no final de 2021 e início de 2022 todas as medidas de distanciamento social e restrição à mobilidade urbana deverão ter sido removidas, o que vai gerar grande melhora na sensação de bem-estar da população e forte crescimento da demanda por serviços.

A decisão de aumentar o valor do teto de gastos pode mudar este cenário, principalmente a partir de 2022. Essa decisão gerou forte reação negativa dos investidores, desvalorização da taxa de câmbio, aumento das taxas de juros e queda dos preços das ações. O resultado será mais inflação, queda dos salários reais e aceleração do processo de aumento da taxa de juros pelo Banco Central, redução do crescimento da demanda e da atividade. Qual destes fatores vai dominar? 

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* PROFESSOR TITULAR DO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DA PUC-RIO (APOSETNADO), É ECONOMISTA-CHEFE DA GENIAL INVESTIMENTOS

Opinião por José Márcio Camargo
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