A segunda maior aeronave cargueira no mundo, a Antonov 124, chegou ao Brasil no sábado com uma carga especial para a fabricante de autopeças Bosch. Vinda dos Estados Unidos, trouxe 115 máquinas para a produção de injetores e bicos de injetores usados em caminhões.
Os equipamentos vieram de uma unidade do grupo nos EUA pois a matriz alemã decidiu concentrar a maior parte da produção global desse componente no Brasil. A filial com sede em Campinas (SP) vai investir R$ 140 milhões para preparar a fábrica para a produção que vai atender os mercados nacional e externo.
O grupo será responsável pelo abastecimento de injetores da marca na Europa, América do Sul, Índia e principalmente EUA. A produção terá início em meados do ano e mais da metade será exportada.
O presidente da Bosch do Brasil, Besaliel Botelho, afirmou que a nacionalização da maior parte de componentes automotivos atualmente só é viável se também atender outros países. “Com produção só para o mercado local é difícil ter retorno”, disse ele nesta segunda-feira, 8, em seminário online promovido pela Autodata Editora.
Ele falou da dificuldade atual em importar chips para a produção, item que está em falta no mundo todo, e lembrou que o Brasil perdeu a oportunidade de ter esse produto feito no País na década de 90, quando o governo proibiu as empresas de investirem em sistemas digitais. “Os fabricantes foram todos para a Ásia e agora estamos sofrendo com a falta”.
Segundo o executivo, o Brasil poderia exportar mais produtos, mas a falta de competitividade do País impede esse movimento. “Precisamos ter uma política industrial tarifária e acordos globais e laterais”, lembrou ele, acrescentado que “exportar impostos é a coisa mais ridícula que existe”. Cálculos das montadoras indicam que o automóvel exportado do Brasil embute, em média, 15% de impostos residuais, situação que não ocorre em outros países.
Carros elétricos com atraso
O executivo afirmou que o mercado brasileiro não vai caminhar tão rápido quanto outros países, principalmente os mais desenvolvidos, para a eletrificação dos veículos, em parte porque o País já tem o etanol, que atende exigências de redução de emissões.
“Vamos ter carros elétricos e a célula de combustível, mas em velocidade mais lenta porque não vamos ter todo o dinheiro necessário para investimentos para entrarmos de cara porque o custo da eletrificação é altíssimo”, disse Botelho.
Mesma opinião tem o presidente da General Motors América do Sul, Carlos Zarlenga, para quem o País passará por uma transição antes de chegar aos veículos eletrificados. A GM americana já anunciou que, a partir de 2035 só venderá veículos elétricos, mas essa estratégia não inclui a região. “Se o Brasil e a América do Sul quiserem continuar no jogo (da produção de carros), ainda têm muitas coisas a fazer.”
Zarlenga calcula que os países da parte pobre do mundo, como América do Sul, África e parte da Ásia representam cerca de 30% do mercado global de veículos. Ele vê chances de o Brasil liderar o desenvolvimento de carros específicos para esses mercados na fase intermediária até a eletrificação.
Segundo ele, para a matriz continuar interessada em investir no País é fundamental mostrar que há oportunidade de crescimento de mercado e de rentabilidade para o futuro.
Ressaltou ainda que a indústria não pode ter mais falta de rentabilidade. “As montadoras perderam muito dinheiro no Brasil, por isso ocorreram os reajustes de 15% a 20% nos preços dos carros em 2020 e este ano os aumentos vão continuar”, disse Zarlenga. “Não é que o carro aqui é mais caro, é que a moeda compra menos por causa da desvalorização do real.”