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Brasil abre 394 mil empregos formais em outubro, melhor saldo para o mês em 29 anos

Segundo o Ministério da Economia, no entanto, mesmo com o crescimento das vagas com carteira assinada nos últimos três meses, ainda não houve recuperação das perdas registradas entre março e maio deste ano

Foto do author Lorenna Rodrigues
Por Lorenna Rodrigues (Broadcast)
Atualização:

BRASÍLIA - A economia brasileira gerou 394.989 empregos com carteira assinada em outubro, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados nesta quinta-feira, 26, pelo Ministério da Economia. Foi o melhor resultado para o mês desde o início da série histórica, em 1992. Até então, o melhor valor para esse período havia sido registrado em 2009 – quando foram abertos 230.956 empregos formais.

Apesar disso, mesmo com o crescimento dos empregos formais nos últimos meses, ainda não houve recuperação de todas as perdas registradas entre março e maio deste ano, no auge da pandemia de covid-19 – quando foram perdidos 1,594 milhão de empregos. Até outubro, o saldo ainda está negativo em 171.139.

O ministro Paulo Guedes comemorou nesta quinta os resultados do mercado formal de trabalho. Foto: Dida Sampaio/Estadão

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O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o País pode terminar o ano com perda zero de empregos com carteira assinada. Mas ele não deu projeções para os próximos meses para sustentar sua estimativa. Historicamente, dezembro registra fechamento de vagas.

“A economia continua retomando em 'V' e gerando empregos em ritmo acelerado. Reagimos com resiliência, soubemos fazer distanciamento social e, ao mesmo tempo, manter a economia girando”, afirmou ele.

Guedes deixou a entrevista coletiva de apresentação dos dados sem responder perguntas, como tem feito nessas ocasiões. Após críticas de que a equipe econômica estaria sem rumo, disse que isso não ocorreu. “Não perdemos o rumo nesta recessão, estamos nos levantando e criando emprego”, completou. Ele agradeceu ao presidente Jair Bolsonaro por ter mantido a equipe econômica que, segundo ele, foi várias vezes ameaçada, e disse estar bastante satisfeito.

O secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Bianco, ecoou a fala do ministro. “A economia está em franca retomada, o Caged e os empregos estão voltando em 'V', mais até do que a nossa expectativa. O mês de dezembro é um mês historicamente negativo, mas temos a influência do benefício emergencial”, avaliou ele, em referência ao pagamento do auxílio emergencial – que, a princípio, deixará de ser feito a partir de janeiro de 2021.

O secretário de Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Dalcolmo, acrescentou que o governo não espera um comportamento do Caged em 2020 igual ao de outros anos. Segundo ele, se normalmente os meses de dezembro têm fechamento de cerca de 300 mil vagas, este ano o comportamento pode ser diferente.

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O Sudeste foi a que registrou o maior saldo positivo (186.884), seguida pelo Sul (92.932) e Nordeste (69.519). No Centro-Oeste foram abertas 25.024 vagas e, no Norte, 20.658 postos de trabalho. Houve saldo positivo de 156.766 contratações nas empresas de serviços - setor que mais abriu vagas. No comércio, o resultado foi positivo em 115.647 vagas e na indústria, em 86.426. Na construção, foram recuperadas 36.296 vagas no mês passado. A agricultura registrou o fechamento de 120 vagas. 

PIB

O superávit do Caged em outubro é compatível com um crescimento de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) no quarto trimestre em relação ao terceiro, calcula o Banco ABC Brasil. “Quando traduzimos o ritmo do Caged para o PIB oficial, os números sugerem algum viés de alta para o PIB do quarto trimestre”, afirma o economista sênior Daniel Xavier, em nota a clientes. O ABC Brasil prevê, atualmente, crescimento de 1,2% do PIB em outubro a dezembro.

Na avaliação do economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo, o saldo do Caged de outubro retrata um momento positivo, mas o governo precisará reduzir a incerteza fiscal no País para que resultados como esse se repitam.

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“O cenário positivo exige que o Orçamento de 2021 obedeça ao teto de gastos (regra que limita o crescimento dos gastos à inflação), que em 2021 o País aprove um conjunto de reformas capaz de fazer com que a questão fiscal deixe de ser uma nuvem pesada sobre a economia brasileira”, afirma Camargo. “Sem resolver isso, não devemos esperar um ano positivo em 2021.”

O comportamento do Caged até aqui mostra que é possível a concretização de um cenário no qual a renda do trabalho possa substituir o fim do auxílio emergencial, de acordo com o economista. Camargo reforça o resultado positivo do setor de serviços, de criação de 156.766 vagas, e a disseminação do resultado positivo entre todos os setores da atividade.

Ainda assim, quando se considera o total da força de trabalho no País (e não apenas a abertura de novas vagas formais), a tendência é que a taxa de desemprego continue em movimento ascendente e encerre 2020 próxima de 16%, diz o economista. “Mas é uma estatística que representa relativamente pouco, porque esse desemprego já existe e só vai começar a aparecer na estatística”, afirma.

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Já na avaliação do economista Luka Barbosa, do Itaú Unibanco, o resultado de outubro indica que o pior momento do emprego formal já ficou para trás na crise provocada pela covid-19. Mas ele destaca que o estoque de emprego segue abaixo do nível pré-pandemia. De acordo com o ajuste sazonal do Itaú, o nível de emprego formal no País com o dado de outubro é de 38,665 milhões, contra 39,445 milhões em setembro. Barbosa afirma que a direção é positiva, mas o ano ainda deve fechar com o estoque aquém do patamar de fevereiro. / COLABOROU CÍCERO COTRIM e THAÍS BARCELLOS

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