Bombardeado com perguntas sobre orçamento secreto, Guedes silencia

O ministro passou quase quatro horas em audiência na Câmara dos Deputados sem falar sobre o esquema montado pelo governo para conquistar apoio por meio de emendas de R$ 3 bilhões, revelado pelo Estadão

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Por Lorenna Rodrigues e Eduardo Rodrigues
2 min de leitura

BRASÍLIA - O ministro da Economia, Paulo Guedes, passou quase quatro horas em audiência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados nesta terça-feira, 11, sem responder a perguntas dos parlamentares sobre o esquema montado pelo governo para conquistar apoio por meio de um orçamento secreto de R$ 3 bilhões, revelado pelo Estadão

O ministro foi confrontado por parlamentares da oposição sobre o “orçamento secreto”, mas não respondeu. Foto: Edu Andrade/ME

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Guedes foi questionado repetidas vezes por deputados de oposição, mas não tocou no tema diretamente. Provocado sobre o assunto, Guedes retrucou dizendo que "grandes negócios nas estatais e escândalos" eram uma especialidade de governos anteriores. "Negócios e escândalos em estatais não são especialidades deste governo, são de outros. Parece que isso não nos atingiu ainda, vamos ver", afirmou.

O ministro foi confrontado por parlamentares da oposição sobre o “orçamento secreto”. No ano passado, o governo terceirizou a aliados a decisão onde serão aplicados R$ 3 bilhões que, contrariando a lei, puderam escolher onde os recursos de emendas de relator (RP9) seriam aplicados, inclusive na compra de tratores superfaturados. Esse tipo de emenda foi criada no atual governo. O caso foi apelidado de “tratoraço” nas redes sociais, depois de a reportagem mostrar que parte do dinheiro foi usado para comprar equipamentos agrícolas com preço acima do de mercado.

“Isso é crime de responsabilidade, é prevaricação, desvio de finalidade e improbidade administrativa. Quero saber por que vossa excelência não vetou esse arranjo de corrupção, que é a compra de votos que está sendo feita aí”, questionou o deputado Ivan Valente (PSOL-SP).

Guedes, no entanto, silenciou sobre o assunto. Outros deputados insistiram no tema, que continuou a ser ignorado pelo Ministro da Economia.

“Não adianta oferecer trator, cargos, regalias. Não vamos permitir que uma PEC inconstitucional (da reforma administrativa) avance”, acrescentou o deputado Zeca Dirceu (PT-PR).

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O tema também pautou questionamentos da deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS). “O senhor vem falar que servidor público tem 20 carros, eu desconheço. Mas conheço presidente que come picanha de R$ 1.799 o quilo, conheço presidente que tira férias de R$ 2 milhões, e conheço um orçamento que o senhor aprovou de R$ 3 bilhões para comprar parlamentar com trator superfaturado”, comparou a parlamentar.

Mais cedo, Guedes chegou a declarar que a mistura entre política e economia está no cerne dos grandes escândalos de corrupção da história brasileira. “Quanto mais influência política o equipamento econômico tiver, maior o desafio da corrupção. Não pode quem controla o poder político, também controlar o poder econômico. Essa degeneração das práticas vem da mistura de política com economia”, avaliou.

Sob protestos da oposição, a presidente da comissão, deputada Bia Kicis (PSL-DF) encerrou a audiência pouco antes das 14h, mesmo sem parlamentares inscritos terem conseguido fazer perguntas para o ministro.

“É o ministro da morte, está com medo de ouvir os congressistas”, reclamou o deputado Paulo Teixeira (PT-SP). “Não concedi a palavra a mais ninguém, peço respeito e encerro os trabalhos”, respondeu a deputada.