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Brasil ainda pode evitar a recessão

Por Alberto Tamer
Atualização:

Duas promessas de esperança em meio ao desânimo dos resultados negativos. Nos Estados Unidos, Obama promete reconstruir e recuperar a economia, em mais uma tentativa de tranquilizar os americanos. Bernanke foi mais realista. Se as medidas até agora aprovadas forem realmente executadas, a recessão poderá terminar neste ano. Já é alguma coisa. Tudo isso à sombra de um cenário cada vez mais sombrio, onde a confiança dos consumidores americanos cai aos índices mais baixos das últimas décadas, as exportações recuam, o consumo interno se retrai e o desemprego aumenta. Na Europa, é pior ainda. Diziam que a união entre os países em torno de um mercado interno comum era suficiente para proteger das crises que estavam afetando os outros países. Pura ilusão. A união de verdade não existe e a Europa está entrando em uma recessão mais profunda do que os Estados Unidos. Só perde para o Japão, em depressão. A Alemanha confirmou ontem uma queda do PIB de 2,8% no último trimestre de 2008, prevê recuo de 2,2% neste ano e a Grã-Bretanha caiu também 1,5%. São os piores resultados desde a 2ª Guerra. E, NÓS, COMO FICAMOS? Sem dúvida, melhor do que eles. O Brasil ainda tem condições de evitar a recessão.Mas é imperativo não cair na armadilha das comparações inconsistentes. Se confrontarmos nossos indicadores econômicos com os da Europa, Estados Unidos, Japão e outros emergentes, pode-se intuir que estamos bem. Já dissemos e vamos repetir sempre: Não é porque estamos melhor que estamos bem. Qualquer comparação é enganosa e ilusória. Esse acúmulo de resultados negativos e medidas urgentes, mas tardias, que demorarão meses para chegar à economia real, não poderá agravar o risco de o Brasil entrar em recessão? Infelizmente, sim. Temos alguns pontos de resistência, mas as pressões externas aumentam muito com a rapidez com que a recessão se propaga. Os riscos estão aumentando a cada dia. Tudo vai depender de o governo intensificar o que já está fazendo e da evolução da crise externa. MERCADO SEGURA, MAS... Nosso crescimento tem sido sustentado nos últimos anos por um mercado interno vigoroso, que já representa 60% do PIB. Esse vigor, porém,está sendo ameaçado pela desconfiança interna generalizada que leva ao temor dos assalariados por seus empregos, à cautela dos bancos e ao aumento da poupança em detrimento do consumo. Na verdade, as notícias da derrocada externa estão afetando os brasileiros. EXPORTAÇÕES E EMPREGO A recessão está minando outro ponto de resistência: as exportações. Elas vinham crescendo muito nos três últimos anos,mas estão em queda com a desaceleração mundial. Todos estão importando menos e tentando exportar mais. Terreno fértil para o protecionismo, que busca resultados imediatos e não soluções distantes. ESTÁVAMOS DESPREPARADOS? Sim, estávamos e estamos. Mas o aprofundamento da recessão externa num ritmo imprevisto está reduzindo a proteção das nossas barreiras e dos estoques para enfrentá-la. Um dos baluartes são as reservas cambiais, mas sem exportações e sem mais investimentos externos diretos elas não poderão crescer e terão dificuldade para ajudar a economia interna. Aqui, não estamos mal, mas não estamos bem. Já estivemos melhores. Esta é uma das últimas barreiras na defesa contra o agigantamento da onda externa, só que cada vez mais acuada pela saída de bilhões de dólares de investimentos financeiros. INVESTIMENTOS EXTERNOS Este é um ponto forte que vem nos beneficiando. E isso só se consegue mantendo a política econômica atual de estabilidade econômica, financeira e monetária. Há confiança das grandes empresas no Brasil. Algumas até estão fechando fábricas no exterior para abrir aqui! Prova é o recorde de US$ 40 bilhões de investimentos diretos no ano passado. O que está saindo é o investimento financeiro, não aquele que vem para gerar riqueza e empregos. Este veio e continua vindo. AGROPECUÁRIA SALVADORA Outro fator positivo é o bom desempenho da agropecuária, única que continua crescendo e batendo recordes na crise. Representa mais de 36% das exportações, 33% do PIB e 24% dos empregos no Brasil. Aqui, estamos bem. Certamente, neste ano haverá um consumo mundial menor, mas não de forma a reduzir muito o ritmo anterior de crescimento. Para evitar a recessão, é preciso manter a estabilidade financeira e econômica para continuarmos a ser o país menos exposto numa economia mundial que continuará afundando. Não há saída. E, felizmente, é o que o governo vem fazendo até agora. Falta apenas um pouco mais do sentido de urgência. *E-mail: at@attglobal.net

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