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Brasil agora exporta máquina de raio-x

Pequenas empresas brasileiras desenvolvem tecnologia de equipamentos médicos, atraem investidores e exportam

Por Renato Cruz
Atualização:

O fornecimento de componentes para celulares é um dos maiores negócios da Texas Instruments, fabricante americana de chips. Apesar da pujança do mercado de telefonia móvel brasileiro, esse não é um dos setores prioritários da subsidiária local da empresa. "No Brasil, praticamente não há projetos de celulares", explicou Antonio Motta, diretor-geral da Texas Instruments para a América do Sul. "Os projetos são feitos lá fora. A área médica tem uma importância relativa maior para nós." No ano passado, o mercado brasileiro de equipamentos médicos movimentou US$ 3,96 bilhões, segundo a Abimo, associação do setor. O mercado, no entanto, tem uma participação muito grande de equipamentos importados. Em 2008, as importações somaram US$ 2,735 bilhões. Esses números contrastam com o perfil das empresas do setor: 92,8% têm capital nacional e 76,9% são micros, pequenas ou médias. "Trabalhamos com algumas indústrias para substituir importados", afirmou Motta. "Existe interesse do governo de incentivar a produção local de equipamentos como tomógrafos e ultrassons." As empresas brasileiras de equipamentos médicos começaram a surgir na década de 1960. Mas, nos últimos anos, tem havido um processo de renovação tecnológica, muitas vezes no entorno de universidades, que tem atraído interesse de investidores. A ideia é aproveitar o potencial de equipamentos desenvolvidos no Brasil, mais simples e mais baratos, em outros mercados emergentes. Fundada em 1982, a Viotti passou os últimos três anos como empresa do Centro Incubador de Empresas Tecnológicas (Cietec), na Universidade de São Paulo. "Nós desenvolvemos lá um projeto de atualização de equipamento", explicou Claudia Lemme, diretora da empresa. A Viotti criou uma versão sem fio de seu equipamento de urodinâmica, que identifica distúrbios na bexiga e na uretra. A empresa planeja colocar o equipamento no mercado até o fim do ano, assim que sair o registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Com a nova tecnologia, a empresa conversa com investidores e estuda se lançar ao mercado externo. "O equipamento novo é muito mais compacto, e planejamos exportar", afirmou Claudia. "Ele vai ser muito competitivo em mercados da América Latina, Ásia e África." A gigante holandesa Philips fez duas aquisições recentes de empresas brasileiras de equipamentos médicos, e decidiu manter separadas as estruturas das companhias, reforçando as atividades de pesquisa e desenvolvimento. Em 2007, a Philips adquiriu a VMI, localizada de Lagoa Santa (MG), fabricante de aparelhos de raio X, e, no ano passado, comprou a Dixtal, de São Paulo, que produz monitores de beira de leito. "Fomos pioneiros", afirmou Daurio Speranzini, vice-presidente para a América Latina de Cuidados com a Saúde da Philips. "O movimento feito no Brasil foi copiado pelas unidades de outros países." Segundo o executivo, desde a aquisição, a VMI triplicou o faturamento. A empresa trouxe tecnologia da matriz para fazer a migração dos equipamentos da VMI do mundo analógico para o digital. "Os equipamentos digitais são três vezes mais produtivos que os analógicos." A Philips VMI começou a vender para o Chile, México e Argentina. "O objetivo é exportar 20% da produção até o meio de 2010", disse Speranzini, acrescentando que, antes da aquisição, a VMI praticamente não vendia para o exterior. Os fornecedores estrangeiros estão muito concentrados nos grandes hospitais particulares no Brasil. A rede pública e os hospitais menores muitas vezes não têm recursos para adquirir esses equipamentos, e optam por soluções nacionais. "O nosso preço é mais baixo, mas sem prejuízo da qualidade", explicou Albert Holzhacker, fundador da Dixtal e hoje superintendente da Philips. "Temos perspectiva de produzir para muitos países."

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